Bolsonaro fere a lei eleitoral e discute campanha em reunião no Planalto
Ação configura uso da máquina pública
Reuters - O presidente Jair Bolsonaro reuniu nesta terça-feira ministros no Palácio do Planalto com o objetivo de alinhar as conversas com sua equipe de primeiro escalão sobre ações do governo e também de olho em turbinar o pagamento de programas sociais e benefícios, afirmaram à Reuters duas fontes com conhecimento direto das tratativas, em uma nova ofensiva que mira a sua tentativa de reeleição.
Publicamente, segundo as fontes, a reunião ministerial foi marcada para que Bolsonaro ouvisse dos ministros --muitos deles novatos em razão da desincompatibilização dos antecessores para concorrer em outubro-- o andamento das ações em suas pastas.
Entretanto, reservadamente o objetivo era para que os ministros buscassem definir um cronograma de viagens para divulgar ações e alardear os feitos do governo federal, disseram as fontes.
Esse movimento tem de ser feito de forma muito sutil para não se configurar uso da máquina pública na campanha, atitude que pode ser configurada como crime eleitoral e, em alguns casos, pode ser punido inclusive com a cassação da chapa candidata.
Desde o início do mês, quando se atingiu a marca de três meses antes das eleições, uma série de condutas é proibida para agentes públicos como a inauguração de obras e a contratação de servidores públicos.
A avaliação do núcleo de campanha é que quatro fatos negativos com ampla cobertura da imprensa não tiveram impacto na popularidade de Bolsonaro conforme pesquisas internas, segundo as fontes.
Um deles está relacionado às denúncias envolvendo o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal em uma operação sobre desvio de recursos na pasta. Outro episódio, este na semana passada, foi a queda do então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que deixou o cargo na esteira de acusações de assédio sexual.
As mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, na Amazônia, também tinham potencial para prejudicar a campanha, assim como a discussão em torno do preço dos combustíveis e o comando da Petrobras, após a queda de mais um presidente da estatal petrolífera.
IMPULSO
Após um período de notícias negativas, a principal aposta do núcleo duro da reeleição e de aliados é que a provável aprovação da PEC dos Benefícios --que passou pelo Senado e agora está na Câmara-- dê um impulso para a campanha do presidente.
A expectativa é que, com a proposta em vigor, Bolsonaro apareça competitivo nas pesquisas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quando a campanha propriamente dita começar, em agosto. Inicialmente, admitiram as fontes, a virada era esperada para este mês. Atualmente, o presidente aparece atrás do petista.
A PEC prevê o aumento do valor do Auxílio Brasil de 400 para 600 reais e do vale-gás para garantir a compra de um botijão a cada 2 meses, a criação de um auxílio de 1 mil reais por mês para o abastecimento de diesel de transportadores autônomos, que pretende atender 900 mil caminhoneiros até o fim do ano, e ainda uma espécie de subsídio para empresas custear a gratuidade do transporte público para usuários maiores de 65 anos.
Apesar de timidamente chamar a proposta de eleitoreira, a oposição não deve se opor a ela no atual cenário de carestia no país. Os governistas, por sua vez, defendem que a PEC é para enfrentar uma situação concreta, embora reconheçam a "repercussão política" da mesma.
"A PEC não é para fins políticos, é sim para atender aos que mais estão precisando neste momento dado ao recrudescimento de casos de Covid e também pela guerra Rússia-Ucrânia, apesar de haver, sim, repercussão política das consequências da sua aprovação", afirmou o presidente em exercício do PP, o deputado Claudio Cajado (BA).
O deputado defende um acordo para tentar votar a PEC na Câmara ainda nesta semana --uma fonte da campanha de Bolsonaro defende que ela entre em vigor ainda este mês e não apenas em agosto.
CAMPANHA
Outra foco de atuação de aliados é a estruturação da campanha à reeleição. Segundo uma das fontes, o núcleo político tem o entendimento de que é preciso gerar fatos positivos para tentar aumentar a intenção de voto de Bolsonaro e reduzir a sua rejeição apontada em pesquisas.
Para tanto, segundo essa fonte, uma equipe de comunicação coordenada pelo ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wanjgarten está sendo montada.
Esse esforço por fatos positivos terá entre um dos marcos o dia 23 de julho, em São Paulo, durante a convenção nacional do PL que irá oficializar a chapa puro sangue Bolsonaro e o general da reserva Walter Braga Netto, o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa que deverá ser o candidato a vice.
Ainda nessa linha, de acordo com essa fonte, a campanha pretende lançar um programa de governo para a segunda gestão Bolsonaro. A decisão sobre o assunto não está tomada, mas a avaliação é que poderia valer como contraponto ao programa de Lula, que defende, entre outros pontos, a revisão da reforma trabalhista.
A expectativa da campanha, segundo a outra fonte, é que com a PEC dos Benefícios e a geração de novos fatos positivos o "ponteiro da popularidade" de Bolsonaro volte a aumentar. Outro ponto que tem sido comemorado momentaneamente por aliados, de acordo com a fonte, é que ele voltou a reduzir ataques contra o sistema eleitoral e buscado enfatizar suas realizações de governo.
O presidente foi aconselhado por aliados como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a moderar nessas críticas e falar das conquistas que lhe dão votos. A avaliação é que a medida tem surtido efeito, disse a fonte, que admite não saber até quando vai essa trégua porque o chefe do Executivo também precisa agradar à ala ideológica dos apoiadores.
No atual período de pré-campanha, segundo as fontes, Bolsonaro já tem colhido frutos diante do início da redução do preço dos combustíveis após a aprovação de uma proposta que reduziu a alíquota do ICMS sobre derivados de petróleo. De acordo com uma das fontes, bolsonaristas têm se mobilizado nas redes sociais para amplificar essa queda na gasolina, atribuindo-a ao presidente.
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