TV 247 logo
HOME > Geral

Tarso Genro: "nosso governo é vitorioso"

Governador do RS e candidato à reeleição, Tarso Genro (PT) reconheceu que se a renegociação da dívida do Estado – o maior problema a ser enfrentado pelo próximo governo – não sair e a taxa de crescimento do país continuar a mesma, "o Estado vai para o fundo do poço e a União também"; mas ele acredita na aprovação do projeto que se encontra no Senado; o petista, falou sobre as consquitas do seu governo, e admitiu que houve falha em sua política de comunicação; a administração é aprovada como ótima e boa por 33% dos gaúchos; "Nosso governo é vitorioso", declara

Governador do RS e candidato à reeleição, Tarso Genro (PT) reconheceu que se a renegociação da dívida do Estado – o maior problema a ser enfrentado pelo próximo governo – não sair e a taxa de crescimento do país continuar a mesma, "o Estado vai para o fundo do poço e a União também"; mas ele acredita na aprovação do projeto que se encontra no Senado; o petista, falou sobre as consquitas do seu governo, e admitiu que houve falha em sua política de comunicação; a administração é aprovada como ótima e boa por 33% dos gaúchos; "Nosso governo é vitorioso", declara (Foto: Leonardo Lucena)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Nubia Silveira, Sul 21 - Conhecido pela sua pontualidade, o governador Tarso Genro (PT) chegou à entrevista com o Sul21, desculpando-se pela hora e meia de atraso. Na tarde de quarta-feira (15), ele retornava de Pelotas, onde participou de um ato político de adesões à Unidade Popular Pelo Rio Grande, coligação pela qual concorre à reeleição.

Em 40 minutos de entrevista, Tarso reconheceu que se, por algum motivo, a renegociação da dívida do Estado – o maior problema a ser enfrentado pelo próximo governo – não sair e a taxa de crescimento do país continuar a mesma, "o Estado vai para o fundo do poço e a União também". Mas, ele acredita na aprovação do projeto que se encontra no Senado.

Enquanto ouvia as perguntas, Tarso rabiscava sobre uma folha de papel branco. Fazia figuras geométricas, ressaltava traços, escrevia uma ou outra palavra. Ele listou as conquistas de seu governo, como o crescimento da renda média das famílias gaúchas, que foi o dobro do das famílias brasileiras. Diz que sente-se com "o direito de pedir uma reeleição para o segundo turno". Admite que houve falha na política de informação e comunicação, que não conseguiu mostrar o que aconteceu de positivo nos últimos três anos e meio. As pessoas "ficaram, portanto, só com os problemas que aconteceram e não com as virtudes". Apesar disso, a administração é aprovada como ótima e boa por 33% dos gaúchos. "Nosso governo é vitorioso", declara.

Sul21 – Nas urnas, os eleitores vão optar entre um projeto conservador e um de esquerda, que é o seu e o da presidenta Dilma. O que caracteriza um projeto de esquerda?

Tarso Genro - Hoje significa não se submeter à captura que o capital financeiro produziu sobre os estados, fazendo-os governar de acordo com os interesses do pagamento da dívida pública. Utilizando esses recursos disponíveis, a partir dessa resistência, para gerar inclusão social, o combate às desigualdades sociais e regionais e articulação nacional e internacional para geração de empregos, conduzir reformas na área educacional, segurança e saúde.

Sul21 – Como serão reformas nessas três áreas, se o senhor for reeleito?

Tarso – Estão sendo feitas. Na área da segurança, temos a introdução massiva de policiamento comunitário, estruturação cada vez mais forte de uma polícia cidadã – que é um elemento bastante complexo – e a utilização do aparato de segurança, não para proteger privilégios, mas para garantir direitos da cidadania como fizemos exemplarmente nos movimentos de junho de 2013 e na greve dos motoristas em Porto Alegre. Podem ter ocorrido falhas, que devem ser corrigidas. Na área da educação, saímos do 11° lugar na classificação da qualidade do ensino básico para o segundo lugar, em três anos e meio. Na área da saúde fomos o primeiro governo após a Constituição de 1988 que chegou, aqui no Estado, aos 12% da receita líquida oferecidos às prefeituras e ao sistema de saúde e está proporcionando um salto de qualidade. Os efeitos serão sentidos a médio e longo prazo.

