Arthur Chioro: postura de Doria chega ao ‘mesmo patamar de irresponsabilidade’ de Bolsonaro
O ex-ministro da Saúde no governo Dilma considera as medidas de combate à Covid-19 impostas pelo governador de São Paulo como “frágeis” e “atrasadas”
Rede Brasil Atual - Para o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde no governo de Dilma Rousseff Arthur Chioro, as “barbaridades e barbeiragens que estão sendo cometidas agora” pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), “começam a igualá-lo ao mesmo patamar de irresponsabilidade do presidente da República”, Jair Bolsonaro.
Em entrevista ao programa Revista Brasil TVT neste domingo (6), o ex-ministro da Saúde chamou de “frágeis” e “atrasadas” as medidas e a regressão de fase no Plano São Paulo, de combate ao coronavírus no estado. Há uma semana, logo após as eleições, o governo recuou da fase verde para a fase amarela diante do aumento de casos em decorrência da covid-19.
De acordo com o Chioro, no entanto, “desde o dia 11 de novembro estava absolutamente caracterizado o aumento do número de casos”. O médico sanitarista também avaliou como “muito grave” a denúncia do repórter da RBA, Rodrigo Gomes, que mostra como Doria desconsiderou dados do Censo Covid-19, organizados pelo próprio governo, para minimizar a gravidade da pandemia e a passagem de fases.
Faltam diretrizes no Brasil
O governador e a secretaria de Saúde omitiram 2.506 internações, índice que levaria todo o estado não para a fase amarela, anunciada pelo governo, mas a laranja – mais restritiva – do Plano São Paulo. Para Chioro, o quadro brasileiro é de “governantes absolutamente incapazes de tomar tanto as medidas sanitárias necessárias, como produzir medidas econômicas”.
“Nós não aprendemos com os países da Europa Ocidental, quando eles viveram a primeira onda, trabalharam com lockdown durante 40 a 60 dias. Fizeram altas taxas de testagem e controle, e eles conseguiram controlar a pandemia. Claro, tiveram a segunda onda, mas novamente voltaram a tomar as mesmas iniciativas, como a adoção de medidas de isolamento muito drásticas. E me parece que elas são mais importantes para a própria recuperação da economia, proteção do emprego, enfrentamento da crise social e econômica, que a pandemia de covid-19 com certeza traz, do que passarmos esses 10, 11 meses de embromação”, critica.
O diretor-geral do Hospital Sírio-Libânes, Paulo Chapchap, também contestou a postura do governo diante do aumento de casos do novo coronavírus. Ao jornalFolha de S. Paulo, ele descreveu as medidas como “insuficientes” e alertou para o risco de uma nova “calamidade”.
Natal diferente
Para Chioro, as críticas e reações evidenciam que Doria quer “favorecer o próprio comércio”. “Tanto é verdade que o governador disse que a próxima revisão só acontecerá em 4 de janeiro. Ele sabe que, se tiver que revisar, terá inclusive que apontar para um fechamento maior das atividades econômicas e sociais, que é o que a gente precisa ter”, observa aos jornalistas Cosmo Silva e Nahama Nunes.
A 20 dias do natal, neste sábado (5), ruas do Brás ea 25 de Março, no centro de São Paulo, registraram congestionamento e lotação. Com a proximidade das festas de final de ano, a movimentação se intensificou, com shoppings da capital registrando inclusive filas e aglomerações na entrada.
O ex-ministro da Saúde, no entanto, adverte: “essa é a hora de fazer um esforço (no isolamento social) que ainda é importante”. “Tenho recebido muitos pedidos, ‘o que você acha professor, dá para passar em segurança o Natal com a minha família?, dá para reunir a família?’. E tenho dito claramente para as pessoas, se a gente ama os nossos familiares, se respeitamos os nossos idosos, se amamos a vida, este ano é um ano para passar o Natal diferente. Já aguentamos um ano. E se quisermos ter outros Natais, outros anos novos, vai ser fundamental uma atitude responsável para garantir segurança até passar esse momento mais crítico. E aí 2021, depois da vacinação, com outro quadro, podemos voltar a progressivamente retomar a vida no ritmo normal”, destaca Chioro.
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