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    Polícia apresenta desculpa esfarrapada para morte de DJ Lah

    Rapper teria dito por brincadeira que filmou o assassinato de um pedreiro por PMs, em novembro; editorial da Folha vê chacinas sem explicação e colunista do jornal destaca letra do rapper: "Tem rato na área, mano, corra (...) Mesmo estando na sua, não querem saber, então saia/ De uniforme cinza assassinos são os homens (...)/ Reze pra sobreviver"

    Polícia apresenta desculpa esfarrapada para morte de DJ Lah

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    247 – O rapper Laércio Grimas, 33, o DJ Lah, do grupo Conexão do Morro, foi assassinado junto a outras sete pessoas na sexta-feira, na zona sul de São Paulo, por uma brincadeira. É o que alega a polícia de São Paulo. O músico seria o foco da chacina porque teria dito no bairro, em tom de piada, que foi ele quem filmou o assassinato de um pedreiro cometido por cinco PMs em novembro. As imagens foram divulgadas pela TV Globo.

    "A denúncia que ele fazia era por meio do rap. Ele tem família, sabe que quem filmar uma ação dessas pode morrer", disse David Sobreira, 36, o Cachorrão, outro rapper do Conexão do Morro.

    A primeira chacina do ano agrava a crise da segurança pública vivida no governo de Geraldo Alckmin pela suspeita de que os atiradores tenham ligação com policiais militares.

    A colunista da Folha, Denise Chiarato, destacou em seu artigo de hoje um dos trechos da letra do rapper (leia a coluna a seguir): "Tem rato na área, mano, corra/ Perdão é coisa rara/ Mesmo estando na sua, não querem saber, então saia/ De uniforme cinza assassinos são os homens (...)/ Saiam da mira dos tiras/ São eles é quem forçam/ São eles quem atiram/ Reze pra sobreviver.".

    O jornal de Otávio Frias também dedicou o editorial desta edição para falar das" chacinas sem explicação" no Estado. Leia:

    Chacinas sem explicação - Editorial

    A onda de violência que se abateu sobre a Grande São Paulo no segundo semestre do ano passado parece ter sofrido um refluxo após a posse do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, que assumiu o cargo no final de novembro. Ainda assim, a insegurança persiste na periferia.

    Na sexta-feira à noite, 14 homens encapuzados mataram sete pessoas em um bar na zona sul da cidade. A chacina se deu na mesma rua em que, dois meses atrás, cinco policiais militares assassinaram um suspeito desarmado -cena deplorável exibida na televisão.

    A ocorrência desse tipo de episódio mostra que o sangrento 2012 ainda não cicatrizou totalmente, sem que a população tenha sido informada sobre as verdadeiras razões da escalada de violência.

    O número de chacinas na região metropolitana de São Paulo vinha caindo de forma constante desde 2007. Subitamente, as matanças saltaram de 12, em 2011, para 24 no ano passado, e o número de mortos nesses casos foi de 41 a 80.

    De todos esses homicídios múltiplos cometidos em 2012, até agora apenas um foi solucionado pelo Estado -e seis policiais militares terminaram presos acusados de participar do crime.

    A falta de esclarecimento infunde medo na população, que se sente à mercê da violência. Pior, alimenta a hipótese, sinistra, de que policiais estejam envolvidos em outros episódios. Sintoma desse quadro, pesquisa Datafolha do final de novembro mostrou que 53% dos paulistanos sentiam mais medo do que confiança na Polícia Militar.

    Para o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a troca de comando na Secretaria da Segurança Pública já melhorou a situação. A diminuição no número de homicídios dolosos na capital corrobora a impressão.

    Apesar disso, as suspeitas não se dissiparam. Moradores da região de São Paulo onde ocorreu a primeira chacina de 2013 atribuíram as mortes a agentes da PM, o que não foi comprovado.

    O secretário Fernando Grella Vieira parece empenhado em reparar os estragos e restaurar a confiança no trabalho da polícia.

    É imprescindível que o faça, e esclarecer esses morticínios é um dos primeiros passos nessa direção.

    O rap do Campo Limpo, de Denise Chiarato

    SÃO PAULO - "Tem rato na área, mano, corra/ Perdão é coisa rara/ Mesmo estando na sua, não querem saber, então saia/ De uniforme cinza assassinos são os homens (...)/ Saiam da mira dos tiras/ São eles é quem forçam/ São eles quem atiram/ Reze pra sobreviver."

    A letra do rap "Click Clack Bang" não é nova, tem ao menos dez anos, mas ganhou seus 15 segundos de fama depois do assassinato do DJ Lah, integrante do Conexão do Morro, em Campo Limpo, na zona sul.

    O rapper foi morto na primeira chacina do ano na capital paulista. Ele estava em um bar quando um bando, em três carros, começou a atirar, deixando um saldo de sete homens mortos e outros dois feridos.

    Quem o matou e por que são perguntas que a polícia ainda não respondeu. E pode ser que nem responda, já que, das 24 chacinas do ano passado, só uma foi esclarecida -justamente a cometida por PMs.

    Assassinatos não são novidade para os moradores do Campo Limpo -o distrito é o terceiro mais violento de São Paulo, com 46 vítimas de homicídios registrados até novembro de 2012 (último dado oficial). Numa região tão violenta, a presença da polícia deveria ser uma exigência de quem mora ali -mas as letras do Conexão do Morro e as queixas dos moradores mostram o contrário.

    "Nos bairros ricos, a polícia dá bom-dia, dá boa-tarde; aqui, ela mata", protesta Ferréz, um dos principais escritores da periferia paulistana, no enterro do amigo DJ Lah.

    O flagrante de cinco policiais militares matando um suspeito já rendido e desarmado, na mesma rua em que o rapper e outros seis homens foram mortos, só reforça essa versão. Mas ignorar as críticas -mesmo que excessivas- dessa parcela da população não ajuda em nada.

    É preciso que a polícia olhe para seu próprio umbigo e reveja sua conduta. O Campo Limpo merece uma polícia mais humana, que saiba diferenciar um criminoso de um cidadão comum. 

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