Sul21 – O senhor promoveu uma reforma administrativa. Seus adversários falam em superposição de atuações na área do meio ambiente, por exemplo. Haverá uma nova reforma administrativa?

Tarso - Essa foi uma informação da minha adversária Ana Amélia (PP), que confundiu as funções da Secretaria de Meio Ambiente, órgão de políticas públicas, com a Fepam, que tem funções técnicas de licenciamento. Não há superposição. Nós reestruturamos a máquina pública e constituímos algumas secretarias que precisavam de novas políticas, como a dos Esportes; na área do desenvolvimento rural demos impulso extraordinário à agricultura familiar, ao sistema de cooperação. Nossa visão não é a de redução da máquina pública, mas de fortalecimento dela para funcionar bem. Isso é efeito das políticas que nós desenvolvemos. Se outro governo não der atenção à agricultura familiar, pode assumir a dissolução da Secretaria. Se achar que a Secretaria Geral não tem importância como órgão de gestão – nós achamos que tem -, pode suprimir e passar isso à Casa Civil ou à Secretaria de Planejamento.

Sul21 – Seu programa para um segundo mandato, então, não prevê mudança na administração, ampliação ou cortes de secretarias?

Tarso - Sim, mudanças organizativas. O Conselhão é uma secretaria à parte, já se afirmou e tem prestígio suficiente. Secretaria, sim, pode ser desestruturada e o Conselhão pode ficar subordinado à Secretaria Geral ou à Casa Civil. A Secretaria de Assessoramento Superior, com a função de orientar a estratégia de governo para os projetos principais, já cumpriu sua função e pode retornar ao núcleo do gabinete do governador, para acompanhar os projetos. A máquina pública tem que ter esta flexibilidade para ir acompanhando os fatos. Essas modificações podem ser feitas.

Sul21 – A dívida do Estado é o grande assunto da campanha. O senhor propõe a renegociação. O eleitor está entendendo essa proposta?

Tarso – Sinceramente, acho que não. O que interessa ao eleitor médio imediatamente é o serviço, a qualidade da educação, da segurança, da saúde. Ele não se preocupa com a questão da dívida. Mas é uma obrigação de nossa parte esclarecer esta questão, porque isso tem um custo muito caro depois, para a sociedade, inclusive. Se não reformar os índices de correção da dívida, não teremos condições de adquirir novos financiamentos para investimentos. Se não reduzir de 13% para 9% os pagamentos mensais que amortizam a dívida, esse dinheiro vai fazer muita falta. É uma obrigação reiterar que esta é uma questão séria. Nossa discussão com nossos adversários não é sobre o diagnóstico. Eu fui o primeiro a dizer que a situação do Estado era gravíssima e tínhamos que reestruturar a dívida. Nossa divergência é sobre como fazer para sair dessa situação. Até agora nenhum adversário apresentou uma proposta melhor do que a nossa. A melhor era a do PSOL: não pagar a dívida. Mas, é impossível. Se for assim, você quebra o Estado, que deixa de receber recursos de agências nacionais e internacionais e os próprios repasses constitucionais do governo federal.

Sul21 – E se não acontecer a renegociação da dívida?

Tarso - Depende de como a União vai se comportar em relação à economia. Se a taxa de crescimento for forte, a partir de 4%, pode-se governar o Estado pagando as contas e fazendo poucas coisas. O Estado vai rolando, como sempre rolou antes do nosso governo. Se a taxa de crescimento permanecer como está, o Estado vai para o fundo do poço e a União também. Essas taxas de crescimento são insustentáveis para um país como o nosso. Mas acredito que isso não vai acontecer. Sendo um projeto de lei do governo, acordado com a presidenta, havendo acordo com a oposição para novembro, por que não seria votado? Isso favorece governadores e prefeitos de todos os partidos.

Sul21- Seu adversário no segundo turno diz que o senhor endividou mais o Estado.

