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Postagens sobre falsos atentados visam gerar pânico e atrapalhar pensamentos, dizem especialistas

Além da informação, as plataformas foram usadas para anúncios de ataques supostamente programados

Velas são acendidas em homenagem às vítimas de ataque fatal em creche em Blumenau (SC) - 05/04/2023 (Foto: REUTERS/Vinicius Bretzke)

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PORTO ALEGRE, (Reuters) - Após os ataques em uma escola de São Paulo e uma creche de Blumenau (SC), conteúdos sobre falsos novos atentados receberam milhares de visualizações nas redes sociais nesta semana. Os posts usam imagens antigas para afirmar que houve atentados recentes em cidades brasileiras. O objetivo é pânico e atrapalhar o pensamento, dizem pesquisadoras ouvidas pela Reuters. 

 Um deles, assistido 330 mil vezes no Facebook, Instagram, Kwai, TikTok e YouTube, mostra pessoas atuais e afirma que “cinco mascarados atacaram pessoas num shopping em São Paulo hoje”. No entanto, como mostrou a Reuters Fact Check, divisão de verificação de fatos da Reuters, o vídeo foi gravado após um incêndio em um cinema em São Luís em março. 

 No TikTok, um vídeo com a legenda “atentado a uma igreja na cidade de São Paulo” teve mais de 20 mil visualizações, mas as imagens são de um ataque a uma igreja nos EUA em 2019. 

 Outra postagem, com 30 mil visualizações no Facebook e TikTok, fala da morte de um diretor de escola em Ananindeua (PA) com a legenda “ataque agora à noite no Pará”. O caso aconteceu em fevereiro e, na época, a Polícia Civil indicou que se tratava de latrocínio. 

 Imagens dos atentados a escolas de Aracruz (ES), em novembro, foram compartilhadas com textos anunciando “mais um ataque”. Mais de 931 mil usuários viram os posts no Facebook e no TikTok. O governo capixaba informou que nenhum ataque foi registrado recentemente no Estado. 

 No Instagram, posts com 178 mil visualizações denunciavam uma suposta “invasão em um colégio de São Bernardo do Campo (SP), muita correria no local”. A ameaça, entretanto, já havia sido descartada pelo governo paulista. 

 AMEAÇAS 

 Além da informação, as plataformas foram usadas para anúncios de ataques supostamente programados. Também tivemos perfis com nomes relacionados a “massacres” e “escolas” — apenas no Instagram, uma reportagem identificada cerca de 50 contas com essas características na terça-feira. 

 Pesquisadora do extremismo digital, a jornalista Letícia Oliveira disse à Reuters que observa o movimento como uma campanha coordenada. Segundo ela, a linguagem e a capilaridade das ameaças têm aspectos distintos das comunidades de adolescentes radicais que incentivam esses crimes. 

 “Esses adolescentes formam subcomunidades que cultuam atiradores de escolas, com imagens, músicas e vídeos. Eles não se organizam dessa forma, com esse volume muito alto de ameaças, espalhados pelo país inteiro e em diversas redes sociais”, disse. 

 Um jornalista recomenda que as ameaças sejam dirigidas às autoridades em vez de compartilhadas nas redes, “porque isso torna o movimento orgânico e a multidão entra em pânico”.  

 A orientação é compartilhada por Michele Prado, pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, é comum que após ataques surjam falsos alertas para sobrecarregar a polícia e atrapalhar o inquérito, dificultando a identificação de ameaças reais, o que “favorece os agressores”. 

 “Podem ser usuários dessa subcultura ou adolescentes querendo tumultuar. E há também oportunistas que monetizar com visualizações e querem parcelar a população que ainda não tem informações concretas a respeito do assunto, fica amedrontada e compartilha conteúdo com o intuito de alertar outras pessoas”, explicou. 

 PLATAFORMAS 

 Alguns dos conteúdos encontrados saíram do ar após a reportagem procurar as plataformas onde estavam. Na quarta-feira, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a pasta poderá multar ou suspender o funcionamento de redes sociais no Brasil caso elas não façam moderação de conteúdo sobre violência em escolas e não compartilhem informações com autoridades. 

 À Reuters, o TikTok afirmou que o conteúdo que estimula pânico sobre violência nas escolas não tem “lugar na plataforma” e que trabalha para “identificar e remover conteúdo que possa causar pânico ou validar farsas”, além de informar segurança às autoridades.

 O Kwai disse que “a plataforma não permite conteúdo violento explícito, que normaliza ou glorifica a violência e que pode encorajar atitudes violentas no mundo real”, e que notifica as autoridades. 

 O Google, dono do YouTube, declarou que usa "aprendizado de máquina e revisores humanos para identificar, avaliar e remover conteúdo negativo do YouTube, incluindo conteúdos que incitam violência". A empresa disse não ter recebido até o momento "nenhum pedido judicial de remoção de conteúdo relacionado aos episódios de ataques nas escolas”, e que colabora com as autoridades.  

 A Meta, dona do Facebook e Instagram, afirmou não permitir a divulgação de atos de violência em suas plataformas e disse remover conteúdos de apoio aos envolvidos em tais atividades. Ainda segundo a empresa, “conteúdos sobre ameaças de ataques violentos futuros que procuram alertar as pessoas, ainda que não violem políticas”, são “passíveis de verificação de fatos” por parceiros -- a Reuters tem parcerias com Meta e TikTok para checagem de fatos. 

 A reportagem não entrou em contato com o Twitter. Desde março, a empresa responde a e-mails da imprensa com um emoji de fezes. 

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