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    Manobra desacredita CPMI

    A não convocação de muitos que se banharam nas águas turvas da cachoeira foi recebida com profunda decepção pela sociedade brasileira, que assistiu a esse jogo desleal

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    No último dia 17, a sociedade brasileira assistiu, perplexa, a manobra deplorável da CPMI que, acintosamente, deixou de convocar os governadores do Rio de Janeiro, Distrito Federal e Goiás, os parlamentares citados nos grampos da Polícia Federal (da Operação Monte Carlo), que estão sendo investigados pelo Supremo Tribunal Federal; bem como o senhor Fernando Cavendish, dono ou ex-dono da Delta Construtora, e o senhor Policarpo Junior, figura de proa da Editora Abril, da revista Veja, e o procurador da República, Roberto Gurgel, para prestarem esclarecimentos.

    A manobra teve como protagonistas parlamentares do PT e do PMDB que não querem uma investigação ampla, geral e irrestrita, como alardearam no início dos trabalhos. Mas tudo tem seus interesses, ainda que inconfessáveis, como o de não permitir que a investigação da CPMI aprofunde e complemente o bom trabalho feito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, que seria o de investigar a fundo a Construtora Delta no plano nacional, o que, fatalmente, traria à tona a pergunta que não quer calar: para onde foi o dinheiro do PAC- Programa de Aceleração do Crescimento? De quem, não se sabe? E outros tantos órgãos públicos federais e políticos importantes que também se banharam nas águas turvas da cachoeira.

    A sociedade brasileira esperava que essa CPMI fosse o resgate da moralidade, da ética e do decoro, na buscada verdade real dos fatos, para apuração cabal dessa organização criminosa que tem ramificações em todo o País, embora tenha sido eclodida no Estado de Goiás. Foi com profunda decepção que a população assistiu a esse jogo desleal dentro da CPMI.

    Mas os arautos de plantão falam que os governadores e outras pessoas ainda poderão ser convocados, dependendo da evolução dos trabalhos. Com o trotar da carruagem e a visível ingerência política governista, vai sobrar somente para o governador de Goiás ir depor na CPMI, pois a base governista já alardeia que ele seria o "único citado nas gravações". Embora o governador do DF tenha muito o que explicar e Sr. Cabral do Rio de Janeiro, muito mais, pelos negócios realizados com a Delta no Governo do Rio de Janeiro, que passa de um bilhão de reais. Por que centralizar a investigação somente na região Centro Oeste se a CPMI já sabe, com provas robustas, que a investigação transcende Goiás e engloba outros estados brasileiros? Não poderemos passar essa história a limpo se não buscarmos a verdade por inteiro.

    Outra faceta desse caso que ninguém entendeu ainda é como o JBS comprou a Delta, uma empresa que está a pique, e pior, na iminência de ser declarada inidônea? São questões que estão muito além da nossa compreensão, simples mortais. Talvez o Ministério Público do Rio de Janeiro descubra e nos conte.

    Seria bom que esses ilustres parlamentares da CPMI, com destaque para o jovem deputado Odair Cunha (PT-MG), lembrassem que seus compromissos maiores são com o seu País e com toda a sociedade brasileira. Partido é para depois, no que for possível, e a lei e a ética permitirem.

    Não podemos naturalmente generalizar, pois temos pessoas bem intencionadas dentro da CPMI. Um bom exemplo a ser citado é do senador Randolfe Rodrigues, do PSOL, atuando de forma transparente e firme. Sua postura tem sido sinônimo de independência, palavra que poucos políticos conhecem.

    Mas não se esqueçam, os senhores membros da CPMI, que a história costuma marcar de forma indelével os homens pelas suas posturas e condutas, principalmente na vida pública. Espero que as 'não convocações' sejam repensadas e, se feitas, que seja com equidade e justiça, e que se coloque a situação em pratos limpos para que a verdade seja apurada, doa a quem doer, mas sem perseguições e nem protecionismos.

    Sem que continuem defendendo interesses inconfessáveis e nem privilegiem compromissos partidários que amesquinham os interesses verdadeiramente republicanos. Isso é o que o Brasil precisa e espera dessa CPMI. O que poderá ser um bom ou mau exemplo para as futuras gerações.

    Alex Neder é advogado e consultor jurídico

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