Risco de "guerra do gás" cresce e Ucrânia corta pagamentos à Rússia
A Ucrânia disse neste sábado que vai suspender os pagamentos à Rússia pelo gás natural, aumentando as tensões sobre um impasse que pode deixar países da União Europeia sem o produto russo, do qual dependem; Rússia e a Ucrânia estão inseridas em uma tensa disputa depois que protestos em Kiev derrubaram o presidente pró-Kremlim Viktor Yanukovich. Logo depois, os russos enviaram suas tropas para a Crimeia. Agora, a disputa pelo gás ameaça impactar outras regiões da Europa
KIEV, 12 Abr (Reuters) - A Ucrânia disse neste sábado que vai suspender os pagamentos à Rússia pelo gás natural, aumentando as tensões sobre um impasse que pode deixar países da União Europeia sem o produto russo, do qual dependem.
No leste da Ucrânia, onde grupos de ativistas pró-Rússia ganharam força depois da anexação da Crimeia, homens armados usando uniformes camuflados tomaram uma delegacia de polícia na cidade de Slaviansk.
A Rússia e a Ucrânia estão inseridas em uma tensa disputa depois que protestos em Kiev derrubaram o presidente pró-Kremlim Viktor Yanukovich. Logo depois, os russos enviaram suas tropas para a Crimeia. Agora, a disputa pelo gás ameaça impactar outras regiões da Europa.
Grande parte do gás natural que a UE compra da Rússia passa pelo território ucraniano. Portanto, se os russos cortarem o fornecimento à Ucrânia por inadimplência, vários clientes europeus ficariam sem esse gás.
Andriy Kobolev, chefe-executivo da empresa estatal de energia da Ucrânia, a Naftogaz, disse que o alto preço que a Rússia está exigindo pelo produto era injustificável e inaceitável.
"Suspendemos o pagamento durante o período de negociação de preços", afirmou Kobolev em entrevista ao jornal Zerkalo Nedely.
A decisão de suspender formalmente os pagamentos mostra que não há sinal de acordo com Moscou, o que pode deixar ambos os países perto de repetirem a antiga "guerra do gás", quando a Ucrânia teve seu fornecimento interrompido e afetou o abastecimento para a UE.
Moscou disse que não quer desligar o fornecimento para a Ucrânia se puder evitar esse desfecho, e que honrará seu compromisso de continuar fornecendo o produto para seus outros clientes europeus.
HOMENS ARMADOS
As tensões com a Ucrânia fizeram a relação da Rússia com o Ocidente atingir o seu patamar mais sensível desde o fim da Guerra Fria, em 1991.
Em Slaviansk, homens armados com pistolas e rifles cercaram a delegacia de polícia, enquanto centenas de moradores locais reuniram-se ao redor, alguns deles fazendo barricadas com pneus, segundo um fotógrafo da Reuters que estava no local.
Eles usavam fitas nas cores laranja e preta, um símbolo da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial e que foi adotado por separatistas pró-Rússia na Ucrânia.
Slaviansk está localizada na região de Donetsk, cerca de 150 quilômetros da fronteira com a Rússia. Grupos pró-russos também ocuparam edifícios públicos nas cidades de Donetsk e Luhansk e exigem autonomia de Kiev.
Autoridades do governo pró-Ocidente da Ucrânia dizem que as forças russas podem estar se preparando para cruzar a fronteira e entrar na Ucrânia com o pretexto de defender ativistas pró-Rússia de perseguição, embora Moscou continue negando tal objetivo.
Em Donetsk, um grupo de jovens armados com pedaços de pau tomaram um andar do edifício do procurador-geral. Eles saíram do local após negociações, informou a polícia da cidade em comunicado.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Deshchytsia, afirmou que Kiev está pronta para ouvir as exigências dos manifestantes no leste da Ucrânia, mas que a polícia agirá se as negociações não surtirem efeito.
"Consideramos que essas ações são inspiradas e preparadas pela Rússia e apoiadas por alguns dos agentes da Rússia na Ucrânia", afirmou o ministro à rádio BBC.
(Por Pavel Polityuk e Conor)
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