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    Guerra no Afeganistão: analistas explicam o que poderá acontecer após retirada das tropas dos EUA

    No início desta semana, os EUA anunciaram que a retirada de suas forças do Afeganistão, oficializada no 1º de maio de 2021, já estava completa em 20%

    Tropas estadunidenses no Afeganistão (Foto: Dave Martin/Reuters)
    José Reinaldo avatar
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    Sputnik - O presidente estadunidense, Joe Biden, anunciou sua intenção de terminar a campanha de 20 anos dos EUA no Afeganistão, jurando retirar a totalidade das forças americanas de solo afegão até 9 de setembro deste ano – quando se assinalam os 20 anos do ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, e do início da "Guerra contra o Terror", declarada na época pelo presidente republicano dos EUA George W. Bush.

    Contudo, segundo afirmam analistas à Sputnik, apesar da retirada militar do Afeganistão estar de acordo com a política da atual administração dos EUA, como a única solução para o longo conflito, seu ritmo apressado dificilmente trará a necessária reconciliação para a nação da Ásia Central, podendo até desencadear uma intensificação da guerra, dando força aos grupos terroristas na região.

    Duas décadas de operações militares dos EUA no Afeganistão marcaram os povos afegão e americano, bem como toda a comunidade internacional. O conflito resultou na morte de mais de 2.300 soldados americanos, e na morte e ferimentos de centenas de milhares de afegãos.

    Prováveis efeitos de uma saída antecipada

    Até hoje, o país ainda é devastado pela violência entre militantes do Talibã (organização proibida na Rússia e em vários outros países) e as forças afegãs, apesar do início das negociações de paz em setembro passado em Doha, no Qatar, ainda sob presidência de Donald Trump. Os militares afegãos continuam relatando explosões de bombas com regularidade, bem como suas operações especiais contra o grupo islâmico.

    De acordo com o analista independente Nishank Motwani, "a guerra vai se intensificar, ficar ainda pior, arrastando-se até que o Talibã capture o poder em um Estado arruinado que restar de Cabul e de outras capitais e distritos provinciais".

    A saída dos EUA do Afeganistão pode ser vista pelo mundo - nomeadamente pelo mundo ocidental – como um passo-chave para a paz na região, mas, para o Talibã, tem um "valor simbólico significativo", como se fosse uma espécie de "proclamação de vitória" do movimento e um sinal de que "o fim da república afegã em seu estado atual está próximo", explica Motwani.

    "O efeito bola-de-neve da retirada americana também dará força aos grupos terroristas islâmicos radicais no Afeganistão, na região e em todo o mundo", afirmou o analista.

    O mesmo acrescenta que, além do Daesh na província de Khorasan (ISKP, na sigla em inglês), o Talibã e a Al-Qaeda (organizações terroristas proibidas na Rússia e em vários outros países) ficarão convencidos de que foram eles que derrotaram os EUA no Afeganistão, e que agora a sua vez de dominar teria finalmente chegado.

    Padrões duplos

    A retirada das forças dos EUA resultará em dois efeitos opostos – para uns trará alívio e consolo, mas para outros trará medo e ansiedade, diz Nishank Motwani.

    "Isso [a retirada das forças americanas do Afeganistão] trará alívio para as famílias americanas e das forças aliadas, que viram seus entes queridos sendo enviados para o Afeganistão por 20 anos sem qualquer fim à vista. Em contraste, a retirada americana aumentará os temores de milhões de afegãos que se aliaram aos EUA e que acreditaram em uma ordem plural, democrática e baseada em direitos para eles para seus filhos", explica o especialista.

    Embora o presidente Biden tenha afirmado que a retirada de suas tropas não colocaria em risco a segurança nacional afegã, é improvável que Cabul, na situação corrente, veja tal iniciativa da mesma forma.

    "O Talibã tem perseguido com precisão letal intérpretes, jornalistas, funcionários, acadêmicos e ativistas civis, pelo que sem a âncora de segurança dos EUA, haverá um massacre", conclui Motwani.

    Solução política como a única saída

    Abdul Hadi Jalali, cofundador e diretor do Centro de Estudos Políticos do Afeganistão, apresenta à Sputnik uma perspectiva menos pessimista.

    Segundo ele, as décadas de conflito no país mostraram que a única solução é um acordo político abrangente.

    "A retirada das tropas dos EUA está totalmente alinhada com a política anterior e atual da administração dos EUA - terminar a guerra no Afeganistão. Diversas administrações dos EUA, os principais países regionais, governos consecutivos do Afeganistão, e até mesmo o Talibã, afirmaram repetidamente que o conflito afegão não tem solução militar", disse Jalali.

    O especialista elogiou os esforços de Washington e de seus aliados da OTAN, e apontou o grupo alargado dos EUA, Rússia, China e Paquistão como um bom exemplo de apoio internacional e regional unido a um acordo político pacífico para o Afeganistão.

    "Os esforços diplomáticos em curso dos EUA de reconciliação no Afeganistão visam apoiar o processo de criação de um acordo político abrangente [...] [que] abrirá o caminho para uma reconciliação sustentável, construção da paz e desenvolvimento contínuo no país, algo unanimemente apoiado pelos países da região", declarou Jalali.

    Depois de Afeganistão, o que se segue para os EUA?

    A retirada dos EUA do Afeganistão não significa, de modo algum, o enfraquecimento da influência da máquina militar americana nas questões mundiais.

    Em abril, quando Biden anunciou o plano de retirada do Afeganistão, os militares do país anunciaram uma nova missão aérea de reabastecimento, batizada de Operação Flecha de Cobre, na Europa. A missão envolve aviões-tanque, contigente de apoio e tropas de logística. A primeira manobra de treinamento ocorreu na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, com uma aeronave de reabastecimento aéreo militar Stratotanker KC-135.

    Embora o lançamento desta operação nas proximidades do território russo, em meio a tensões por causa da Ucrânia, possa levantar questões, Hugo Klijn, pesquisador sênior da Unidade de Segurança do Instituto Clingendael, nos Países Baixos, contou à Sputnik que a missão, provavelmente, não teria nada a ver com a Rússia.

    "Nas atuais circunstâncias tensas, qualquer nova missão provavelmente será criticada como um ato hostil", explicou o pesquisador, sugerindo a percepção da operação como um ato de aperfeiçoamento contínuo das capacidades militares dos EUA e da OTAN.

    De igual modo, Klijn observou que operações de tal natureza, normalmente, precisam de um longo período de planejamento e, por isso, o momento de sua ocorrência não foi necessariamente concebido para coincidir com o aumento das tensões ao longo da fronteira ucraniana ou com qualquer outro problema.

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