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1% mais rico tomou dois terços da riqueza global desde 2020

Artigo de Ben Norton sobre o relatório da Oxfam 'A Sobrevivência dos Mais Ricos'

(Foto: Abr)

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Artigo de Ben Norton originalmente publicado no Political Economy Report, traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o 247

Na década passada, o 1% das pessoas mais ricas da Terra sugaram metade de toda nova riqueza. Em 2020 e 2021, o 1% mais rico tomou quase dois-terços de toda a nova riqueza --um valor seis vezes maior que a riqueza produzida pelos 90% mais pobres da população global.

“Desde 2020, para cada dólar de nova riqueza global ganho por alguém nos 90% de baixo, um dos bilionários do mundo ganhou US$ 1,7 milhão”, escreveu a Oxfam.

Neste interim, a pobreza global está ficando pior, não melhor.

Estas estatísticas chocantes foram publicadas no 'A Sobrevivência dos Mais Ricos', um relatório de autoria da Oxfam, uma organização humanitária internacional dedicada a lutar contra a pobreza e a fome.

O documento detalha como, enquanto centenas de milhões de trabalhadores em todo o planeta sofrem com a fome, a insegurança, aumentos do custo de vida e salários decrescentes, “os muito ricos se tornaram dramaticamente mais ricos e os lucros corporativos bateram recordes de alta, levando a uma explosão de desigualdade”.

A Oxfam escreveu:

  • Desde 2020, o 1% dos mais ricos capturou quase dois-terços de toda nova riqueza --quase o dobro de dinheiro que os 99% restantes da população mundial
  • As fortunas bilionárias estão aumentando em US$ 2,7 bilhões por dia, ao mesmo tempo que a inflação ultrapassa os salários de pelo menos 1,7 bilhão de trabalhadores, mais do que a população da Índia
  • As empresas de alimentos e de energia mais do que duplicaram os seus lucros em 2022, pagando US$ 257 bilhões para acionistas ricos, enquanto 800 milhões de pessoas foram dormir com fome
  • Apenas 4 centavos de cada dólar de imposto de renda vêm de impostos sobre a riqueza, e metade dos bilionários do mundo vivem em países sem imposto sobre herança
  • Um imposto de até 5% sobre os multimilionários e bilionários do mundo poderia levantar US$ 1,7 trilhões por ano, o suficiente para tirar 2 bilhões de pessoas da pobreza e financiar um plano global para acabar com a fome.

O relatório foi publicado em 16 de janeiro, para coincidir com o início do Fórum Econômico Mundial, um encontro anual que reúne as elites capitalistas do mundo.

A Oxfam explicou: "enquanto os bilionários, líderes de governo e executivos corporativos chegam em jatinhos para se reunirem no topo da sua montanha em Davos, Suíça, o mundo enfrenta um conjunto dramático, perigoso e destrutivo de crises simultâneas. Estas estão tendo um impacto terrível sobre a maioria das pessoas” no planeta.

Segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, o desenvolvimento humano está decrescendo em mais de 90% dos países.

Em 2022, o índice de desenvolvimento humano declinou durante dois anos seguidos --pela primeira vez, desde que o UNDP começou a calculá-lo 12 anos antes.

No seu relatório “Survival of the Richest”, a Oxfam afirma que “a própria existência de bilionários em expansão e de lucros recordes, enquanto a maioria das pessoas enfrentam a austeridade, a crescente pobreza e uma crise do custo de vida, são evidências de um sistema econômico que falhou em funcionar para a humanidade”.

A Oxfam argumenta que uma das principais razões para este aumento estonteante da desigualdade é um grande declínio na taxação.

Desde o surgimento da fase neoliberal do capitalismo nos anos 1980, os impostos sobre os ricos diminuíram significativamente em todo o mundo.

Hoje em dia, os oligarcas bilionários quase não pagam impostos. Elon Musk pagou uma taxa de imposto de somente 3,2% nos anos recentes, enquanto Jeff Bezos pagou menos de 1%.

“As taxas mais altas sobre a renda se tornaram mais baixas e menos progressivas, com a taxa média sobre os ricos caindo de 58% em 1980 para 42% mais recentemente nos países da OCDE”, reporta a Oxfam. “Em 100 países, a taxa média é mais baixa ainda, em 31%”.

“As taxas de imposto sobre ganhos de capital --na maioria dos países, esta é a fonte mais importante de renda para o 1% do topo-- são de apenas 18% em média em mais de 100 países”, acrescenta a organização humanitária.

Os dados mostram claramente que, à medida que os impostos sobre os ricos declinaram, a porcentagem de renda que foi para o 1% do topo aumentou. Menos impostos significam que os ricos ficam mais ricos.

A Oxfam assinala: "os impostos sobre os ricos poderiam ser muito mais altos. Nos EUA, a renda marginal mais alta de imposto de renda federal era de 91% entre 1951 e 1963; as taxas mais altas de imposto sobre heranças estava em 77% até 1975; e a taxa de imposto corporativo estava um pouco acima de 50% entre 1950 e 1960. Havia níveis similares de impostos em outras nações ricas".

A Oxfam assinala que “estes altos níveis de impostos... existiram juntamente com algumas das décadas de maior sucesso de desenvolvimento econômico já vistas".

A organização humanitária conclamou os governos do mundo a aumentar os impostos sobre os ricos e a investir mais dinheiro em serviços sociais e programas que ajudam os trabalhadores.

“Para romper o círculo desacreditado de acumulação sem fim de riqueza dos bilionários, os governos precisam tratar das muitas maneiras nas quais a economia está manipulada em favor deles, incluindo as leis trabalhistas, a privatização de ativos públicos, as compensações dos CEOs e muito mais”, urge a Oxfam.

A ONG também ressalta como a desigualdade exacerba a crise global de mudanças climáticas.

A Oxfam diz que a sua pesquisa mostra que “um bilionário emite um milhão de vezes mais carbono do que a pessoa média, e há uma probabilidade que os bilionários invistam o dobro do investidor médio em indústrias poluentes, como os combustíveis fósseis”.

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