Tarso - Endividei mais o Estado e aumentei a receita, diferente da situação quando o recebi. O RS tinha uma receita que crescia de maneira medíocre e uma dívida que crescia de maneira exponencial. Tivemos em nosso governo um grande crescimento da receita e a dívida cresceu, como cresce com o contrato que eles mesmos firmaram. Como resultado disso, um estudo recente publicado na Folha de S. Paulo mostra que a situação dos estados se divide em três fases: aqueles que pioram a relação dívida/receita, os que melhoraram e os que ficaram na mesma situação. O RS melhorou. Recebemos deles um estado arruinado e mesmo assim administramos no que foi possível, potencializando a receita, carreando novos investimentos privados e obtendo novos financiamentos, sem aumentar impostos.

Sul21 – Que outros problemas o próximo governante irá enfrentar além da dívida?

Tarso - Os principais problemas estão bem encaminhados. Falta de investimentos do governo federal, que ocorria antes de Lula, falta de atratividade para investimentos privados de fora do Estado e do país. Nunca tivermos uma massa de investimentos tão grande no RS. Sobre a ausência de políticas eficientes para o desenvolvimento sub-regional, grandes políticas voltadas à agricultura familiar e cooperação foram instituídas fortemente em nosso governo. A única questão séria que deve ser enfrentada é a da dívida. É o que estou dizendo ao povo gaúcho: nos dê a oportunidade para continuar com este trabalho, pois as grandes questões que impediam o desenvolvimento estão bem encaminhadas. Dou um exemplo concreto. Em 2013, a renda média das famílias do Rio Grande cresceu o dobro da renda média da família brasileira, segundo pesquisa do IBGE. Quando um governante pode dizer isso à sociedade – no ano que marca os efeitos dos programas que implementamos – ele tem o direito de pedir uma reeleição para um segundo governo.

Sul21 – Por que o senhor não conseguiu se eleger no primeiro turno como aconteceu em 2010?

Tarso - A causa principal é que não conseguimos – dada a variedade de projetos – uma política de informação e comunicação que mostrasse e entranhasse na cabeça das pessoas. Mostrar que o que aconteceu de positivo foi da nossa responsabilidade; ficaram, portanto, só com os problemas que aconteceram e não com as virtudes. Mesmo assim, estamos terminando nosso governo com 33% de bom e ótimo e uma aprovação daquelas pessoas que têm opinião de mais de 50%. Nosso governo é vitorioso. Mas, não conseguiu transformar essa aprovação do governador em votos para o governador. Daí esta a falha do nosso trabalho durante três anos e meio antes da eleição.

Sul21 – Foi uma falha de comunicação?

Tarso - Uma falha de comunicação é sempre uma falha de política. Não é uma coisa isolada do secretário de Comunicação ou do setor. É que a comunicação compreende uma visão de uma política geral do governo na relação com a sociedade. Não fomos suficientemente felizes neste setor.

Sul21 – O senhor teme a “maldição” de não haver reeleição no Estado? O que vai fazer neste final de campanha para ser reeleito?

Tarso - Vou comparar o nosso governo com o do PMDB e, aproveitando o tempo igual de televisão, fazer um debate programático com nosso adversário e mostrar a incongruência de suas propostas, aliás, das suas não propostas. Ele não tem nenhuma proposta sobre nada, apenas diz que é a pessoa ideal para derrotar o PT, aproveita esta onda de preconceito que existe em certos setores da classe média alta e que ele sabe como fazer depois. É uma campanha muito inteligente, que está no fluxo de um grande debate nacional: se os programas de caráter social implementados pelo presidente Lula devem continuar ou não. Ele aproveita este fluxo de oposição que é comandado pela Globo, dizendo que esta época tem que terminar. E se apresenta inclusive como sem partido, “meu partido é o Rio Grande”. O que considero em essência uma tática eleitoral que vamos ter oportunidade de desconstituir. Não estou apontando nenhum erro moral, mas uma tática eleitoral usada numa visão mais de marketing político do que uma visão programática.

Sul21 – Essa estratégia de mostrar que não tem partido não é uma forma de usar a descrença do eleitor nos partidos políticos?

