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Dilma monta agora seu 'gabinete de guerra'

"É uma nova safra de nomeações, depois que a equipe econômica foi definida. Será uma decisão crucial para seu governo, que enfrenta um drama já identificado: ganhou a eleição mas não recuperou o controle do aparelho de Estado", diz Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; "Em 2015, nenhum ministro pode ter dúvidas existenciais sobre o que é melhor para o país nem para a maioria da população. Não precisa fazer perguntas sobre seu papel nem especular sobre qual é o seu lado numa disputa política de início feroz e prolongamento imprevisível"; no novo gabinete, Dilma deve ter por perto nomes como Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto, Ricardo Berzoini e Jaques Wagner

fotospublicas.com (Foto: Camila Nunes)

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Por Paulo Moreira Leite

Ao longo desta semana, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar novos nomes para o ministério. É uma nova safra de nomeações, depois que a equipe econômica foi definida. Será uma decisão crucial para seu governo, que enfrenta um drama já identificado: ganhou a eleição mas não recuperou o controle do aparelho de Estado.

Dilma enfrenta adversários diretos na Polícia Federal. Passou por uma dificuldade absurda no Congresso para aprovar a mudança no superávit fiscal. Partilha o comando da política econômica com adversários históricos. Como se vê no inquérito sobre a Petrobras, uma porção considerável do Judiciário voltou-se contra ela. Mais do que uma equipe banal para tempos normais, com técnicos competentes outros nem tanto, aliados do PMDB, do PSD e indicações pessoais, no segundo mandato o ministério de Dilma precisa ter a feição de um Gabinete de Guerra. Não há lugar para turistas. Ou haverá uma equipe para defender um governo respaldado pelas urnas, ou teremos um governo paralisado, incapaz de agir para garantir o respeito a democracia. Este é o jogo daqui para a frente.

Derrotado sem margem a qualquer dúvida, Aécio Neves faz o possível para estimular uma ruptura institucional — um golpe, para falar sem eufemismos. Este comportamento  desonra a memória do avô, que, conforme relato do ex-ministro Almino Afonso a este repórter, só tinha uma palavra para se dirigir aos golpistas que tomaram conta do Congresso em 1964, na deposição de João Goulart: “Canalhas, canalhas, canalhas.”

Numa sociedade de valores democráticos já relativamente consolidados, como se tornou o Brasil, as rupturas só ocorrem se e quando a população demonstra cansaço diante dos governantes, não se anima a sair em sua defesa, sente que foi abandonada e enganada por ela. Não basta, para os golpistas, mobilizar seus próprios aliados. É preciso desgastar o governo junto a seus eleitores, diminuir sua base, transformá-lo em minoria.  É aqui que a oposição tentará concentrar seu ataque: na consciência do povo.

Por essa razão os dados do DataFolha de ontem não podem ser desprezados. São impressionantes, na verdade. Mostram que a aprovação de Dilma Rousseff encontra-se em seu melhor patamar desde os protestos de junho de 2013. Não é pouca coisa, quando se pondera que nas últimas seis semanas, após a campanha eleitoral, a presidente retornou a uma histórica desvantagem para fazer o debate político. Perdeu o tempo na TV do horário político, das entrevistas e dos debates, passando a enfrentar um massacre cotidiano que nunca fez parte das tradições democráticas de qualquer país diante de autoridades recém-eleitas,  onde o reconhecimento do vitorioso é o reconhecimento dos direitos do povo.

Dilma voltou ao Manchetômetro de sempre, unilateral, sem as compensações possíveis de uma campanha eleitoral.

É este legado de quem venceu com 53% dos votos que o novo Ministério deverá defender. Em 2015, nenhum ministro pode ter dúvidas existenciais sobre o que é melhor para o país nem para a maioria da população. Não precisa fazer perguntas sobre seu papel nem especular sobre qual é o seu lado numa disputa política de início feroz e prolongamento imprevisível. Haverá luta 24 horas por dia, em torno de itens que só na aparência terão pouco significado. Sempre haverão mentiras e trapaças destinadas a iludir a população, diminuir sua confiança.

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