Sionismo é ideologia racista e colonialista, diz Ofer Cassif
Para dirigente do Partido Comunista Israelense, a solução de um Estado único, laico e democrático passa, obrigatoriamente, pela de dois Estados
Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (08/07), o jornalista Breno Altman entrevistou o deputado israelense pelo Hadash, frente árabe-judaica de orientação socialista, e dirigente do Partido Comunista Israelense Ofer Cassif.
Ele analisou o novo governo de Israel, da coalizão liderada por Naftali Bennet, o novo primeiro-ministro, e Yair Lapid, atual vice, mas que assumirá o cargo após dois anos de mandato. “Este governo não é melhor que o anterior [de Benjamin Netanyahu]. Aliás, é mais cruel com a ocupação, Naftali defende ideais fascistas”, afirmou.
Criado em uma família judia e sionista, Cassif contou que passou a questionar o sistema quando foi preso consecutivamente por recusar-se a servir nas Forças de Defesa Israelenses (IDF). Atualmente, ele avalia o sionismo como uma ideologia, “por definição, racista e colonialista”.
“É racista e colonialista porque, dadas as condições do século 19, queriam estabelecer um Estado judaico num momento em que a maioria dos judeus do mundo não viviam na Palestina e aqueles que viviam na Palestina não eram judeus. Então ao estabelecer um Estado em os judeus governam sobre pessoas que não são judias, é automaticamente algo antidemocrático”, discorreu.
Para ele, o sionismo não prejudica apenas palestinos, mas judeus no mundo todo e busca incutir a ideia de que se uma pessoa não é sionista, ela é antissemita, “mas você não precisa ser sionista para ser contra o antissemitismo”.
Israel, como resultado dessa ideologia, é, na visão de Cassif, “uma etnocracia e um Estado de apartheid”. Na lógica de predominância judaica, os palestinos não são considerados cidadãos com plenos direitos.
Fim da era Netanyahu
O dirigente disse não acreditar que o novo governo será capaz de realizar mudanças no sistema, nem para prejudicar os palestinos, “porque ele consiste de diferentes partidos, indo da extrema-direita aos trabalhistas de centro-direita”.
“Cada um tem o direito de vetar as decisões do outro, então acho que não conseguirão fazer muita coisa, porque estarão constantemente vetando um ao outro”, defendeu.
Na coalizão também está o Ra’am, a Lista Árabe Unida, liderada por Mansour Abbas. É a primeira vez que um partido árabe governa ao lado de israelenses. A primeira vista ter uma legenda árabe na coalizão pode parecer positivo, mas Cassif advertiu: “eles são conservadores, preferem colaborar com partidos sionistas e as seções racistas e fascistas do Knesset [Parlamento israelense]. É vergonhoso que se aliem a políticos anti-palestinos, prejudicando os palestinos”.
O dirigente comunista também alertou que, apesar da coalizão ter conseguido tirar Netanyahu do poder após 12 anos governando, isso não significa o fim político do ex-primeiro-ministro: “Ele é sem dúvida o político mais perigoso da região. Está disposto a fazer qualquer coisa para permanecer no poder”.
Avaliando os 12 anos de mandato de Netanyahu, Cassif disse que Israel mudou muito durante esse período, “removendo os disfarces que sempre existiram de que Israel é um estado racista”.
“Israel está baseado em uma ideologia racial. O sionismo é basicamente a ideia política da supremacia judaica. Netanyahu não mudou isso, mas ele aprofundou e estruturou a desigualdade entre israelenses e palestinos; e deixou de se envergonhar por isso, encorajando discursos de ódio e estimulando a criação de grupos que lincham palestinos e vandalizam suas propriedades”, argumentou.
Solução de um Estado ou dois?
Apesar de tudo, Cassif ainda acredita que o sionismo possa ser derrotado, “mas não acontecerá sem que apresentemos questões sérias”.
“O caminho não é por meio de oferecer resposta, mas é levantando as perguntas corretas. Acho que seremos bem sucedidos, mas isso não acontecerá amanhã”, ponderou.
Ele, então, refletiu sobre as soluções possíveis para a questão: a criação de dois Estados soberanos, um palestino e outro isralense; ou a criação de um Estado, secular e democrático.
“Não nos opomos à solução do Estado único, ideologicamente, mas atualmente ele não seria democrático e secular, seria de apartheid. Para que haja apenas um Estado é necessário permitir a autodeterminação do povo palestino, igualdade social e econômica, e consentimento por parte dos israelenses e dos palestinos à criação de um único país”, ressaltou.
Por isso, o dirigente comunista acredita que a solução dos dois Estados é inevitável, seja ela permanente ou provisória, a fim de garantir os dois primeiros pontos que citou.
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