Marta causa desconforto em homenagem a Lula
Senadora afirmou que "não basta o novo" na disputa municipal, mas há a necessidade também de "um programa novo" para a capital paulista, em referência à candidatura de Haddad
247 – A senadora Marta Suplicy nunca escondeu sua decepção por ter sido preterida por Lula na disputa à eleição de São Paulo. Além de não aceitar participar da campanha de Fernando Haddad, ela agora solta farpas publicamente contra o pupilo de Lula. Nem na cerimônia em homenagem ao ex-presidente a senadora poupou o ex-ministro de sua insatisfação. Marta disse que "não basta o novo" na disputa municipal, mas há a necessidade também de "um programa novo" para a capital paulista. O discurso provocou um desconforto no partido, que tem adotado a renovação como slogan político, em uma tentativa de se opor à candidatura de José Serra, que já foi prefeito de São Paulo.
Leia na matéria de Gustavo Uribe, do Globo:
SÃO PAULO - Em mais uma demonstração de insatisfação com a condução da campanha eleitoral do PT em São Paulo, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) deu na noite desta segunda-feira um recado público ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal entusiasta da candidatura de Fernando Haddad à sucessão da capital paulista. Em discurso, em cerimônia de homenagem ao ex-presidente petista, a ex-prefeita de São Paulo afirmou que "não basta o novo" na disputa municipal, mas há a necessidade também de "um programa novo" para a capital paulista. O recado da senadora causou desconforto entre autoridades petistas presentes, que avaliaram o tom do discurso como uma alfinetada ao pré-candidato do PT, novato em disputas eleitorais e também presente ao evento.
O PT tem adotado o discurso da renovação como slogan político na campanha eleitoral deste ano, em uma tentativa de se opor à candidatura de José Serra, que já foi prefeito de São Paulo. O ex-presidente foi homenageado com o Título de Cidadão Paulistano, a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo, e que acabou reunindo Marta, Haddad, dirigentes petistas e mais de 1.300 militantes do partido.
— Nós temos grandes desafios na campanha eleitoral de São Paulo, uma grande campanha com forças de oposição em São Paulo. Essas forças são muito claras, onde houve oito anos de exclusão. Agora nós estamos nesse embate, embate difícil, onde a disputa será voto por voto. Não basta o novo na cidade, temos de ter programa novo, porque São Paulo não é qualquer cidade — afirmou a senadora petista.
As lideranças petistas tem trabalhado para uma atuação maior de Marta Suplicy na campanha eleitoral de São Paulo. A senadora petista, contudo, tem demonstrado resistência, após ter sido convencida de abrir mão da candidatura municipal em nome de Fernando Haddad. Na homenagem, a ex-prefeita de São Paulo teve lugar de honra no auditório da Câmara dos Vereadores, tendo sido aclamada pelo ex-presidente como "a melhor prefeita de São Paulo".
No discurso, Marta Suplicy lembrou de suas realizações à frente da administração municipal, como a criação do bilhete único, que, segundo ela, foi "aguado" pelas gestões posteriores, do PSDB e do DEM. A senadora petista ressaltou ainda que Luiz Inácio Lula da Silva foi o melhor presidente do Brasil e acrescentou que a sua administração fez com que o Brasil "fosse respeitado" em todo o mundo. Ao todo, a homenagem ao ex-presidente reuniu em torno de 1,8 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Um telão foi montado no auditório externo da Câmara Municipal de São Paulo, onde cerca de 700 pessoas acompanharam a cerimônia.
O evento foi o primeiro ato público com a militância do partido no qual o ex-presidente participou ao lado de Fernando Haddad, após ter se tornado o candidato do PT à sucessão da capital paulista. A homenagem contou com as participações do presidente nacional do PT, Rui Falcão, do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, do senador Lindbergh Farias, entre outros. O secretário estadual da Casa Civil, Sidney Beraldo, compareceu à solenidade representando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Após a solenidade, em entrevista coletiva, o pré-candidato do PT argumentou que está há quase três meses elaborando um programa de governo e afirmou que a senadora petista participará da campanha eleitoral quando ela tiver início, em julho. Ele concordou com a análise da ex-prefeita de São Paulo de que a capital paulista é um espaço de "disputa permanente".
- Ela está sempre convidada a tudo, participa quando o tempo dela permitir. São Paulo é um ambiente de disputa permanente - afirmou
Em discurso, o ex-presidente lembrou de sua trajetória de vida, do período que ficou à frente do Palácio do Planalto, e ressaltou que a ex-prefeita de São Paulo foi "vítima de preconceito de uma parte da elite de São Paulo". Segundo ele, a senadora petista ousou governar para os pobres de São Paulo, o que não era aceito por parte da elite paulistana. O dirigente petista citou Fernando Haddad como o "melhor ministro da Educação" que o país já teve, como forma de afagar o ex-ministro das críticas da senadora.
- A Marta Suplicy, digo isso para todo mundo, é a maior vitima de preconceito de uma parte da elite de São Paulo, porque ousou governar para os pobres dessa cidade. Isso não era aceito por parte da elite, é um preconceito secular - afirmou o ex-presidente.
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