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"São cinco anos e quatro meses resistindo", diz mãe de Marielle. Vereadora faria 44 anos nesta quinta

"Apesar de ela não estar aqui fisicamente, queremos celebrar a vida, o dia que pari minha filha, que tem um simbolismo muito grande", desabafa Marinete

Marielle Franco (Foto: Mídia NINJA)

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247 - A data de 27 de julho tem um significado especial para a família de Marielle Franco, que completaria 44 anos nesta quinta-feira (27). Desde o trágico assassinato da vereadora aos 38 anos, em 14 de março de 2018, seus entes queridos têm vivenciado um turbilhão de emoções a cada aniversário. Entretanto, nesta semana, a mistura de sentimentos ganhou novas perspectivas com a recente delação de Élcio de Queiroz, tornada pública na última segunda-feira (24). Ele confirmou ser o motorista do carro utilizado no crime e apontou Ronnie Lessa como o autor dos disparos contra Marielle e o motorista Anderson Gomes.

A revelação de Queiroz também resultou na prisão de outro envolvido no caso, o ex-bombeiro Maxwell Corrêa, conhecido como "Suel". Pela primeira vez em cinco anos, as notícias sobre a investigação parecem representar um avanço na busca pelos mandantes do crime. Em meio a esse cenário de saudade e surpresa com os desdobramentos, os pais de Marielle, Antônio Francisco da Silva Neto, aposentado de 71 anos, e Marinete, advogada e católica fervorosa, buscam amparar-se nas lembranças da vitalidade e alegria que a filha emanava, embora reconheçam a dificuldade dessa tarefa. >>> Élcio Queiroz conta que Marielle era monitorada há tempos, detalha noite do crime e implica quarto envolvido

Durante entrevista ao jornal O Globo, Antônio não escondeu sua surpresa ao saber que a intenção dos criminosos era assassinar a filha no fim do ano, conforme relatado por Queiroz em seu depoimento. Por outro lado, Marinete estremece ao pensar no quão angustiante seria lidar com a tragédia perto do Natal. "Nem posso imaginar isso. Deus me livre". Ambos evitam mencionar os nomes dos acusados, o que parece ser uma estratégia de defesa emocional quando o debate em torno dos acontecimentos volta a esquentar.

Com a confirmação dos fatos pelos delatores, o aposentado relembra a véspera do assassinato de Marielle, quando Marinete a acompanhou em uma terça-feira, visitando a Câmara dos Vereadores e rodando várias farmácias com o motorista Anderson para cuidar de Luyara, filha da vereadora, que estava com conjuntivite. Em meio a essas memórias, surge a percepção de como os suspeitos estavam próximos nesse dia fatídico, mas a presença da mãe pode ter influenciado a decisão dos criminosos. "Naquele dia, os caras estavam próximos, mas, como a mãe acompanhava, avaliaram isso, ou não tiveram chance devido à localidade", diz o pai. >>> Caso Marielle: após o crime, Lessa comprou lancha, caminhonete Dodge Ram e pretendia construir uma fortaleza de dois andares

A notícia da prisão de mais um suspeito abalou profundamente Antônio, que recebeu a ligação da filha Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, que se encontrava na Colômbia. O impacto emocional foi intenso, e ele desabafou sobre suas emoções e o sentimento de aperto no coração. Nas ocasiões de aniversário de Marielle, a saudade se mistura à lembrança de sua personalidade festeira, mas agora, com as novas revelações, a família se sente abalada ao relembrar os detalhes do crime. "Eu passei mal. Coincidiu de ela me ligar quando eu estava sozinho. Eu chorei para caramba no telefone, me deu um aperto no coração. Sentei... Pensei: “Será que é hoje o meu dia?” No aniversário da Marielle costuma vir a memória de como ela era festeira, mas também um sentimento de dor, ainda mais nesta semana. Depois de os caras detalharem tudo, como fizeram, como iam fazer... Quando a gente vê aquilo fica (suspira, e os olhos marejam)... abalado", relata Antônio.

Marinete, buscando forças em sua religião, destaca que a data de 27 de julho representa o nascimento de Marielle, e mesmo não estando fisicamente presente, eles desejam celebrar a vida da filha. "Esta data traz a vertente do nascimento da Marielle. Apesar de ela não estar aqui fisicamente, queremos celebrar a vida, o dia que pari minha filha, que tem um simbolismo muito grande, Ela nasceu, foi uma criança saudável e entrou nessa luta cedo. A gente vive na nossa fé. Não dá para imaginar que a vida dela parou em 2018. Ao contrário: Marielle se renova, com sua pluralidade, trajetória, mulher de história católica".

Nesse contexto, a família, devota de Maria, reunirá-se na Igreja Nossa Senhora do Parto, no Centro, para celebrar o aniversário de Marielle. À tarde, na Favela da Maré, berço da vereadora, acontecerá o lançamento da fotobiografia em sua homenagem. Padre Gegê, amigo da família, conduzirá a missa, e o avanço nas investigações dá um sentido renovado a esse momento.

Antônio, emocionado, recorda-se do sorriso encantador de sua filha e encontra consolo em suas memórias. Ele cita a deputada federal Erika Hilton, de São Paulo, como alguém com qualidades semelhantes às de Marielle. "Se eu pudesse, daria muitos abraços nela. Minha filha era muito linda. Até hoje eu a guardo assim. Seu cartão de visitas era o sorriso. A retórica era excelente também. Hoje em dia, vejo na Erika Hilton (deputada federal pelo Psol de São paulo) algo semelhante. Do trabalho da Marielle surgiram sementes. Esse legado está aí".

Durante o luto, que já se estende por mais de cinco anos, Marinete ainda enfrentou um câncer de mama. "Na época do câncer, foram três cirurgias num só seio. Se for parar com minha dor, não vou fazer nada. Aqui em casa, agora, o que resta da família sou eu e Toninho. São cinco anos e quatro meses resistindo. Não sou a primeira mãe que passa por tudo isso. Muita gente não aguenta. Não tenho tempo para terapia, as coisas precisam continuar. A vida vai dando jeito".

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