Em Hong Kong, manifestantes 'pró-democracia' carregam bandeiras dos EUA
A jornalista e comentarista política sérvia-americana Nebojsa Malic, da redação de Russia Today, revela a interferência externa nos acontecimentos em Hong Kong, onde os manifestantes carregam bandeiras dos Estados Unidos, em nome da "liberdade, dos direitos humanos e da democracia".
Por Nebojsa Malic, em Russia Today - Se a iconografia, o tom dos protestos em Hong Kong e o apoio dos diplomatas dos EUA não bastassem, as palavras de preocupação de Washington certamente parecem sugerir que as manifestações em curso equivalem a uma "revolução colorida".
Na segunda-feira (12), o governo Trump instou "todos os lados a absterem-se da violência". Ao mesmo tempo em que o presidente dizia que Hong Kong é um assunto interno chinês, um funcionário graduado da Casa Branca, declarou em anonimato que os EUA apoiavam os que "buscavam a democracia".
O principal aliado legislativo do presidente, o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell (R-Kentucky), foi muito mais direto: "Qualquer repressão violenta seria completamente inaceitável ... O mundo está assistindo".
Não podemos deixar de lembrar que o mesmo fraseado foi usado para a Ucrânia, durante os protestos de Maidan de 2013, que culminaram em um violento golpe em fevereiro de 2014 - e mergulharam o país na secessão da Crimeia e na guerra civil no Donbass.
A impressão é apenas reforçada pelas imagens que lembram Kiev saindo de Hong Kong, mostrando os manifestantes com máscaras pretas disparando granadas e lançando bombas incendiárias contra a polícia - nenhuma das quais impediu que o coro da mídia americana chamasse os manifestantes de "pró-democracia".
Há até mesmo um original "nacionalismo", com manifestantes brandindo bandeiras da antiga potência colonial, o Reino Unido. Outros abraçaram a bandeira dos EUA, dizendo aos repórteres que ela significa "liberdade, direitos humanos e democracia".
Tudo isso foi visto antes, mais recentemente em Kiev, mas também em outros lugares. Houve até mesmo a necessária interferência do Departamento de Estado: a diplomata norte-americana Julie Eadeh foi fotografada em reunião com líderes dos protestos em Hong Kong. É bem verdade que não era Victoria Nuland distribuindo biscoitos para os manifestantes de Maidan, mas era o suficiente para despertar o alarme.
O Departamento de Estado não negou a reunião, argumentando que era algo que “os diplomatas americanos fazem todos os dias ao redor do mundo”. "Nossa diplomata estava fazendo seu trabalho e nós a elogiamos por seu trabalho", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus, em uma coletiva de imprensa na semana passada. Ortagus então denunciou o que ela disse ser a publicação dos detalhes pessoais de Eadeh, incluindo os nomes de seus filhos, na mídia chinesa como a ação de um "regime de bandidos".
Vale a pena notar que os protestos já cumpriram seu propósito original, já que o projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China continental foi suspenso. Agora, os manifestantes pedem a demissão de autoridades municipais e reformas políticas mais amplas, demandas abertas que provavelmente só crescerão com o tempo.
Apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter evitado mencionar Hong Kong e ter a certeza de descrever o movimento como um assunto interno chinês, concentrando suas críticas no comércio, o público chinês está cada vez mais convencido de que Washington está instigando tumultos em Hong Kong, como fez com as “Revoluções coloridas” em outros lugares.
Se essa acusação é de fato verdade, isso é uma péssima notícia para as já tensas relações sino-americanas - mas também para a própria Hong Kong.
As revoluções coloridas são um tipo de técnica de mudança de regime desenvolvida por estrategistas dos EUA e executada por diplomatas e organizações não-governamentais. Elas contam com a exploração de queixas legítimas da população local, criando, instrumentalizando e cooptando com dinheiro pequenos grupos de ativistas. O objetivo é provocar uma violenta repressão do governo, de modo a destruir sua legitimidade - e, portanto, substituí-lo em nome da "democracia e dos direitos humanos".
O protótipo dessa abordagem foi o golpe de outubro de 2000 na Sérvia, que os diplomatas dos EUA e a mídia invocaram em casos subsequentes. No cenário do “melhor caso”, como a Sérvia, a contagem de corpos é baixa, mas as instituições democráticas do país são irreparavelmente danificadas e corrompidas por esse tipo de fraude e manipulação.
Ucrânia, Síria ou Líbia são o pior cenário: guerra civil ou anarquia, com dezenas de milhares de mortes.
Nenhum dos dois é importante para os diplomatas, mídia ou políticos dos EUA. Eles declaram que é uma "vitória para a democracia" e passam para o próximo alvo, para repetir o cenário mais uma vez.
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