PF aponta possível sociedade entre Cachoeira e Cavendish, da Delta
Empreiteira, que foi a maior recebedora de recursos federais nos ltimos anos, destinaria recursos tambm a jogos de azar, segundo a investigao
247 – Há indícios cada vez mais fortes de uma possível sociedade entre o bicheiro Carlos Cachoeira e a empreiteira Delta Construções, do empresário Fernando Cavendish, que foi a maior recebedora de recursos federais nos últimos anos. Leia, abaixo, reportagem deste sábado, da Folha de S. Paulo:
Segundo relatórios, há indícios de que dinheiro vindo da Delta abasteceu contas de empresas fantasmas ligadas ao jogo
Diretor regional da empreiteira acabou afastado depois de ter sido denunciado pelo Ministério Público
FILIPE COUTINHO
FERNANDO MELLO
LEANDRO COLON
DE BRASÍLIA
A Polícia Federal levantou suspeitas de que a empreiteira Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, fez parte do esquema montado pelo grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma rede de jogo ilegal.
Segundo relatórios de inteligência da PF na Operação Monte Carlo, há indícios "de que a maior parte dos valores que 'entram' nas contas de empresas fantasmas [ligadas ao grupo do empresário] é oriunda da empresa Delta".
Em relatório de novembro, a PF diz ter levantado "indícios de que parte de recursos da empresa Delta transferidos para empresas fantasmas são destinados a pessoas físicas e jurídicas vinculadas direta ou indiretamente à estrutura do jogo de azar".
De acordo com as investigações, foi possível confirmar sociedade "secreta" entre Cachoeira e Claudio Abreu, então diretor regional do Centro Oeste da empreiteira, afastado depois de ser denunciado pelo Ministério Público Federal. Ninguém mais da Delta foi denunciado.
Um depósito bancário rastreado, segundo a PF, seria "possivelmente referente ao retorno dos pagamentos superfaturados que a empresa Delta ganha com os seus contratos com o poder público".
A Delta faturou, desde 2004, R$ 3,6 bilhões do governo federal. A empresa atua em diversas áreas, de construção a energia, passando pela coleta de lixo.
No Distrito Federal, o principal contrato é de coleta de lixo -recebeu R$ 140 milhões nos últimos três anos.
O nome de Claudio Monteiro, chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT), é citado em gravação da PF. Monteiro admite que recebeu aliados de Cachoeira para tratar de contratos da Delta: as reuniões foram com Claudio Abreu e o sargento aposentado Idalberto Matias, o Dadá, que teria se apresentado como presidente da associação de varredores.
NEGÓCIOS PRIVADOS
A PF transcreve dezenas de diálogos em que o nome da Delta aparece. Segundo a investigação, Cachoeira marcou encontros com informantes no prédio da empresa em Goiânia -a Delta recebeu mais de R$ 100 milhões do governo goiano desde 2010.
Em 14 de junho de 2011, Cachoeira telefonou para um policial federal apontado como seu informante para saber sobre possíveis batidas. O empresário pergunta: "E com a Delta, alguma coisa?".
No dia 8, um dos aliados de Cachoeira, Gleyb Ferreira, conversava com o policial federal Deuselino Valadares, também denunciado.
"Não precisa mexer com nada público, mexer só com empresa privada, que é melhor, acabar com esses contratos da empresa pública, como governo e tal, largar esses trem tudo [sic] que só dá problema", disse o policial.
Leia também reportagem anterior do 247 sobre Cavendish:
247 – Qual é a empreiteira que mais cresce no Brasil? Se pensou em alguma das quatro grandes, como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, errou. O foguete da engenharia no Brasil se chama Delta Construções e é pilotado pelo empresário Fernando Soares Cavendish. Um personagem discreto, que ganhou notoriedade no ano passado, quando um desastre com seu helicóptero, no litoral da Bahia, foi noticiado nacionalmente – na viagem, o governador do Rio, era um dos convidados de Cavendish.
Com contratos bilionários, a Delta já é a quinta maior empreiteira do País e está novamente em evidência em função de relações umbilicais com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo. Em Goiás, o diretor da Delta, Cláudio Abreu, que foi demitido, movimentava-se como sócio de Cachoeira. Os dois despachavam no mesmo local e, em vários telefonemas interceptados pela Polícia Federal, Cachoeira demonstrava um interesse frontal em tudo que dissesse respeito à Delta. No caso mais recente, revelado nesta quinta-feira pelo jornal Estado de S. Paulo, Cachoeira conversava com Cláudio Abreu sobre um contrato de R$ 60 milhões no Distrito Federal. Em Goiás, a Delta partiu do zero e conquistou contratos de R$ 245 milhões – alguns deles, com o Detran, cujo presidente, Edivaldo Cardoso, pediu demissão ontem, em razão de suas ligações com Cachoeira.
