Paternidade extraconjugal. Há povos que a aceitam, e se dão bem
Para muitos, sobretudo para os fieis das religiões cristãs, islâmica ou judaica, a paternidade extraconjugal é sinônimo de infidelidade. Para outras culturas, no entanto, ela é uma prática bem vista. Entre eles, o povo himba, da Namíbia, que a pratica de forma regular e corrente, despertando a curiosidade dos antropólogos e outros estudiosos de ciências do comportamento social.
Por: Luis Pellegrini
Quando pensamos no conceito de paternidade nos referimos geralmente a um pai biológico ou adotivo: dificilmente pensamos em famílias nas quais o pai cria e educa diversos filhos nascidos de relações extraconjugais da mulher.
Mulher himba
A diretora de uma pesquisa publicada na Science Advances, a antropóloga Brooke Scelza (UCLA, Universidade da Califórnia e Los Angeles), explica como para as tribos de pastores nômades ovahimba, da Namíbia, o nascimento de filhos fora do casamento seja perfeitamente normal, a tal ponto que existe todo um sistema de normas sociais que regulam o seu funcionamento.
Para se referir a esse povo africano constituído de pastores nômades, o termo correto é Ovahimba; um único membro da tribo se chama omuhimba. Esse povo é mais comumente chamado simplesmente de himba.
Moralidade relativa
Para a sociedade ocidental (e não apenas) esse costume é difícil de aceitar: os filhos nascidos fora do matrimônio são desde sempre considerados frutos de infidelidades escondidas, e o pai é visto como o sujeito ferido e traído. Mas “quando os pesquisadores estudam um comportamento humano não devem pensar naquilo que é “correto”ou “moral”. Devem apenas abordar aquele hábito ou costume sem pré-julgamento, apenas como um fenômeno cultural”, afirma Scelza. Para os ovahimba, por exemplo, a atividade sexual fora do matrimônio é uma prática comum, e não estigmatizada. A taxa de paternidade extraconjugal fora do matrimônio (em inglês extra-pair paternity, EPP), ou seja a porcentagem de filhos nascidos fora do matrimônio nas famílias dessas tribos nômades é de cerca 48%, decididamente maior que a escala de 1% a 10% que a antropologia considera o padrão standard para a raça humana.
Chefe himba, pai “social” das crianças que aparecem na foto. As três podem ou não serem filhos biológicos dele.
Liberdade para “trair”
“Os ovahimba acreditam seriamente na importância da paternidade social”, explica a antropóloga Scelza: para eles, um filho é teu quando nasce do ventre da tua mulher, não importando quem seja o pai”. Os himbas acreditam que o pai real é aquele que cria e educa a criança, responsabilizando-se pela sua nutrição, instrução e proteção. E é esse pai social que as crianças devem amar e respeitar como “pai real”. Essa visão é diametralmente oposta àquilo que acontece, por exemplo, nas sociedades islâmicas, nas quais o adultério da mulher é severamente punido (inclusive com a morte da adúltera). Na sociedade himba, ele é bem visto inclusive pelo marido.
Jovem rapaz da tribo himba. Esse povo é considerado um dos mais belos da África.
Essa pesquisa evidencia a importância de incluir diversos grupos étnicos e culturais nos estudos antropológicos, como demonstra o caso da paternidade extraconjugal. Porque, por exemplo, “as taxas de paternidade extraconjugal podem ser muito diversas entre uma população e outra”, explica Brenna Henn, estudiosa de genética das populações e coautora da pesquisa: “nos Países Baixos e em outras comunidades europeias, por exemplo, a taxa de paternidade extraconjugal é realmente muito baixa, indo de 1% e não superando 6%”.
Vídeo: O povo Himba – Interessante vídeo narrado em português (de Portugal) sobre o povo himba.
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