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    Olha quem está falando

    Jornalistas investigativos não apuram notícias com a professora Helena e a velhinha de Taubaté, mas a sanha de apedrejar os outros parece mais acesa do que nunca na imprensa brasileira

    André  Cunha avatar
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    Fico vendo esses jornalistas se agredindo e penso: quem no país está discutindo o trem bala? O submarino nuclear? O satélite brasileiro? A transamazônica, os garimpos?

    Não, a pauta agora é “CPI da mídia” e com quem andam falando Leonardo e Policarpo em telefonemas maquiavélicos. Na boa, acho essa história de CPI da mídia um autocanibalismo da imprensa e uma perda de tempo. Mas, confesso: também leio as fofocas.

    O 247, que se diz um espaço onde “é possível concordar ou discordar, ao mesmo tempo, de nomes como Reinaldo Azevedo, Luís Nassif ou Paulo Henrique Amorim. Afinal, não temos rótulos, não temos preconceitos e não somos nem JEGs nem PIGs. Somos livres” caiu de pau em cima do Policarpo da Veja porque ele falava de forma contumaz com Carlinhos Cachoeira ao telefone.

    Mas Leonardo Attuch provou “do seu próprio veneno” as ser revelado por Mino Pedrosa que ele volta e meia batia papo com ninguém menos que Daniel Dantas e Naji Nahas, de quem seria uma espécie de laranja. Como Policarpo seria mero capacho das intenções mais sórdidas de Cachoeira.

    Reinaldo Azevedo (enxovalhado porque falava com Demóstenes) pergunta:

    “A propósito: o 247 é tão libertário a ponto de publicar artigos de Mino Pedrosa, ou a pluralidade só vai até Delúbio Soares e José Dirceu?”

    É uma pergunta desonesta vindo dele, que só publica o que lhe convém nos comentários, mas não deixa de ser uma pergunta. Por sinal, podiam cogitar a ideia de um ombusman aqui dentro.

    Ora, qualquer pessoa minimamente razoável sabe que nem Leonardo nem Policarpo são tão tapados quanto parece. Ocorre que há algo de passional em amar ou detestar certos veículos, como se eles fossem a encarnação do entreguismo ou do salvacionismo. O pessoal da esquerda tende a detestar a Veja com um ódio incontido, como se lá não fossem capazes de um parágrafo isento ou sequer bem redigido.

    O outro lado não ajuda, pois Reinaldo trata todos que discordam dele como “essa gente” e ter empregado o Mainardi não faz exatamente o filme da revista.

    De resto, por que Leonardo ou Policarpo não falariam com Dantas, Cachoeira e tantos outros contraventores? Não estou dizendo nenhuma novidade. Alguns jornalistas como Gilberto Dimenstein escreveram coisas parecidas. Isso aqui, por exemplo:

    “Se todos os jornalistas investigativos fossem proibidos de conversar com fontes de biografia suspeita para obter informações valiosas, provavelmente não haveria descobertas de falcatruas.”

    “Vivi em Brasília por 13 anos, onde ganhei todos os prêmios possíveis de jornalismo. Posso garantir que existe uma regra de ouro: naquele ambiente putrefato, quanto pior o indivíduo, melhor a fonte. Muitas vezes, desse lodaçal saem reportagens que jogam luz na bandalheira. Lamento, mas o jogo é esse em todos os lugares do planeta.”

    Fora a tiração de onda (ganhei todos os prêmios do jornalismo), ele diz algo bastante óbvio, mas mesmo assim foi apedrejado. Colegas, falar com um criminoso não é crime. Aliás, é o ganha-pão de muita gente: advogados, juízes, policiais, jornalistas, e outros. E qual jornalista não gostaria de uma entrevista exclusiva com Hitler no currículo, por exemplo?

    “Mas eles não estavam entrevistando, e sim batendo papo e trocando afagos.” Me desculpe, mas dar uma lustrada no contraventor também não implica contravenção, faz parte do trabalho cortejá-lo e seduzi-lo pra que ele abra as pernas (digo, a boca). Ou, dito de outra forma: “Quer me foder, me beija, porra!”

    Se alguém age de ma fé nessa história é a polícia federal, que manipula a imprensa e solta um furo pra um, uma fofoca pra outro, um trecho de áudio (muitas vezes descontextualizado) pra um terceiro, e lança jornalistas uns contra os outros, mais confundindo do que esclarecendo a população sobre o caso. Não raro se acusa Fulano e Beltrano de estarem conspirando sobre a pica de aço do mestre de obras, quando falavam da obra do mestre Picasso.

    Se a divulgação de uma investigação da polícia é um ato de interesse público, deveria seguir os princípios da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Ou seja, tratamento igual pra todos. Em uma coletiva, o delegado responsável deveria explicar exatamente quem está sendo acusado e porque, além de revelar as mesmas provas pra todo mundo. Aí, que cada um tire suas próprias conclusões. O pinga-pinga dos áudios comprometedores não torna nada mais claro, apesar de ser notadamente mais divertido pra eles, que devem rir pra valer com confusão toda (e se acharem poderosos, claro).

    Estou provocando, admito, mas não defendendo o relativismo do crioulo doido ou tampouco o vale-tudo na apuração de notícias. Se ficar devidamente provado (com provas concretas e respeitado o direito a ampla defesa) que um jornalista foi antiético, desonesto, que se associou ao crime, que lesou a sociedade, então que seja punido dentro da lei. Antes disso, o apedrejamento na Internet tem pouco efeito prático, além, claro, de dar audiência pros veículos que se agridem.

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