Exame: o mercado escolheu Aécio. E o eleitor?
Constatação sobre preferência explícita do mercado financeiro por Aécio Neves vem acompanhada de pegadinha na revista econômica do grupo Abril; exclusivamente em off, empresários ameaçam cortar investimentos e até levar planta industrial para outro país no caso de reeleição de Dilma Rousseff; economista Kenneth Maxwell escreve que associação direta do mundo financeiro com Aécio pode custar votos a ele e ajudar Dilma; verniz jornalístico – em off – sobre campanha explícita de Exame pega bem?
247 – É certo, pelos picos da Bolsa de Valores a cada fato, projeção ou desejo a favor da candidatura de Aécio Neves, do PSDB, que o mercado financeiro 'comprou' a candidatura dele. Ao fazer essa constatação, no entanto, a revista econômica Exame, do grupo Abril, comete uma pegadinha com seu leitor. Rigorosamente em off, três líderes de empresas surgem nos primeiros parágrafos da reportagem de capa – Mudar ou continuar? – para não menos que detonar qualquer expectativa que possa haver de positiva sobre um segundo governo Dilma.
O primeiro, sem nome e sem rosto, diz que "se Dilma ganhar, eu vou imediatamente reduzir meu plano de investimento". Mas, prossegue em destaque "o presidente de uma das 500 maiores empresas do Brasil", "se a oposição vencer, eu volto a investir no dia seguinte". Chega a ser engraçado um líder de empresa dar este tipo de contribuição à eleição sem mostrar a cara – não tem coragem para assumir nem uma posição a favor nem uma contra -, mas é bastante inusitado para uma publicação que se considera digna de registro publicar este tipo de ataque à ordem econômica sem maiores responsabilidades sobre a autoria. Fica, apenas e tão somente, a garantia de que alguém entre as "500 maiores" vai frear abruptamente e, como consequência, vai diminuir a produção, parar de contratar, cortar empregos e assim por diante, na linha do 'tudo vai piorar'.
Não satisfeita com a primeira ameaça invisível, no parágrafo seguinte "o presidente da filial de uma multinacional", cujo nome, no padrão Exame, não aparece, multiplica a ameaça anterior. Esse personagem assegura que a tal multinacional pode suspender a decisão de investir R$ 200 milhões em uma nova fábrica no Brasil. O off tem até percentuais envolvidos:
- A matriz resolveu fazer conta e hoje há 50% de chance de investirmos para aumentar a produção e outro país e importar de lá, diz a fonte.
Após dinamitar qualquer possibilidade de equilíbrio na, considera-se, reportagem de capa, Exame conta que uma pesquisa com 800 empresários resultou em 92% de preferências para Aécio Neves na eleição presidencial.
Candidamente, a porta-voz do grupo Abril para o mercado financeiro conclui que o resultado da eleição "é imprevisível".
A pequena mão de verniz para dar cera de jornalismo a uma peça que ressoa como de propaganda política pode não ajudar muito a quem ela é decida. No jornal Folha de S. Paulo, o economista Kenneth Maxwell registrou que a associação direta do mercado financeiro e especulativo ao candidato do PSDB pode não ser boa para o próprio Aécio. Haveria uma contrapartida no voto popular.
A euforia dos especuladores com as chances de Aécio de manifestou mais uma vez nesta segunda-feira 13, quando as ações da Petrobras subiram 10% logo no início do pregão da Bovespa. Mais impressionante, porém, é o rali que as ações da estatal desenvolvem no mercado de opções, no qual os profissionais do mercado fazem as maiores apostas. Ali, desde o primeiro dia de outubro, o ticker PETRJ73 se valorizou 462%, com alta hoje de 125%. Durante o processo eleitoral, a Petrobras recuperou R$ 24 bilhões em valor de mercado. Fica claro que a empresa exibe todos os requisitos para conquistar a confiança do chamado investidor – desde que esteja sob o controle da política econômica do PSDB.
Quem tem medo da Bolsa, tem medo dessas oscilações bruscas motivadas pelo quadro eleitoral e se mantém fora dela. O mercado de capitais se desenvolveu no Brasil, mas está longe de ser popular. As armações de ganhos entre os especuladores podem custar ganhos eleitorais na reta final.
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