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    Haddad: “só teremos paz com eleições livres e reparação histórica ao Lula”

    Para o ex-ministro, a injustiça da perseguição judicial contra Lula pode ainda ser revertida. “O Lula está vivo, está forte, na minha opinião, gostaria de se reapresentar para o eleitorado”, afirmou. Haddad falou também à TV 247 sobre os resultados da eleição de 2020, do arrefecimento do antipetismo, de alianças para 2022, da relação entre Brasil e Estados Unidos e outros temas. Assista

    Fernando Haddad e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

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    247 - Ex-ministro da Educação e candidato à presidência em 2018 pelo Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad concedeu entrevista à TV 247 na qual falou sobre a necessidade de executar uma reparação histórica acerca da perseguição judicial que sofreu o ex-presidente Lula pelas mãos da Lava Jato e do ex-juiz da força tarefa Sergio Moro.

    Para Haddad, o correto seria que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecesse de uma vez por todas a parcialidade e, portanto, a suspeição de Moro no processo contra Lula, o que já está mais que evidente. “No mundo ideal, o que você teria? Um Judiciário, com base nas evidências, que são absurdas, dizendo que o juiz que se porta dessa maneira não é um juiz adequado para julgar a causa. Recentemente o Supremo anulou um processo, anulou uma sentença com argumentos muito mais frágeis do que aqueles que foram levados ao Supremo no caso do Moro. O Moro grampeou advogado do réu, o Moro vazou áudios ilegais, acho que o Moro violou uns dez dispositivos do código de processo penal no processo do Lula. Não falta argumento para anular a sentença. E se isso acontecer, acho que as pessoas não deveriam ter medo de uma fragilização institucional. Ao contrário”.

    A perseguição contra Lula e as consequências que tal ato provocou contra o Brasil ainda podem ser reparadas, segundo o ex-ministro. Para ele, o Brasil voltaria a ter paz caso a suspeição de Moro fosse julgada e Lula fosse liberado para participar da eleição presidencial em 2022. “Eu entendo que já houve injustiças em vários países do mundo, e essas injustiças às vezes foram corrigidas a tempo e às vezes não. Essa injustiça dá para corrigir a tempo. O Lula está vivo, está forte, na minha opinião, gostaria de se reapresentar para o eleitorado, até por uma questão de defesa da sua própria honra e do seu legado, então tem todo direito de fazê-lo, e o país estaria em paz, ele ganhando ou perdendo. As coisas estariam resolvidas, traria um pouco de paz para esse país. Eu sempre ouvi dizer: ‘não há paz sem justiça’. É um velho ditado que acho que vale em todos os tempos. Traria um pouco de paz se nós tivéssemos eleições livres em 2022, e eleições livres, efetivamente, a gente só teria com a reparação histórica feita ao Lula”.

    Antipetismo

    Com a desmoralização de Moro, que já está em curso, Haddad disse acreditar que o antipetismo “artificial”, criado a partir de uma narrativa fantasiosa da Lava Jato, sumirá, como já está ocorrendo. “Aquele antipetismo mais artificial, que foi criado com base em uma narrativa fictícia, esse está voltando para o eixo com a desmoralização do Moro. Quando a Lava Jato transbordou para os outros partidos, ela desapareceu do noticiário e da agenda política do país. Outro dia perguntaram para o Fernando Henrique [Cardoso] o que fazer com o Aécio e com o Serra, e ele teve que dizer: ‘esqueleto a gente enterra’. Ou seja, o próprio jornalista tem pudores em abordar um tucano. E aí nós não estamos falando em indícios, suposições. Estamos falando de conta no exterior, cartão de crédito internacional pago por empreiteiro, coisa palpável, não estamos falando de ilações”.

    Segundo Haddad, há, porém, “um antipetismo que vai durar enquanto durar essa loucura que é o Brasil em termos de desigualdade e intolerância”. 

    Aliança com PDT e PSB

    “A gente não deve fechar as portas para aliados de uma vida. Esses partidos sempre estiveram juntos. Obviamente que há cicatrizes a serem superadas, sobretudo de 2018, mas eu entendo quando um partido está correndo em raia própria”, disse Haddad sobre uma possível aliança com o PDT de Ciro Gomes, que se omitiu no segundo turno da eleição presidencial de 2018 quando o então candidato do PT enfrentava Jair Bolsonaro, e o PSB.

