O bom jornalismo e as escutas dos EUA
A questão dos grampos e escutas de Washington requer uma discussão profunda que envolva todos os atores internacionais. Nada melhor que a ONU para isso
É sempre delicioso ver uma reportagem digna do bom e velho jornal impresso. Boa apuração, checagem séria de fontes, texto bem escrito (e de fácil entendimento para o leitor) e edição caprichada. Além do sentimento que deveria mover todo repórter: o furo (claro que feito com responsabilidade e não apenas um panfleto inflamável).
Foi esse material digno que o jornal O Globo começou a publicar aos leitores no último dia 7, sobre os cabeludos esquemas de espionagem praticados pelos EUA em terras tupis.
Li muitos articulistas opinarem que "ah, todos sabiam disso". Concordo, mas ninguém fazia ideia da profundidade das coisas. Ou alguém suspeitava que a Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês) pudesse ter acesso ao conteúdo de nossos e-mails e telefonemas? Acredito que não.
O que não é de ficar surpreso é a total falta de segurança dos equipamentos de segurança do governo brasileiro. Algumas tecnologias são constrangedoras de tão arcaicas.
Reportagens do Globo e da Folha de S.Paulo deste domingo apontam que o governo Dilma gastou menos de 10% do orçamento para o setor. A vulnerabilidade é visível a qualquer um.
Todavia, isso não isenta a atitude criminosa do governo dos EUA em espionar o planeta inteiro. Washington tem dificuldade em vasculhar países como Coreia do Norte, China e Rússia – a sucessora da URSS voltou a utilizar máquinas de escrever para produzir documentos confidenciais e dificultar a vida dos agentes da Inteligência da Casa Branca. Uma lembrança da Guerra Fria.
Reação brasileira
O Brasil fez bem em condenar o ato dos EUA, assim como o lamentável comportamento de países europeus que se negaram a receber o avião do presidente Evo Morales para reabastecimento. Vale lembrar que a Europa, nesse caso, foi contra as leis internacionais. Se isso não vale uma punição, podemos simplesmente "brincar de política".
A questão dos grampos e escutas de Washington requer uma discussão profunda que envolva todos os atores internacionais. Nada melhor que a ONU para isso. Temo que, mais uma vez, a delegação da maior potência do mundo bloqueie as conversas e o tema caia no vazio.
Como sinto falta daquele Obama do lendário "Yes, we can".
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