Tarso - Há um bombardeio sistemático feito todos os dias no Jornal Nacional, de que todos os partidos são corruptos, os políticos são corruptos, quem trabalha no Estado é corrupto, todas as ações do Estado são da burocracia,  de seus quadros dirigentes. Isso gerou na democracia brasileira um momento de instabilidade e de raiva, um sentimento de despolitizar a política que vem da própria população. Os candidatos mais à direita aproveitam isso, de maneira flagrante, inclusive com a cumplicidade da grande mídia. Aécio é de uma família tradicionalmente política e de uma vida no poder público que é frágil em relação à corrupção e utilização da máquina e vem sendo apresentado como novo, como redentor da moralidade pública e da transparência do país. Isso é luta política em estado puro, luta de classes, para usar o jargão tradicional. Porque aí tem visões de como utilizar o Estado, para quem utilizar o Estado, como organizar a produção, que setores devem ser mais preservados para políticas públicas. O salário mínimo regional é um elemento chave e aqui houve uma coesão de uma parte da direita empresarial em torno do meu adversário. Ele já tem compromisso de não continuar com isso, tanto que seu vice é um empresário com quem tenho amizade social e respeito recíproco e é quem lidera a luta contra o salário mínimo regional, assim como a Fiergs.

Sul21 – Seu adversário diz que o senhor tem olhado muito pelo retrovisor. A sua campanha está presa ao passado?

Tarso - Acho que está pouco presa ao passado. Meu adversário quer fazer um debate exclusivamente sobre o presente. Ele o faz porque é necessário omitir o caráter político de sua candidatura, os seus compromissos partidários e o que estes fizeram para o Rio Grande. O PMDB não solucionou nenhum problema sério, ao contrário, agravou, como na questão da dívida, no tratamento para a educação que legou um sistema decadente, não elaborou grande políticas de agricultura familiar, constituiu um Fundopem elitista que nós democratizamos dando acesso a cooperativas. Meu adversário quer isolar o presente para se apresentar como novo. Isso é um equívoco, inclusive porque não permite discussão em profundidade sobre o que os candidatos vão fazer depois. Isso está ancorado no presente e no que fizeram quando foram governo.

Sul21 – O candidato Sartori, do PMDB, ao abrir o voto em Aécio, polarizou o debate. Isso melhorou o debate ou o nacionalizou?

Tarso - O debate já estava nacionalizado. Sartori sempre foi ligado à ala antipetista, anti-Lula, anti-Dilma. Sua ligação com Aécio foi um passo normal na sua luta política. Como faz a maioria do PMDB no RS, (Sartori) sempre foi hostil à esquerda ou pelo menos ao que representamos. Nossos adversários mais duros aqui sempre foram PP e PMDB.

Sul21 – Por que o antipetismo está crescendo?

Tarso - Os presidentes Lula e Dilma, com todos os erros e acertos, predominantemente acertaram em relação ao movimento de desenvolvimento do país. Um país que em 12 anos melhora a vida de 50 milhões de pessoas é um feito que nenhuma revolução armada do século passado fez, nem Cuba, Nicarágua, África, Ásia, Vietnã. Quando começamos, 50 milhões significavam um terço da população. Ela foi mobilizada para melhores condições de vida. Isso obviamente quebra um dogma da elite política do direito do Brasil, com origem escravocrata que vem do Nordeste do país, do açúcar, do café, que se transformou numa grande parte da burguesia brasileira. Este setor não aceita a ascensão de massa, não do ponto de vista social, mas não aceita na democracia e na política. O presidente Lula fez uma revolução política imperceptível, um país em que na mesa do poder sempre sentou da classe média alta para cima, essa mesa passou a ter a presença dos sem-teto, da CUT, dos demais sindicatos combativos, dos operários, das chamadas minorias que não são minorias, instituiu a política de cotas. Esse acesso das pessoas à democracia política e a capacidade de interferir sobre o Estado é algo muito doloroso para uma elite brasileira que é predominantemente cartorial, escravocrata e reacionária e que ainda predomina em partidos como o PSDB.

Sul21 – O que explica o maior índice de votos para conservadores em algumas regiões do país?

