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    Ministro fala demais e provoca pânico

    Nessa semana, Francis Maude, chefe de gabinete do premiê britânico, falou demais e gerou uma crise sem precedentes para o governo do Reino Unido

    João José Forni avatar
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    Há um provérbio italiano que diz: La parola è d'argento, il silenzio è d'oro. Francis Maude, chefe de gabinete do primeiro-ministro britânico, David Cameron, não deve conhecê-lo. Porque esta semana falou demais e gerou uma crise sem precedentes para o governo do Reino Unido.

    Diante da ameaça dos sindicatos dos petroleiros ingleses de desencadear uma greve durante os feriados de Páscoa, o ministro recomendou à população estocar combustível extra, em um galão, na própria garagem de casa. “Essa é uma precaução sensata a tomar”, assegurou a autoridade na terça-feira.

    Além de extremamente infeliz e contrária a qualquer recomendação de segurança, estocar combustível é uma prática ilegal. A partir deste fim de semana, começa o recesso de Páscoa, de duas semanas, nas escolas da Europa, período considerado de férias intermediárias. As famílias costumam viajar nesse período.

    Na noite de quarta-feira, uma senhora de 46 anos, ao transportar combustível, na cozinha da própria casa, provocou um incêndio que a deixou “totalmente desfigurada”, porque as chamas tomaram conta do seu corpo. Está internada em estado grave. Diante da infeliz recomendação, membros do Parlamento inglês responsabilizaram o ministro pelo acidente e pelo pânico em muitos postos de gasolina do Reino Unido. “Ele agiu de maneira completamente estúpida e é o culpado pelas enormes filas nos postos de combustível”, disse um deputado.

    A ameaça de greve e a recomendação da autoridade fez motoristas correrem aos postos para abastecer, antes dos feriados. Outros, porque precisam do carro para trabalhar. Serviços essenciais, como táxis e carros de serviço, foram prejudicados pelo alarme desnecessário, uma vez que os sindicatos asseguraram que só irão discutir o aumento após os feriados. Filas enormes nos postos da capital e do interior lembraram o período da crise do petróleo, na década de 70. O consumo de gasolina aumentou 170% na semana, e o de diesel 70%.

    Um quinto dos 8 mil postos de combustível do Reino Unido estavam zerados ou racionavam na noite de sexta, 30. Muitos postos restringiam a venda à população. A Associação da Indústria do Petróleo descreveu a crise como "insanidade auto-infligida". O governo é acusado de desencadear o pânico ao recomendar um plano de contingência totalmente insano.

    Como diz o jornal londrino The Guardian, “Como as bombas começaram a secar, o jogo da culpa começou”. A associação de proteção aos motoristas e os consumidores também culpam o governo pelo caos. E o sindicato dos petroleiros lava as mãos. “Uma bagunça totalmente desnecessária", disse o presidente da associação. “Não será surpresa se o resultado do conselho do ministro resulte na falta de combustível no pais”. O sindicato dos bombeiros chamou atenção dos ministros para fazerem "um anúncio público de segurança alertando para o perigo de estocar combustível em casa".

    O que leva autoridades experientes a cometerem esses deslizes? No Brasil, existem casos históricos, não apenas com declarações infelizes em entrevistas, mas também em comentários captados por indiscretos microfones, como foi o caso do ex-Ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em 1993, quando falou bobagens antes de uma entrevista à TV Globo, sem saber que o microfone estava aberto. As declarações infelizes levaram o então presidente Itamar Franco a demiti-lo.

    Os especialistas em Media Training atribuem esses deslizes em parte à necessidade de aparecer, querer ser simpático com os jornalistas. Ou à inexperiência da autoridade. É um momento de descontração, quando a fonte baixa a guarda e julga que a conversa não faz parte da entrevista ou que esta já acabou. O ministro inglês ainda tentou justificar sua infeliz declaração, dizendo que sua estratégia foi intensificar a pressão sobre o sindicato, que estava ameaçando desencadear a greve nos feriados. Nem assim, o conselho descabido se justificaria. Existem outras estratégias para negociar, que certamente não necessitariam de um conselho capaz de desencadear uma crise para o governo britânico, num momento em que crise é o que não falta na Europa.

    Já há interlocutores tentando colocar panos quentes no imbróglio, dizendo que “nós não devemos transformar um drama numa crise. Motoristas precisam controlar seus nervos e, se ministros sentem a necessidade de intervir, eles devem tentar fazer a cabeça dos empregados e dos sindicatos juntos para resolver esta disputa industrial – e não oferecer conselhos contraditórios e questionáveis a motoristas, que só servem para aumentar o pânico”.

    Nesta sexta-feira (30), o próprio Primeiro-Ministro David Cameron procurou tranquilizar os motoristas de que não faltará combustível nos feriados. Ou seja, o chefe do gabinete perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.

    João José Forni é formado em Letras e Jornalismo e administra o site Comunicação e Crise

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