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Aos 59 anos do golpe militar, Cordão da Mentira desfila contra os massacres de ontem e hoje

Ato em SP reuniu vítimas da repressão do Estado na ditadura e na democracia para denunciar a violência e cobrar justiça

(Foto: Gabriela Moncau)

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Brasil de Fato - Na manhã deste 1º de abril, dia da mentira e também data em que se completam 59 anos do golpe militar de 1964 no Brasil, centenas de manifestantes se concentraram em frente ao antigo DOI-Codi, um dos principais centros de tortura e assassinato de presos políticos, em São Paulo, para o "desfil&scracho" do Cordão da Mentira.

O bloco, organizado por grupos de teatro, musicistas e ativistas, denuncia a violência estatal da ditadura empresarial-militar brasileira e, também, dos tempos democráticos.

"Genocidas, fascistas, fardados: serão mesmo anistiados?" é o tema do cordão de 2023, que acontece dois dias depois do retorno de Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil, a primeira vez em que, alvo de uma série de inquéritos, ele pisa no país sem foro privilegiado. Na próxima quinta-feira (4), Bolsonaro depõe à polícia sobre o caso das joias recebidas da Arábia Saudita.

Mães de vítimas da violência policial de diferentes partes do Brasil participaram do ato. Entre elas, integrantes do Movimento Independente Mães de Maio e dos coletivos de Mães de Paraisópolis (SP) e Mães de Manguinhos (RJ).

Uma das presentes foi Ilza Maria de Jesus Soares, do movimento das Mães de Maio, que teve seu filho Tiago assassinado aos 19 anos, no dia 14 de maio de 2006 - data do Dia das Mães daquele ano. Para ela, a situação mostra que "a ditadura nunca acabou".

"O Estado não matou só nosso filho, ele mata a cada uma das mães. Dia a dia a gente está lutando. Nossos filhos não vão estar presentes mais junto conosco, mas a gente luta pelo neto, pelo sobrinho, por vocês mesmo, entendeu?"

Também esteve presente no ato Ana Paula Oliveira, cofundadora e coordenadora do Movimento Mães de Manguinhos, criado em 2014 após uma série de assassinatos em operações da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro. Entre eles, estava Jonathan, filho de Ana Paula, morto aos 19 anos pela polícia.

"De lá para cá, a gente vem travando uma luta por justiça, por memória, por verdade, mas, acima de tudo, uma luta pela vida, né?", define Ana Paula, que faz coro com Ilza ao explicar que veio para o ato mostrar que "nas favelas e nas periferias a ditadura nunca, nunca deixou de existir, porque o Estado segue torturando, segue desaparecendo com os nossos corpos, segue assassinando nossos corpos".

"Como não houve realmente uma justiça e uma reparação às vítimas da ditadura, isso faz com que siga se repetindo. Infelizmente, após esse período ditatorial, eles seguem com um novo padrão. Hoje tem um alvo que é o corpo preto, pobre, favelado, né? Tem um CEP, que são as favelas e as periferias de todo o Brasil, não só do Rio de Janeiro", afirma.

"Nós estamos aqui para dizer que não aceitamos, que não vamos dar um passo atrás. E que fascista, genocida, racista, fardados, no que depender da nossa luta, não serão anistiados, porque a gente espera que a justiça aconteça. Essa justiça institucional, ela é falha. Ela não nos enxerga, ela só nos enxerga quando é para nos condenar, para nos punir. Mas eu acredito na luta das mães, na luta das pessoas que caminham ao nosso lado. Eu sempre falo que a justiça somos nós." 

Também fizeram falas representantes do Movimento Negro Unificado (MNU), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e sobreviventes do cárcere, entre outros.

Violência continuada

A caminhada saiu da frente do antigo centro de tortura do regime militar, prédio que hoje abriga o 36º Distrito Policial. Um simbolismo que dialoga com a análise de Ivan Seixas, que sentiu na pele a violência perpetrada pela ditadura nas salas do prédio.

Aos 16 anos, em 1971, Ivan foi preso junto com seu pai, o operário Joaquim Alencar de Seixas, dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Os dois foram levados ao DOI-Codi, onde foram torturados juntos. Sua mãe e suas duas irmãs também foram presas no centro. Todos ouviram a execução de Joaquim.

Leia a reportagem completa no Brasil de Fato.

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