Tarso - Aqui, estamos a ver ainda. No Rio e SP houve acento de uma votação conservadora bastante significativa. Assim como em Pernambuco. Regiões fortes do presidente Lula tiveram guinadas conservadoras. Isso tem a ver com os movimentos de junho de 2013, uma grande mobilização social que começou com o transporte coletivo. Rapidamente se transformou em massiva inconformidade da classe média e que refletiu nas elites. A partir daquele momento esse movimento foi glamurizado. A Globo disse dele: o Brasil acordou. E essa glamurização se transformou em movimento de massa que virou um grande movimento de oposição a todos os governos. Nós dialogamos com a juventude que estava nesse movimento. Aquele movimento deu sequência a uma campanha cada vez mais violenta contra os partidos e a política. Quando o movimento começou a se voltar contra a mídia, esta o transformou em “marginal”. Consequência disso foi a radicalização. Mais uma vez uma campanha contra a política, com excessos por parte de pequena parcela, como os black blocs. Houve uma perversão do movimento. Foi quando os governos de SP e Rio fizeram uma repressão dura. Como consequência nós temos uma profunda despolitização, com ataque feroz aos partidos e ao sistema político decadente e se transformou numa espécie de direção nova para os partidos de direita. Tanto é que todos os candidatos da direita falam da inconformidade da sociedade originária de junho. Isto criou um caldo de cultura que se somou a uma série de movimentos que o sistema Globo fez, diretamente no Jornal Nacional, transformando em editorial da direita contra o PT e contra a esquerda. É neste ambiente que estamos debatendo o processo eleitoral. A cobertura das eleições na TV Globo contra o PT periga, se Aécio ganhar as eleições nessas condições, não dar a legitimidade para ele governar, porque o povo vai se dar conta rapidamente do engodo. No RS temos uma cobertura normal da imprensa, embora tenhamos sido discriminados nas coisas positivas que fizemos no nosso governo, especialmente pelo sistema RBS.

Sul21 – Como voltar a conquistar o respeito do eleitor pela política? O senhor faz uma crítica ferrenha à grande mídia. Mas a mídia alternativa também não comete excessos?

Tarso - Claro que comete. Todas cometem excesso. Mas é incomparável o poder de fogo de uma e outra. O Jornal Nacional é assistido por 64 milhões de pessoas. As mídias alternativas estão em sua juventude e por dentro dela transitam desde psicopatas, recalcados, até pessoas sensatas, que estão ali para fazer discussão e defender suas posições. Uma coisa não pode ser oposta à outra. O fato é que existe hoje no Brasil uma nova articulação de poder. Esta teve seu centro no grande partido político do conservadorismo e do neoliberalismo que eu chamo de grande mídia, uma adesão muito consistente de vastos setores de centro-direita e centro que convergem para esta grande mídia para balizar sua agenda política, para se mover de acordo com ela. E também existe na alta administração pública um sistema de organização política de privilégios e, em parte, de corrupção que também é utilizado como elemento político do sistema. Isso é notório no caso da Petrobras, quando a Procuradoria partiu o depoimento do delator, não permitindo que ele falasse sobre quem estava envolvido no Congresso, para não levar a competência ao Supremo Tribunal Federal, que ficaria em segredo de justiça. Cortou esse depoimento e trouxe para a primeira instância, para que pudesse ser divulgado para ajudar a campanha do Aécio. Isso é ilegal? Acho que não. É uma manipulação legitimadora de uma arma política da direita para interferir no processo eleitoral. Uma coisa é a instância da legalidade e outra a da política. Às vezes elas se comunicam, às vezes não. Nesse caso, quando os depoimentos foram abertos, começou uma campanha que eu chamo de extensão do horário eleitoral do Aécio no Jornal Nacional.

Sul21 – O PT que elegeu Lula é diferente do PT de hoje?

Tarso - Sim, em aspectos positivos e negativos. O Partido adquiriu capacidade de gestão e de fazer políticas sociais, elevou a condição social de 50 milhões de pessoas. E negativo: parte do partido oportunista utilizou o poder para seus grupos políticos. Um aproveitamento normal que sempre é feito pelos partidos, mas não do campo da esquerda. Para nós, isso se torna mais grave, porque um partido de esquerda e de tendência socialista não pode proceder dessa forma quando chega ao governo.

Sul21 – Há uma forma de evitar isso?