Até agora, Cavendish não se pronunciou sobre a crise goiana. Mas o seu currículo de confusões impressiona. No ano passado, a Delta foi questionada em função de um suposto sobrepreço de R$ 400 milhões nas obras do Maracanã, cuja reforma é liderada pela construtora. Recentemente, o Ministério Público Federal tentou impedir que a Delta participasse das obras no Aeroporto de Guarulhos, também em função de superfaturamento – depois disso, parte do teto desabou.
Ambição desmedida
Representante da segunda geração da empresa, fundada por Inaldo Soares, no Recife, Fernando Cavendish é tido por amigos próximos como um personagem extremamente insinuante e dotado de uma ambição desmedida. Quem lhe abriu as portas no governo Lula foi o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), que ainda possui forte influência no Ministério dos Transportes. Depois disso, Cavendish buscou aproximações com vários personagens do mundo político, como José Dirceu e Sérgio Cabral.
Em Goiás, sua aposta foi mais pesada. Comenta-se que ele teria sido um dos grandes financiadores da campanha de Marconi Perillo, que contou com personagens como o sargento Idalberto Martins, o Dadá, que é o braço direito de Carlos Cachoeira. A relação era tão próxima que mais parecia uma sociedade, como se Cachoeira fosse uma espécie de franqueado de Cavendish no cerrado goiano.
Procurada pela reportagem do 247, a Delta enviou por email o seguinte posicionamento:
1- A Delta Construção não figura entre as cinco maiores empresas de construção civil do país. É falsa a informação e é passível de comprovação ao se checarem todos os indicadores do setor.
2- Na carteira de contratos da Delta Construção não há um único contra "bilionário".
3- A Delta Construção não lidera o consórcio de reforma do Maracanã. A liderança e participação majoritária do consórcio é da Construtora Norberto Odebrecht. A Delta Construção participa do grupo, honrosamente, como minoritária. Está no grupo junto com grandes empresas de engenharia e construção.
4- No curso e nas transcrições do inquérito citado pelo Brasil 247, não há um único diálogo em que surja o presidente da Delta Construção, Fernando Cavendish Soares, conversando com qualquer pessoa. Simplesmente porque, exceto o ex-diretor da empresa Cláudio Abreu, nenhuma das pessoas citadas tinha relação pessoal com ele.
5- No dia 8 de março de 2012, o engenheiro Claudio Abreu foi desligado da Delta Construção, empresa onde exercia o cargo de diretor do escritório regional Centro Oeste. O desligamento se deu em razão das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal que apuram a intensidade e a extensão da relação pessoal existente entre Cláudio Abreu e o empresário goiano Carlos Augusto Ramos. Essa intensidade e a extensão desse relacionamento não eram de conhecimento da Delta, por isso o Conselho de Administração da empresa determinou o afastamento do profissional e iniciou auditoria interna para apuração dos fatos narrados por procuradores e policiais federais. A empresa só tomou conhecimento do teor dos diálogos pela imprensa e desconhece suas origens e suas motivações. A Justiça já aceitou denúncia a partir dos fatos apurados na chamada Operação Monte Carlo e 81 pessoas foram indiciadas. A Delta Construção não está nesse rol. A área de relacionamento institucional da empresa desconhecia qualquer ação do senhor Carlos Augusto Ramos a fim de evitar convocações que dissessem respeito aos controladores da empresa, reputando assim como um ato unilateral dele, o que foi captado em diálogo divulgado pela imprensa.
6- A Delta Construção não apoiou candidaturas. Na forma da lei e conforme legislação específica, ela contribuiu para campanhas federais. Nunca houve interesse específico em qualquer unidade da federação em particular.
7- a Delta Construção jamais, em tempo algum, manteve ou teve a intenção de manter contratos de bilhetagem eletrônica no sistema DFTrans em Brasília. Os diálogos divulgados revelam terceiras pessoas falando em procurar a empresa para uma suposta reunião. A Delta Construção não compareceu à reunião alguma sobre o assunto, desconhece o assunto e não deu curso a tema algum relativo a isso.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: