Reforma ministerial aumenta tensão entre aliados de Dilma
Primeiras negociações com partidos da base da presidente Dilma Rousseff semearam mais tensão do que união entre os aliados, e as dificuldades para expandir a base governista aumentam a cada dia; além de questões políticas, a presidente também tem dificuldades para atrair nomes de peso para pastas como a do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; aliados também avaliam que Dilma perdeu o momento certo das mudanças porque esperou o retorno do recesso no Congresso
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA, 6 Fev (Reuters) - Um dos objetivos centrais da presidente Dilma Rousseff com a reforma ministerial é ampliar sua aliança para disputar a reeleição neste ano, mas as primeiras negociações semearam mais tensão do que união entre os aliados, e as dificuldades para expandir a base governista aumentam a cada dia.
Além de questões políticas, a presidente também tem dificuldades para atrair nomes de peso para pastas como a do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Novos ministros assumem os postos apenas por meses e dificilmente conseguem imprimir suas marcas na administração pública.
Os aliados também avaliam que Dilma perdeu o momento certo das mudanças porque esperou o retorno do recesso no Congresso e, agora, as negociações ficam contaminadas com a pauta da Câmara dos Deputados e do Senado.
Dilma mudou quatro ministros até agora. Na Educação entrou José Henrique Paim no lugar de Aloizio Mercadante, que foi para a Casa Civil. Arthur Chioro foi nomeado ministro da Saúde, substituindo Alexandre Padilha, e o ex-porta-voz da Presidência Thomas Traumann assumiu a Comunicação Social, antes liderada pela jornalista Helena Chagas.
Nesta semana, após três rodadas de negociações com o maior partido de sua coalizão, o PMDB, Dilma teve o maior revés na reforma ministerial iniciada na semana passada. A bancada do partido na Câmara, descontente e se sentindo menosprezada pela presidente, segundo um peemedebista, emitiu nota abrindo mão de indicar nomes para o primeiro escalão.
A irritação dos deputados peemedebistas aprofundou-se e pode prejudicar as votações do Congresso depois que Dilma disse, em uma reunião com o vice-presidente, Michel Temer, que o partido não teria o número de pastas sob seu comando ampliada de cinco para seis.
A insatisfação não ficou apenas no PMDB. Nesta quinta-feira, o PTB também informou que, se convidado por Dilma, não indicará um nome para o ministério.
"Se formos convidados, não vamos indicar ninguém para que a presidente fique à vontade para montar como achar melhor seu ministério para esse ano. Sem ressentimentos", disse à Reuters o presidente em exercício do partido, Benito Gama, que é vice-presidente de governo do Banco do Brasil.
Segundo ele, isso não muda a decisão do partido de apoiar formalmente Dilma na reeleição, nem altera o apoio que os petebistas têm dado ao governo no Congresso. As negociações comandadas pela presidente indicavam que ela daria o ministério do Turismo para o PDT e o próprio Gama seria o ministro.
Na quarta-feira, Dilma também se reuniu com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e conversou sobre as mudanças no ministério. Mas segundo um parlamentar do partido, que falou sob condição de anonimato à Reuters, ela não convidou a legenda para nenhuma pasta.
Atualmente, o PSD está representada no primeiro escalão com o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, que comanda o Ministério das Micro e Pequenas Empresas.
"Neste momento me surpreenderia se o partido indicasse um novo ministro", afirmou o parlamentar do PSD.
DESENVOLVIMENTO
Afif chegou a ser cotado para ocupar o Ministério do Desenvolvimento, mas ele negou uma transferência para a pasta, segundo o parlamentar da legenda.
No Ministério do Desenvolvimento e no PT de Minas Gerais, a expectativa é de que o titular Fernando Pimentel deixe o governo até a próxima quinta-feira para dar início à pré-campanha da disputa estadual.
Dilma tem se esforçado para encontrar um novo ministro no meio empresarial, mas até agora o governo só ouviu negativas, o que pode levar a presidente a adotar uma solução caseira para a pasta.
Se for essa a solução, um nome que circula nos corredores do ministério é o do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges, um dos responsáveis pela elaboração da atual política industrial.
Dilma também quer incorporar ao governo o recém-criado Partido Republicano da Ordem Social (Pros), para onde migrou o governador do Ceará, Cid Gomes, depois de romper com o PSB, que lançará seu presidente e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência.
O presidente da legenda, Eurípedes Júnior, disse que conversou com Dilma sobre o ingresso do governo em novembro e desde então não foi convidado novamente para negociar cargos no primeiro escalão. O partido deve se reunir na próxima semana com Mercadante para retomar as conversas.
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