Tarso - Com uma reforma política profunda que tenha no mínimo duas consequências: alianças verticais (partido tem que ser nacional); proibição de financiamento privado, pelo menos por parte das empresas (talvez R$ 5 mil por pessoa física). E, ainda, votação em lista, porque nesse sistema que está aí, as candidaturas internas se fortalecem para competir com os próprios colegas, o que gera jogo de interesses ainda maior. Isso pode não salvar a esquerda brasileira – porque ela não está morrendo, passa por muitas dificuldades – mas salvar a própria credibilidade da democracia.

Sul21 – O eleitor consegue entender as alianças como estão sendo feitas?

Tarso - Não consegue entender. É um dos elementos dessa deformidade do sistema político e que alimenta aquela visão totalitária de extinção da política e de degeneração dos partidos. Tanto é que a maioria vota nas pessoas, não nos partidos. Isso está relacionado com a volatilidade do eleitorado, que gera até insegurança no projeto democrático, porque é um canteiro de oportunismos e de transformação da política em marketing e em espetáculo.

Sul21 – Marina diz que apoia Aécio sem pedir nada em troca. Isso acontece em política?

Tarso - Isso não é verdadeiro em política. Os políticos podem fazer acordos e deixar isso transparente à sociedade. Mas isso é feito às vezes de maneira espúria. A política correta dita, de maneira expressa, as concessões que os partidos fazem para poder se unir no segundo turno. Essa visão contamina o processo político e gera maior falta de credibilidade nos partidos.

Sul21 – Quais as concessões feitas pelos partidos da sua coligação?

Tarso – Agora, no segundo turno, nenhuma concessão. Foram conquistas construídas através da Secretaria do gabinete dos prefeitos. Os prefeitos que nos apoiam e são de outros partidos o fazem em função da qualidade do tratamento que tiveram, republicano,  na nossa ação governamental. Em relação à formação do governo, fizemos concessões. Chamamos o PTB e o PDT para governar conosco, dissemos que participariam de nosso governo de acordo com a força deles na Assembleia. Foi uma concessão transparente anunciada por nós.

Sul21 – Se reeleito, com quem vai conversar, além do PDT?

Tarso - Vou fazer visita a todos os partidos. O mais importante para a composição de governo é o PDT, que já esteve conosco e ajudou a construir nosso governo. E depois teve candidatura própria, fez bonito, fez quase 5%. Eu gostaria que voltasse a integrar o governo conosco. Vamos fazer as concessões que forem adequadas.

Sul21 – O que consta do seu programa de governo em relação à mobilidade urbana da Região Metropolitana?

Tarso – Metrô, aeromóvel a Canoas, duplicação da Estrada do Conde e Caminho do Meio e integração tarifária na Região Metropolitana.

Sul21 – Do que mais o senhor se orgulha entre as realizações de seu governo?

Tarso - Não seria uma, mas duas as que mais me emocionam. O RS Mais Igual, que é a complementação de renda para as famílias mais pobres, com 75 mil famílias atingidas, injetamos mais dinheiro entre as mais pobres do Bolsa Família, com filhos até os seis anos. E o fato de tirarmos o RS da humilhante condição do 11º lugar em educação básica para o segundo lugar.

Sul21 – O ex-governador Olívio Dutra costuma dizer que nunca quis ser candidato, que sempre cumpriu uma missão. O senhor também é candidato de uma missão, para defender um projeto?

Tarso - É verdadeiro. Só agregaria nesta minha condição que fui candidato de projeto não como político profissional, tanto que meu patrimônio pessoal fiz através da minha profissão. Mas em determinado momento eu fiz questão de ser candidato, na Constituinte, mas lamentavelmente fiquei na primeira suplência. Depois fui titular na Câmara Federal.  As demais candidaturas que assumi sempre foram em cima de um projeto de interesse partidário.

Sul21- Quais pontos fortes e fracos de seu adversário?

Tarso - Não gostaria de falar em pontos fracos. Pontos fortes: é uma pessoa honrada, nada pesa contra ele que eu saiba, administrador respeitado, prefeito de Caxias duas vezes, certamente não foi reeleito de graça.

*Colaborou Lorena Paim

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: