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O desaparecido político mais jovem do Brasil

Jornalista e sociólogo Renato Dias lança livro “O menino que a ditadura matou” em noite de autógrafos nesta terça-feira, às 18 horas, na Assembleia Legislativa de Goiás; obra conta a história de Marcos Antônio Dias Batista, militante da VAR-Palmares (mesma organização de esquerda da presidente Dilma Rousseff) que desapareceu em maio de 1970, e de sua mãe, Dona Santa, morta em 2006 em um acidente automobilístico quando regressava de audiência com o então vice-presidente e ministro da Defesa José Alencar para tentar saber do paradeiro do filho levado pelos militares; 45 anos depois do desaparecimento, família ainda tenta encontrar os restos mortais do estudante

Jornalista e sociólogo Renato Dias lança livro “O menino que a ditadura matou” em noite de autógrafos nesta terça-feira, às 18 horas, na Assembleia Legislativa de Goiás; obra conta a história de Marcos Antônio Dias Batista, militante da VAR-Palmares (mesma organização de esquerda da presidente Dilma Rousseff) que desapareceu em maio de 1970, e de sua mãe, Dona Santa, morta em 2006 em um acidente automobilístico quando regressava de audiência com o então vice-presidente e ministro da Defesa José Alencar para tentar saber do paradeiro do filho levado pelos militares; 45 anos depois do desaparecimento, família ainda tenta encontrar os restos mortais do estudante (Foto: Realle Palazzo-Martini)

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247 - Durante 36 anos, a assistente social aposentada Maria de Campos Baptista (Dona Santa) vasculhou cadeias espalhadas pelo Brasil, recepcionou exilados políticos, dialogou com generais e agentes dos órgãos de informação da ditadura civil e militar de 31 de março de 1964 e, em um ato de desespero, consultou o médium Chico Xavier. Tudo para encontrar o seu filho Marcos Antônio Dias Batista, um estudante do Colégio Lyceu de Goiânia que queria fazer Medicina, que desaparecera, sem deixar vestígios, em maio de 1970, na Capital do Estado. Ele tinha 15 anos de idade. A Justiça Federal lhe deu uma réstia de esperança: determinou que o ministro da Defesa, o então vice-presidente da República, José Alencar, a recebesse em audiência, em Brasília, dia 15 de fevereiro de 2006, e abrisse os arquivos das Forças Armadas com informações sobre o menino. Animada, ao sair do encontro, ela morreu, aos 78 anos de idade, em acidente trágico.

Essa é a história que o jornalista e sociólogo Renato Dias conta no livro-reportagem ‘O menino que a ditadura matou - Luta armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe’ [Junho de 2015], 400 páginas, que será lançado no nesta terça-feira, de 18h às 22h, no Hall de entrada da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. A obra consumiu 10 anos de pesquisas a acervos da repressão política e militar, como os arquivos do Dops de São Paulo e Goiás, do extinto SNI [Serviço Nacional de Informações], criado por Golbery de Couto e Silva, do Centro Edgar Leuenroth, da Unicamp [Campinas, SP]. Mais: dezenas de entrevistas foram realizadas com ex-militantes revolucionários das décadas de 1960 e 1970, companheiros de jornadas democráticas e socialistas de Marcos Chinês, como era chamado no movimento estudantil, em função da identidade com as táticas e estratégias de Mao-Tsé-tung.

O garoto, relata o autor, começou a participar das atividades políticas após a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, no Restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968. Ele estudava à época no Colégio Atheneu Dom Bosco, onde apareceu um diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas [UBES], ligado à organização de esquerda Ação Popular, Euler Ivo Vieira, conclamando para uma manifestação de protestou. Não deu outra. Entusiasmado, acompanhou os estudantes. No ato de protesto morrera, em Goiânia, no centro, um lavador de carros, Ornalino Cândido da Silva. No dia seguinte, a Polícia Militar do Estado de Goiás invadiu a Catedral Metropolitana e atirou em dois estudantes, lá escondidos: Telmo de Faria e Lúcia Jaime. Os incidentes que envolviam os estudantes e a repressão política e militar tiveram ampla cobertura do jornal ‘Cinco de Março’.

Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, redigido por Gama e Silva e anunciado pelo general Arthur da Costa e Silva, da linha dura, com a anuência de Delfim Netto e Jarbas Passarinho, o tempo fica nublado para a oposição em Goiás e no Brasil, informa o autor Renato Dias. Depois de integrar a AP, Marcos Chinês cria a Frente Revolucionária Estudantil [FRE] e ingressa na VAR-Palmares [Vanguarda Armada Revolucionária Palmares], que nasceu em 1969 e protagonizou a mais espetacular ação da luta armada até então no Brasil: o roubo do cofre do ex-governador do Estado de São Paulo Adhemar de Barros, aquele do bordão ‘rouba mas faz’, que encontrava-se, no Rio de Janeiro, sob a guarda de sua amante, Ana Capriglione, codinome “Dr. Rui”. Nada mais, nada menos do que uma bagatela de 2,5 milhões de dólares. Não faltariam mais recursos para a revolução, acreditavam os enragés.

- Dólares do roubo do cofre chegaram a Goiás.

