Exercícios Brasil/EUA na Amazônia são oportunidade para estadunidenses e deveriam ser pagos, avalia analista
Segundo Robinson Farinazzo, o Brasil deveria exigir contrapartidas dos EUA por garantir o treinamento de militares estadunidenses em ambiente de selva
Por Denise Assis (247) - Durante discurso de posse, no Comando Militar do Norte (CMN), no 2º Batalhão de Infantaria da Selva (2º BIS), na cidade de Belém, o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro anunciou que um dos principais projetos da nova gestão será a Operação CORE 23, realizada com o Exército dos Estados Unidos. Esta será a primeira vez que esse tipo de Operação ocorre na Amazônia. Cabral Pinheiro comandará as tropas do Exército nos estados do Amapá, Maranhão, Pará e parte do Tocantins, em área correspondente a 20% do território brasileiro. A iniciativa tem causado controvérsia entre os especialistas em defesa.
De acordo com o analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, que falou sobre o tema ao site Sputnik, o Brasil deveria exigir contrapartidas dos EUA por garantir o treinamento de militares estadunidenses em ambiente de selva. Para o analista, as relações militares com os EUA não favorecem o Brasil, que deveria exigir contrapartidas de seu vizinho do norte.
Os exercícios combinados Brasil/EUA, (Operação CORE), na selva amazônica, previstos para acontecer esse ano, são descritos pelos militares nacionais, para os seus, como benéficos e consequência da estreita amizade entre os dois países. Alegam, para isso, numa análise altamente parcial, cheia de retalhos históricos, os benefícios tecnológicos e pedagógicos que eles trazem para a formação dos soldados brasileiros.
O que eles não dizem, no entanto, é que as operações conjuntas permitirão mapear e obter informações preciosas sobre os minerais ali existentes e toda a riqueza da fauna e da flora do Brasil, exaustivamente pirateadas. Não pelas tropas, mas com base nas informações aqui coletadas.
De acordo com um paper que circula nas fileiras, “a Operação CORE é parte da XXXVII Conferência Bilateral de Estados-Maiores, firmada entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Ela constitui-se em um importante capítulo da relação histórica entre essas duas nações, que começou com os EUA na condição de primeira nação a reconhecer a independência do Brasil, há aproximadamente 200 anos.” Um salto na história, para justificar esse devassar do nosso território. E insistem em “historiar”, para sossegar os que olham para esses exercícios de esguelha, com justa razão:
“Considerando esse fato, é importante traçarmos uma linha do tempo, que iniciará a partir de um breve recorte histórico”, floreiam. Nesse sentido, “podemos ressaltar que, na sua expressão militar, a relação Brasil – EUA começou a ganhar seus principais contornos a partir de 1934, por ocasião da chamada Missão Militar Americana (MMA)”. Valem alegações de toda natureza, inclusive uma menção aos avanços estadunidenses frente à francesa: “Naquela época, a doutrina militar francesa exercia forte influência na caserna brasileira, e o objetivo da missão norte-americana consistia em orientar o ensino na Escola Técnica do Exército, criar o Centro de Instrução de Artilharia de Costa1 e prover uma adaptação ao sistema de “fire-control”2”.
Apelo emocional: lembrança dos expedicionários
E, num apelo que se poderia classificar de “emocional”, resgatam a atuação dos nossos expedicionários, na Segunda Guerra Mundial: “coincidentemente, com o fim da MMA, em 1939, teve início a Segunda Guerra Mundial, em que houve um intenso envolvimento operacional entre os Exércitos aliados do Brasil e dos EUA. O Teatro de Operações, na Itália, exigia grande adaptação da Força Expedicionária Brasileira (FEB); contudo, após um intenso período de instruções e de operações reais com o V Exército de Campanha americano, a tropa brasileira tornou-se uma força”, destacam.
“Naquela conjuntura, a conexão entre o Brasil e os EUA foi intensificada, sendo relatada pelo Marechal Castello Branco, à época oficial de operações da FEB, que afirmou em uma de suas conferências: “depois de Monte Castelo, brasileiros e norte-americanos não eram mais aliados, mas homens que, como irmãos, estavam combatendo na Itália”. Fofos.