    O ex-ministro alertou que é preciso traçar estratégias para impedir principalmente que o segundo turno em 2022 seja dominado pela direita e extrema direita, o cenário mais favorável a este campo. “Eu sempre disse e continuo dizendo: é muito importante tentar construir unidade no primeiro turno, mas é um país pluripartidário que tem dois turnos. Então é importante também trabalhar o ambiente do segundo turno, inclusive com quem não é de esquerda. Será que a direita vai toda cometer o mesmo erro que cometeu em 2018 se o cenário for o mesmo? É óbvio que eles estão trabalhando para não ser. Eles vão trabalhar e vão contar até com uma parte da esquerda para que o PT perca força, tem sempre gente disposta a fazer o trabalho que a direita até hoje não conseguiu fazer. O melhor cenário para eles é Bolsonaro e eles no segundo turno, mais ou menos o que aconteceu no Rio de Janeiro, para nos obrigar a votar na direita para evitar a vitória da extrema direita”.

    Eleições 2020

    Sobre as eleições municipais de 2020, Haddad avaliou que houve um movimento do eleitorado partindo da extrema direita para a direita, com o fortalecimento de partidos que oferecem risco à democracia. A esquerda, para o ex-ministro, não cresceu e nem diminuiu. “O que aconteceu foi o esvaziamento de alguns partidos importantes. O PSDB o mais afetado, na sequência o PSB, muito afetado pela votação de primeiro turno, e uma migração de votos para partidos que eram base do antigo regime militar. Todos esses políticos do PSC, PSL, DEM, Republicanos, são oriundos do partido que dava sustentação ao regime militar, e foram esses partidos que mais cresceram, e que na minha opinião têm pouco compromisso com uma agenda democrática. São partidos perigosos do ponto de vista da estabilidade democrática, para não falar de alguns valores caros à democracia que as pessoas esquecem. A laicidade do Estado é um tema da democracia, não é um tema que envolve religião, pelo contrário, preserva a religião separando-a do Estado. E eles põem em xeque esses valores da democracia moderna. Acho que houve efetivamente um deslocamento da extrema direita para a direita e a esquerda infelizmente ficou do mesmo tamanho”.

    Racismo

    Amplamente debatido em 2020, com casos como os assassinatos de George Floyd nos Estados Unidos e de João Alberto Silveira Freitas em Porto Alegre, o racismo também foi analisado por Haddad.

    Para ele, episódios racistas tendem a aumentar nos próximos anos como uma reação ao avanço dos negros, muito favorecidos pelas políticas de inclusão dos governos do PT. “Prevejo que o racismo, que sempre foi negado nesse país, vai recrudescer em um certo sentido por uma razão: justamente porque ele está sendo superado materialmente. Racismo se supera materialmente, não é só idealmente. É o negro na universidade, é o negro empreendedor, é o negro médico, é o negro advogado, é o negro desembargador, é o negro presidente da República; o negro e a negra”.

    Relação Brasil-EUA

    Mesmo com a derrota do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Haddad não se mostrou confiante de que a chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca surtirá efeitos positivos na política internacional ou na relação com o Brasil. “Se você fizer um balanço da relação do Brasil com os Estados Unidos, não é verdade que ela se torna mais fácil com os democratas no poder. Eles funcionam como império e não vão deixar de funcionar como império porque teve alternância no poder. Teve alternância no poder para dentro, para fora não teve alternância nenhuma”. Ele pontuou, porém, que “faz diferença ter uma pessoa menos propensa a conflito armado, que quer distensionar o ambiente na sua região”.

    O ex-ministro disse que, para uma mudança nos Estados Unidos ocorrer de fato, o ideal seria a vitória de um candidato como o senador Bernie Sanders, que participou das prévias do partido Democrata. “Não nutro ilusões a respeito do governo Biden. Outra coisa seria o Sanders, seria uma mudança de cultura nos Estados Unidos, não seria uma mera alternância no poder, seria quase uma revolução conceitual. Você poderia abrir um horizonte humanitário no mundo sabe Deus com que proporções. Para sonhar com um mundo totalmente diferente do que a gente vive, a gente tinha que pensar em uma liderança como ele. O Biden é um cara do establishment”.

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