Marcos Chinês também protagonizou ações ousadas, como a explosão do jeep do coronel Pitanga Maia, secretário de Estado de Segurança Pública à época. O ato ocorreu em 1969. O estudante entrou para a clandestinidade em outubro daquele ano. A repressão fechava o cerco e ele deixou a casa da mãe, uma funcionária que possuía apenas o ginásio, e do pai, um caminhoneiro. A família era muito pobre, diz Renato Dias. O militante da VAR-Palmares, mesma organização de Dilma Rousseff, que seria presa em janeiro de 1970, em São Paulo, com Mariano Joaquim, codinome Loyola, circulou pelo norte de Goiás, atual Estado do Tocantins, para arregimentar camponeses para a guerra popular prolongada contra a ditadura civil e militar e pela construção do socialismo diferente do modelo soviético. Preso em maio de 1970, ele nunca mais foi visto. Loyola também integra a relação oficial dos desaparecidos da Comissão Nacional da Verdade

- Durante dez anos, de 1970 a 1980, a minha mãe, Maria de Campos Baptista, deixou a porta de nossa casa aberta esperando, em vão, o seu retorno ao lar.

O que foi a ditadura civil e militar no Brasil

Em 31 de março de 1964 fardados e civis derrubam o presidente da República, João Belchior Goulart, e implantam uma ditadura que durou 21 anos. À sombra da guerra fria, a estratégia era desagregar o bloco-histórico populista e levar os interesses multinacionais e associados à direção do Estado.

As tropas de Olímpio Mourão Filho, de Minas Gerais, desceram a serra sem um só tiro ou protesto. Jango teria voado com o general Assis Brasil à Fazenda Rancho Grande, em São Borja. Depois, com Maria Thereza e filhos, tomou um C-47 e aterrissou no exílio: Uruguai.

O primeiro general-presidente a entrar em cena foi Humberto Castello Branco, parente distante do jornalista Castelinho. Ele queria um ato institucional que durasse apenas três meses. “Assinou três”. Queria que as cassações se limitassem a uma ou duas dezenas: cassou quinhentas pessoas e demitiu 2 mil.

O seu governo durou nada mais, nada menos do que 32 meses, 23 dos quais sob a vigência de 37 atos complementares. O general Castello Branco foi o cérebro do golpe de 1964. Ele era o líder da Sorbonne militar, composta, por exemplo, de Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

Para o brasilianista Thomas Skidmore, especialista em História do Brasil República, o movimento civil e militar de 1964 ocorreu com dez anos de atraso e nunca atingiu o seu objetivo: desmantelar a estrutura estatal e sindical corporativista montada por Getúlio Vargas, morto em 1954.

“O golpe ia ser dado em 1954, mas falhou por causa do suicídio de Vargas”, diz Thomas Skidmore. Não foi uma quartelada, mas uma ação de classe traçada tática e estrategicamente pelas elites orgânicas do capital transnacional, analisa o cientista uruguaio René Armand Dreiffus

- Ipes, Ibad e ESG consideravam o Estado como instrumento de um novo arranjo político e de um “novo modelo de acumulação”.

História: as articulações contra João Goulart começaram antes de sua posse, em agosto e setembro do turbulento ano de 1961. Mais: se intensificaram a partir do plebiscito que decretou a volta do presidencialismo, ocorrido em janeiro de 1963, e tomaram as ruas após o anúncio das reformas de base.

Sucessor de Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº5 em 13 de dezembro de 1968. Vice, Pedro Aleixo foi impedido de assumir o Palácio do Planalto. Depois de um breve exercício da Junta Militar, Emílio Garrastazu Médici chegou ao poder central, em Brasília [DF].

Em 1977, Ernesto Geisel, que havia executado a partir de 1974 a distensão lenta, gradual e segura, baixa o Pacote de Abril. Ex-chefe do SNI [Serviço Nacional de Informações], João Baptista Figueiredo é abençoado pela caserna no ano de 1978 e o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia, em 1979.

Os exilados retornaram ao Brasil e os presos políticos deixam os cárceres. A ditadura acabou em 15 de março de 1985. Já o pós-doutor em História da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis diz que a ditadura acaba, de fato, em 1979. Para ele, de 1979 a 1988 há, no Brasil, um período de transição.

A democracia no Brasil, depois dos 21 longos anos de ditadura civil e militar, só se consolida e se institucionaliza, com a remoção do legado constitucional autoritário e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, por Ulysses Guimarães, o senhor diretas já, sob a Nova República.

O autor

Renato Dias, 47, é jornalista (Alfa), sociólogo (UFG), mestre em Direito e Relações Internacionais (PUC-GO) e autor de “Luta Armada/ALN-Molipo - As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz” (2012), e de “História – Para além do jornal – Um repórter exuma esqueletos da ditadura civil e militar” (2013).

Especialista ainda em ditadura civil e militar, esquerdas e socialismos, o autor de ‘O menino que a ditadura matou – VAR-Palmares, desaparecimento e o desespero de uma mãe’ já lançou, em 2015, 'Pequenas histórias - Cuba, hoje - Uma revolução envelhecida ou a reinvenção do socialismo?’

O escritor quer lançar, dia 10 de dezembro, “Transição sem Justiça – Uma análise da passagem da ditadura civil e militar no Brasil para a democracia em comparação com os países do Cone-Sul, Europa e África do Sul”. Renato Dias escreve ainda livro sobre o que pensam os trotskistas, hoje, no Brasil.

Serviço

Livro: “O menino que a ditadura matou - Luta armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe” [Junho de 2015]
Número de páginas: 400 páginas
Data: Hoje, dia 23 de junho, terça-feira
Horário: De 18h às 22h
Local: Hall de entrada da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás

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