E, de acordo com o texto expedido para o convencimento dos aspectos positivos da tal Operação, ainda relembram: “Após 1945, com o passar dos anos, em que pesem as sucessivas mudanças de governos e de ideologias (em ambas as nações), acordos de cooperação bilateral militar foram sendo firmados em diversas áreas, tais como: operações, ciência e tecnologia e logística”.
E, aí, sim, chegam aonde pretendiam: a defesa pura e simples dos “exercícios”, que não por acaso tiveram início depois da deposição da presidente Dilma, com forte ajuda estadunidense.
Coisa de Michel, que se comprometeu até o pescoço com eles, para chegar à cadeira presidencial. “Nesse cenário, marcado por diversos acordos de cooperação que contribuíram para o aperfeiçoamento das capacidades militares de ambos os países, chegamos ao século XXI, mais precisamente ao ano de 2017, quando tiveram início os trabalhos para que fossem realizados, anualmente, exercícios combinados envolvendo o Brasil e os EUA”, relatam.
Depois da defesa histórica/emocional do surgimento da tal Operação CORE (Combined Operations and Rotation Exercise ou Exercício Combinado de Rotação e Operações), descrevem lá os tais “objetivos”. Prosseguem: “podemos destacar o intercâmbio de experiências com o Exército norte-americano, especialmente no que tange aos métodos de treinamento, à organização e ao emprego de tropa, e o estabelecimento de futuras parcerias para capacitação”.
EUA e Exército pretendem estender exercícios até 2028
Numa linguagem recheada de termos que só o meio militar usaria, justificam que esta versão 3, “está estruturada em uma série de linhas de esforço para a melhoria da interoperabilidade entre os dois exércitos. Uma delas consiste no aprimoramento das capacidades na função de combate Movimento e Manobra”.
E aí vêm o que nos interessa, o tempo em que esses milicos estadunidenses ficarão revirando o nosso “quintal”, que é como nos veem: “para tanto, foram previstos exercícios até 2028, com alternância do país executante.
No Brasil, há a previsão de que a operação seja realizada em diferentes biomas ao longo das edições que ocorrerão no país”. Olha aí o perigo.
A primeira dessas operações, contratadas em 2020, mas realizada em 2021 (CORE 21), foi realizada na região do Vale do Paraíba, entre os dias 28 de novembro e 18 de dezembro daquele ano e assim descrita: “o encadeamento de ações foi baseado em um quadro tático hipotético”.
Na ocasião, para a simulação dos confrontos foram usados grupos (assemelhados ao MST), a serem combatidos por apresentar perigo de guerra de guerrilha. O documento vazou e causou bastante questionamentos, num país já conflagrado e a caminho de uma eleição pautada por fake News e ataques de ódio, por parte dos que estavam no poder.
Nessa atividade, uma subunidade da Brigada de Infantaria Paraquedista foi integrada a um batalhão estadunidense em uma rotação para a certificação de tropas no JRTC (Joint Readiness Trainning Center), localizado em Fort Polk, Leesville, Louisiana, EUA”.
Também conforme o site Sputnik, o Comando Militar do Norte e uma comitiva do Exército dos Estados Unidos estão reunidos para mais uma conferência de planejamento na categoria Master Scenario Events List (MSEL), para fazer o levantamento e desenvolvimento de cenários para o Exercício Combinado CORE 23, que acontecerá em território amazônico em novembro deste ano. As atividades estão divididas nos estados do Pará e Amapá.
Na cidade de Belém, as equipes de planejamento trataram assuntos relativos à preparação da tropa, à logística, a coordenações táticas, além de ratificar o calendário de reuniões e treinamentos no Quartel General Integrado. Já na cidade de Macapá, outra equipe fez o levantamento das áreas em que serão realizados os exercícios e a verificação da infraestrutura portuárias para a chegada do navio estadunidense com materiais para a CORE 23.
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