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    Desafios para a Argentina

    A presidenta Cristina Kirchner, na metade de seu segundo mandato, tem pela frente alguns desafios a serem enfrentados para aprofundar as reformas que resgataram a nação vizinha da estagnação

    José Dirceu avatar
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    Na última semana, neste mesmo espaço, falei sobre a "década ganha" na Argentina, que, sob os governos de Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner (a partir de 2007), iniciou um modelo de desenvolvimento econômico inclusivo, que superou grave crise econômica de 2001, restabeleceu a estabilidade econômica do país e devolveu aos argentinos a autoestima perdida pelos fracassos das administrações anteriores, guiadas pelo receituário neoliberal.

    Mencionei diversas conquistas, as quais, reconhecidas pela população, resultaram na reeleição da presidenta Cristina em 2011. Mas, como os processos históricos são dinâmicos e requerem constante evolução, a presidenta, na metade de seu segundo mandato, tem pela frente alguns desafios a serem enfrentados para aprofundar as reformas que resgataram a nação vizinha da estagnação.

    Depois de reduzir drasticamente o desemprego, que caiu de 17,3% para 7,9% entre 2003 e 2012, o governo argentino terá pela frente o desafio de melhorar a qualidade dos empregos criados, já que o trabalho informal, embora também tenha caído bastante no período —de 45% para 34,6%— continua alto. Isso significa muitos trabalhadores sem acesso ao sistema previdenciário e a direitos trabalhistas, como férias, seguro-desemprego e auxílio-doença. Com o crescimento da produção industrial e agrícola, aumentaram também os índices de acidentes de trabalho nas linhas de produção, construção, estradas e portos, o que só pode ser prevenido e evitado por meio de relações de trabalho formalizadas e pelo cumprimento das legislações trabalhistas do país.

    O crescimento verificado no período também trouxe à tona a realidade de uma infraestrutura insuficiente, seja pelo próprio aumento da demanda e pela obsolescência natural da rede logística, seja também porque a questão foi postergada por muito tempo. A insegurança, as vias congestionadas pelo trânsito intenso, a escassez de estradas e a pouca utilização dos trens elevam os preços e tiram a competitividade da economia como um todo e, em especial, do setor agropecuário.

    A Argentina, dona de um solo e de um clima fantásticos para a agricultura, tem grandes possibilidades no cenário mundial e pode se tornar um dos principais provedores de alimentos do mundo, desempenhando importante papel no abastecimento de grãos, carne, azeites e biocombustíveis. Para tanto, é preciso ampliar e melhorar a eficiência do transporte intermodal (rodovias, transporte fluvial e ferroviário) e dar mais competitividade aos pontos de produção, principalmente às economias regionais distantes dos centros de consumo e dos portos.

    No setor energético, a combinação da queda da produção de petróleo, que declinou 7,74% nos últimos cinco anos, com o crescente aumento da demanda —22% no mesmo período— gerou um déficit que obrigou o país a aumentar suas importações e seus gastos com combustível. No ano passado, as importações do setor somaram US$ 9,3 bilhões, enquanto o superávit do país ficou em US$ 12,7 bilhões. Já no primeiro trimestre deste ano, as importações de combustíveis e lubrificantes cresceram 57% e passaram de US$ 1,3 bilhão para US$ 2 bilhões. O superávit comercial no período caiu de US$ 2,5 bilhões para US$ 1,3 bilhão. A recuperação da companhia YPF, nacionalizada em abril do ano passado, e a descoberta de grandes reservas de petróleo e gás de xisto na província de Neuquén, ainda não exploradas, são a esperança de um futuro mais promissor para o setor.

    A inflação, que se manteve acima dos 10% anuais desde 2007, chegando a níveis mais altos em alguns períodos, como em 2012, quando alcançou 22,8%, é uma preocupação inegável tanto para a presidenta quanto para a população. O governo vem adotando medidas emergenciais para evitar a alta dos preços, como o recente congelamento de itens da cesta básica e a flexibilização das importações, o que não diminui a necessidade de ações mais efetivas para garantir o poder de compra dos trabalhadores e impulsionar os investimentos.

    Por fim, a continuidade dos investimentos em programas sociais e de transferência de renda, cruciais para a diminuição da pobreza na última década, em Educação, Saúde e Habitação também está entre os desafios do atual governo para continuar combatendo as desigualdades.

    As eleições legislativas de outubro e o fortalecimento do peronismo (Partido Justicialista), movimento a que pertence a presidenta Cristina Kirchner, serão decisivos para os destinos da Argentina nos próximos anos. Nas urnas, os argentinos poderão afirmar mais uma vez seu desejo de continuar mudando, construindo bases seguras para enfrentar as dificuldades e aproveitar as oportunidades que estão por vir.

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