As perguntas que a Agência Lupa se nega a responder
A jornalista Cris Tardáguila, que dirige a Agência Lupa e se propõe a fiscalizar a mídia independente no Brasil, se negou a responder questões enviadas pelo 247 sobre suas fontes de receita, suas ligações com outros meios de comunicação, como Globo e Folha, e seus conflitos de interesse – o que contraria as diretrizes éticas determinadas pela Poynter, organização usada pelo Facebook para selecionar seus parceiros para esse trabalho de combate a "fake news", que ameaça se tornar a nova forma de censura
247 – A jornalista Cris Tardáguila, que dirige a Agência Lupa e se propõe a fiscalizar a mídia independente no Brasil, se negou a responder questões enviadas pelo 247 sobre suas fontes de receita, suas ligações com outros meios de comunicação, como Globo e Folha, e seus conflitos de interesse – o que contraria as diretrizes éticas determinadas pela Poynter, organização usada pelo Facebook para selecionar seus parceiros para esse trabalho de combate a "fake news".
"Nossa parceria com as agências de verificação de fatos é resultado do feedback que recebemos da nossa comunidade, que não quer ver notícias falsas. Nossos parceiros de verificação de fatos são reconhecidos internacionalmente, com certificação e auditoria pela organização apartidária Poynter. O trabalho deles é verificar fatos, não ideias, seguindo rigorosos padrões de apuração e checagem", informa o Facebook.
A Poynter define cinco princípios que devem ser seguidos pelos checadores de informações: (1) senso de justiça e apartidarismo, (2) um compromisso com as fontes de informação, (3) o compromisso de ser transparente quanto às fontes de financiamento, (4) o compromisso com a transparência da metodologia e (5) o compromisso de corrigir os próprios erros (saiba mais aqui).
Ao não reparar seu erro, como vêm exigindo os internautas na página da própria Lupa (saiba mais aqui) e não detalhar suas fontes de financiamento, a Lupa não está agindo em conformidade com os princípios éticos da Poynter e, por isso mesmo, poderá ser descredenciada pelo Facebook, caso a Poynter avalie o caso com profundidade.
Confira, abaixo, as questões enviadas nesta manhã pelo jornalista Mauro Lopes, editor do 247, que foram ignoradas pela diretora da Lupa:
Cris, bom dia,
Sou Mauro Lopes, editor do site Brasil 247.
Estamos preparando uma reportagem sobre as agências de checagem, em especial sobre a Agência Lupa, que irá ao ar hoje no começo da tarde.
Envio-lhe as questões a seguir para resposta até 14h, por favor
Está escrito no site da Agência Lupa que: "Pelos próximos anos, a Lupa ficará incubada no site da revista piauí, no modelo de startup. A Editora Alvinegra, que publica a revista mensalmente, é o principal investidor da agência e aposta em seu fortalecimento, aportando mensalmente a quantia necessária para seu funcionamento pleno e legal."
Além disso, quando a agência foi criada, você concedeu entrevista ao Portal Imprensa e disse ter fechado contrato com a Globonews, que pertence ao grupo Globo. Disse ainda que gostaria de ser parceria de um jornal por estado e de algumas rádios.
Perguntamos:
1. A Agência Lupa mantém contratos de parceria com veículos de comunicação, como a Globonews? Se sim, faz checagem dos conteúdos? Pode nos informar quais são todos os meios de comunicação que patrocinam ou já patrocinaram a Lupa? Vocês fazem checagem dos veículos de comunicação que patrocinam a Lupa? É compatível checar conteúdos de um veículo com os quais a agência mantém contrato (e do qual, portanto, recebe dinheiro)?
2. A agência considera a revista Piauí um veículo de comunicação? Se sim, faz checagem das reportagens publicadas na Piauí?
3. É compatível eticamente checar as noticias da revista que i) hospeda o site de vocês e ii) pertence à mesma editora que é proprietária/investidora da Lupa?
4. A Editora Alvinegra pertence à família Moreira Salles, historicamente ligada ao setor financeiro. Atualmente, a família é uma das maiores acionistas do Banco Itaú Unibanco e alguns de seus membros são inclusive atuantes na instituição, como seus conselheiros, sendo um deles nada menos que presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco. Há aqui um segundo conflito ético evidente: como é que vocês podem ser independentes na checagem de notícias sobre o setor financeiro sendo financiados por este setor?
5. Qual foi o valor investido até agora por João Moreira Salles em seu projeto? Houve outros investidores privados?
6. Qual é a sua equipe e o currículo dos profissionais que fazem a checagem das informações publicadas? As informações sobre a equipe no site são sucintas e não há garantia de estarem atualizadas. Você pode nos fornecer as informações detalhadas e atualizadas?
7. Ainda sobre o assunto da sustentação da agência: o Brasil 247 tem uma visão reconhecidamente crítica em relação ao papel do setor financeiro no país, tendo realizado reportagens críticas em relação ao banco Itaú Unibanco. Você não vê incompatibilidade ética em checar notícias de um portal que é crítico em relação à instituição da família de seus investidores?
8. O endereço eletrônico da Agência Lupa é http://piaui.folha.uol.com.br/lupa. Portanto, a sede eletrônica da agência é nas instalações do UOL, do Grupo Folhas. Vocês fazem checagem nas reportagens do UOL? Vocês fazem checagem nas reportagens da Folha de S. Paulo? Vocês consideram eticamente aceitável avaliar os veículos em cujo endereço eletrônico a agência está sediada?
9. Os leitores da Agência Lupa cobram, no Facebook, que vocês se retratem em relação ao erro cometido na cobertura do caso Juan Grabois/Lula. Vocês estão preparando uma retratação?
10. Os algoritmos do Facebook têm o poder de determinar o alcance de várias publicações. Ao mesmo tempo, a Constituição Brasileira garante a liberdade de expressão e veda qualquer tipo de censura prévia. Como vocês pretendem conciliar o poder de polícia da informação que exercem com as garantias fundamentais da Constituição brasileira?
11. No episódio de Juan Grabois, vocês penalizaram alguns sites da mídia independente, sem que tivessem ouvido o outro lado, princípio basilar do jornalismo. Você considera este procedimento eticamente aceitável?
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