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Putin afirma que posição de Xi Jinping sobre Ucrânia é "equilibrada"; presidente russo considerou plano de paz chinês

O governo norte-americano se pronunciou e fez críticas ao país asiático

Presidentes Xi Jinping, da China (à esq.), e Vladimir Putin, da Rússia (Foto: Reprodução/Kremlin)

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Por RFI - O presidente russo, Vladimir Putin, exaltou o posicionamento de Pequim sobre a guerra na Ucrânia nesta segunda-feira (20) e não poupou Xi Jinping de elogios. O chefe do Kremlin também disse que pensou no plano de paz proposto pelo aliado. Para especialista entrevistado pela RFI, aproximando-se da Rússia, a China mostra ao mesmo tempo pragmatismo e oportunismo.

Putin e o presidente chinês, Xi Jinping, concluíram uma discussão inicial informal na sede do governo russo. O encontro durou quatro horas e meia, informaram agências de notícias russas.

Os dois chefes de Estado devem agora jantar juntos, depois terão mais discussões oficiais na terça-feira (21) com a esperada assinatura de acordos para aprofundar a cooperação russo-chinesa, principalmente na esfera econômica.

Como a visita de estado de três dias de Xi à Rússia parece uma demonstração de apoio a Putin, os Estados Unidos e a União Europeia ratificaram seu posicionamento em relação à Kiev ao anunciar uma nova ajuda militar.

“A estratégia da China visa criticar explicitamente os Estados Unidos, apoiando implicitamente a Rússia. A China mostra, ao mesmo tempo, pragmatismo e oportunismo”, disse à RFI Antoine Bondaz, pesquisador da Fundação pela Pesquisa Estratégica e professor na Sciences Po de Paris.

“Pragmatismo porque ela não se alinha oficialmente a Moscou, apoiando simultaneamente sua economia e o esforço de desinformação russo, e sustentando a Rússia no plano diplomático. E oportunismo porque essa é a chance para a China obter concessões da parte da Rússia, que não tinha obtido até hoje, como algumas transferências de tecnologia militar”, diz.

China como negociadora

A China, que reivindica influência diplomática proporcional ao peso de sua economia, está se passando por mediadora e, no mês passado, divulgou um documento pedindo a Moscou e a Kiev, em particular, que invistam em negociações de paz.

O presidente chinês, por sua vez, elogiou as "estreitas relações" entre Pequim e Moscou, de acordo com a tradução oficial russa de seus comentários.

Em um artigo publicado antes de sua visita, Xi Jinping havia apresentado sua viagem como uma "jornada de amizade, cooperação e paz".

Para Putin, a visita de Xi é ainda mais importante porque o líder russo está cada vez mais isolado no Ocidente e é alvo desde a semana passada de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Munições para a Ucrânia

A China usa seu papel na recente reconciliação entre Arábia Saudita e Irã para apresentar suas propostas a uma solução para a situação na Ucrânia, mas tem dificuldade em convencer os países ocidentais.

Já os Estados Unidos, que acusam as autoridades chinesas de considerar a entrega de armas à Rússia, criticaram o plano de paz de Pequim na segunda-feira.

"O mundo não deve ser enganado por nenhuma decisão tática da Rússia, apoiada pela China ou qualquer outro país, para congelar o conflito em seus próprios termos", disse o chefe da diplomacia americana Anthony Blinken.

Kiev se relaciona com cautela com o gigante chinês, e instou Xi na segunda-feira, a "usar sua influência em Moscou para acabar com a guerra de agressão".

Para indicar seu apoio à Ucrânia diante do apoio de Pequim a Moscou, a União Europeia disse que liberou € 2 bilhões para comprar e entregar munição de artilharia ao exército ucraniano.

Para reforçar sua posição, Washington anunciou uma nova parcela de ajuda, de US$ 350 milhões e garantiu a Kiev seu apoio “enquanto for necessário”.

Além da Ucrânia, o encontro entre Xi e Putin pretende mostrar o bom entendimento entre a Rússia e a China, em um momento em que os dois países vivem fortes tensões com o Ocidente, ainda que Moscou pareça mais dependente de Pequim do que o contrário.

Em um artigo publicado por um diário chinês, Putin disse que as relações russo-chinesas "atingiram o ponto mais alto de sua história".

Isolamento

Isolado na Europa e agora sob um mandado de prisão do TPI, Putin precisa mais do que nunca dessa proximidade com Pequim.

A diplomacia chinesa pediu nesta segunda-feira ao TPI, cuja sede é em Haia, na Holanda, a evitar qualquer "politização" e a respeitar a imunidade dos chefes de Estado. Moscou reagiu anunciando uma investigação criminal contra vários magistrados desta corte internacional.

Como sinal de desafio, Putin viajou neste fim de semana a Mariopol, uma cidade ucraniana devastada pelos bombardeios russos.

Mas, além do apoio diplomático, a visita de Xi também tem significado econômico para a Rússia, que reorientou maciçamente sua economia para Pequim diante das sanções ocidentais ligadas ao conflito na Ucrânia.

Moscou aumentou consideravelmente suas exportações de petróleo e gás para gigantes asiáticos, como a China, para compensar os embargos europeus. Isso o torna cada vez mais dependente de Pequim, de acordo com Antoine Bondaz.

“Existe uma assimetria crescente entre a Rússia e a China e uma inversão extremamente forte da relação de forças”, diz. “Do lado chinês, o objetivo vai ser de manter essa assimetria, garantindo que a Rússia, na Ásia central ou em outros lugares do mundo, não vá de encontro aos interesses da China", avalia o pesquisador. "O que é claro é que os meios de pressão de Pequim sobre Moscou são sem precedentes, com uma cooperação extremamente estreita”, afirma.

Mas o apoio chinês, segundo ele, não tiraria o efeito das sanções europeias à Rússia. “O que é claro é que a China busca compensar uma parte do impacto das sanções. No plano econômico, a Rússia encontrou novos mercados e alternativas às empresas ocidentais", diz. O especialista cita como exemplo o setor do automóvel, "onde a indústria chinesa tomou o lugar da europeia”.

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