HOME > Entrevistas

“A milícia é uma estrutura dentro da estrutura do Estado e tem origem na ditadura militar”, diz sociólogo

José Claudio Alves diz que essa questão pode se desenvolver rapidamente e ficar fora de controle. “Basta olhar para os últimos anos de governo Bolsonaro”

(Foto: Reprodução)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Regina Zappa, para 247 - O sociólogo e professor da UFRJ Rural, José Claudio Alves, que estuda as milícias no Rio de Janeiro há mais de 30 anos, afirmou que a atuação das milícias não se deve à ausência do Estado ou a um Estado paralelo.

“As milícias são o próprio Estado. É uma estrutura dentro da estrutura do Estado”, disse ele em entrevista à TV 247. Segundo ele, são as milícias, e não o tráfico, o problema maior, assim como no Equador são os cartéis.

Alves disse que o Rio é um grande laboratório social. É assim desde a ditadura militar e o processo que vivemos agora vem sendo pavimentado em mais de seis décadas. “Este ano vamos lembrar, tristemente, os 60 anos da ditadura empresarial-militar e é nesse período que se iniciou o que vivemos agora. A ditadura eliminou politicamente a oposição, mas não foi suficiente. Criou, então, os grupos de extermínio, com tanta eficiência e poder, que nenhuma comissão da verdade foi capaz de apurar  suas ações. Esses grupos, criados durante a ditadura, montaram uma estrutura dentro do Estado.”

O Rio é como se fosse um piloto, um protótipo. “É no Rio que a coisa vai sendo construída, não se esqueçam que Bolsonaro é daqui”. Segundo o professor, o tráfico é o bode expiatório, onde se despeja toda a carga punitiva. “Sem querer minimizar o problema do tráfico, costumo dizer que eles implicam com a pulga e deixam passar o cachorro. A questão das milícias pode se desenvolver muito mais rapidamente e ficar fora de controle, basta olhar para os últimos quatro anos de governo Bolsonaro.”

Ao ser indagado sobre a disseminação das milícias pelo Brasil, Alves respondeu que em qualquer lugar do país onde exista Polícia Militar, Polícia Civil e estrutura de Segurança Pública nos moldes que temos até hoje significa que em qualquer desses lugares esse cenário pode existir.

“Veja o Equador. Lá há uma tragédia nacional em função da penetração do tráfico nas estruturas do Estado e do desmonte neoliberal que o país sofreu desde a saída de Rafael Correa. Além disso, o abandono da população e das políticas públicas e o comprometimento de figuras políticas, aqui com a milícia e lá com os cartéis, mostram que é aí que a coisa se dissolve e perdemos o controle.”

Alves relembra que os grupos de extermínio se aliaram ao jogo do bicho no Rio, com o qual os militares, na época da ditadura, tinham um acordo.

A condição para atuarem livremente, segundo Alves, era que eles enviassem informação sobre as ruas, já que havia, praticamente, uma banca em cada esquina da cidade. “O jogo do bicho foi o maior esquema de monitoramento pessoal da nossa história. A aliança com grupos de extermínio, mais a informação, resultava em muitos assassinatos. Essa estrutura funcionava assim: os policiais e bombeiros matavam, a estrutura política justificava e empresários e comerciantes davam suporte financeiro. Foi um grande ensaio do final dos anos 60 até o início 80. Mais tarde, esses grupos começaram a fortalecer a estrutura de poder começando a se eleger vereadores, depois prefeitos. E evoluíram para o que hoje chamamos de milícias.”

Alves diz ainda: “Para mim, que estudo esses grupos armados, o que temos aqui não é uma democracia. Ou, é a que temos. Precisamos discutir toda a dimensão da ação humana, da liberdade e autonomia dos seres humanos na sociedade.” E buscar uma solução.

Assista na íntegra à entrevista dada por José Claudio Alves ao programa “Mario Vitor e Regina Zappa”:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: