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Lições que a eleição do México deixa para a esquerda brasileira

A esquerda brasileira deve analisar criteriosamente as últimas eleições do México

(Foto: Prensa Latina)

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Por Beatriz Luna Buoso (*) - A esquerda brasileira deve analisar as últimas eleições do México, caracterizadas por três importantes questões: a vitória do Morena (Movimento de Regeneração Nacional) e sua continuidade na presidência por meio da primeira mulher eleita no país, Claudia Sheinbaum; a consolidação da esquerda e a força de um partido bem organizado.

Recentemente tivemos uma importante vitória no México. Claudia Sheinbaum foi a primeira mulher eleita, consolidando a esquerda no país, seguida do governo de André Manuel López Obrador (AMLO), que deixa seu mandato com uma aprovação popular de 60%. Ambos presidentes fazem parte do jovem partido Morena, fundado e liderado por López Obrador em 2011. 

Logo nas primeiras eleições disputadas em 2015, o partido obteve sucesso considerável ao ganhar a prefeitura de várias cidades importantes e ocupando assentos na Câmara dos Deputados. Este desempenho estabeleceu o partido como uma força emergente na política mexicana, até então com hegemonia absoluta da direita em todos os espaços.

Em menos de uma década de fundação, em 2018, na eleição presidencial, acontece o grande marco histórico do Morena, que com uma margem de 53% dos votos elege López Obrador como presidente e também maioria no Congresso, consolidando seu poder político e a possibilidade de uma nova hegemonia política no México, depois de mais de 40 anos da direita no poder.

E nos últimos dias acompanhamos a segunda vitória eleitoral, que foi um acontecimento extremamente significativo por diversos fatores. Claudia Sheinbaum é a primeira mulher eleita como presidenta do México. Companheira de partido do seu antecessor, Sheinbaum possui uma trajetória política bastante popular e bem avaliada, acumulando vários cargos eletivos, inclusive como governadora da Cidade do México. Além de ganhar com uma vantagem de 58,4% contra 28,5% da opositora, ela assume a presidência com um forte apoio popular, já que AMLO sai da presidência com um mandato aprovado por mais da metade da população mexicana. Todos esses fatores marcam uma virada de chave no sentido da consolidação da esquerda no país.

É certo que cada processo eleitoral é diferente, dependendo da conjuntura, da história, da cultura democrática e da relevância geopolítica de cada país, mas de todos eles se podem extrair lições interessantes que, em sua justa medida, podem servir como aprendizado político. O triunfo do Morena no México sob liderança de López Obrador oferece várias lições importantes que podem ser aplicadas pela esquerda brasileira, ao tentar uma reeleição. Atrevo-me a expor alguns dos elementos que considero importantes e que devemos refletir.

O primeiro ponto, super comum em qualquer roda de conversa de militantes, é sobre o trabalho de base que a esquerda tem deixado de fazer. Uma marca importante do Motrena, que assim como o PT da fundação tinha como prioridade, é o diálogo e a politização do povo. Após muitos anos observando a direita mexicana engravatada falando com o povo, no palanque em hotéis de luxo, o Morena levou debates políticos para os espaços públicos, como parques e praças. O partido mexicano identificou que era fundamental transmitir conceitos, debater ideias, falar menos e ouvir mais os cidadãos. E mais importante: esse movimento foi feito independente do período de eleição. Politizar o povo foi uma estratégia fundamental para a consolidação da esquerda no México, e deve ser uma das prioridades de toda esquerda brasileira.

Outro ponto fundamental, é a democracia interna do Morena. A escolha dos candidatos, por exemplo, não cabe somente à direção do partido. Os candidatos apresentam seus currículos e suas propostas numa assembleia, e a escolha é realizada por voto universal, envolvendo milhões de filiados. Desta forma os filiados se sentem pertencentes de verdade ao partido, e importantes no processo, e os candidatos têm um prestígio, já que são escolhidos pela maioria do partido. Sheinbaum, por exemplo, concorreu com cinco homens nas internas do partido e foi escolhida pela militância para suceder López Obrador.

Além desse processo interno para decidir sobre os candidatos, Morena também faz uma extensa consulta pública, como fez recentemente para discutir a agenda 2024-2030, com os cidadãos mexicanos. A militância do partido, junto com o povo, se reúne em fóruns e reuniões até mesmo de bairro, para discutir projeto de nação.

Importante destacar também a voz que o partido deu para os setores que historicamente são excluídos e invisíveis na sociedade, como pessoas negras, mulheres, povos originários, população LGBTQIA+, para participarem da construção de um projeto de país. Não à toa, mesmo com a incessante violência de gênero no México, o governo conseguiu avançar em pautas importantíssimas, como por exemplo, a legalização do aborto.

AMLO e Morena também conseguiram um feito muito importante, que foi atrair jovens e novos eleitores. A esquerda brasileira também deve intensificar seus esforços para engajar a juventude, abordando temas relevantes e incluindo os jovens em suas estruturas de decisão.

Este conjunto de fatores permitiu ao Morena não somente vencer as eleições, mas também consolidar-se como uma força política capaz de liderar a transformação que o México necessita, assim como o Brasil. Politizando o povo, fazendo um trabalho de base forte, é possível sim radicalizar o discurso à esquerda. O povo politizado se envolve, caminha junto, e esse envolvimento na construção do projeto de nação é fundamental para ganhar a confiança e o apoio necessários. E claro, não deixemos de lado a democracia interna dos partidos progressistas brasileiros.

(*) Socióloga e pedagoga  

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