HOME > Sul

Crescimento do nazifascismo no Brasil é um projeto ideológico organizado, aponta Ideli Salvatti

Ex-ministra de Direitos Humanos alerta que o combate ao extremismo não deve ser tarefa apenas do governo Lula, haja vista que se trata de um problema global de grande complexidade

Bandeira nazista e a ex-ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti (Foto: Reprodução/Senado)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 - A educadora catarinense e ex-ministra dos Direitos Humanos do governo Dilma, Ideli Salvatti, compartilhou em entrevista à TV 247 o temor que as ações extremistas recorrentes em seu estado vem provocando. Para ela o crescimento do ódio, da violência e do nazi-fascismo no estado catarinense não é apenas reflexo de um país que estimulou intensamente discursos furiosos nos últimos anos e sim um projeto ideológico. “Não é o cogumelo que nasce depois da chuva. É uma plantação bem feitinha, estrategicamente organizada, orquestrada.”

O caso específico do Estado de Santa Catarina desperta preocupação não somente em Ideli, que ja foi senadora por aquele estado, mas também no Ministério da Justiça e Segurança Pública que recebeu da ex-ministra diversos alertas que apontam o crescimento de células nazi-fascistas na região. O ministro Flávio Dino chegou a visitar o estado logo após a tragédia ocorrida em Blumenau para conversar com autoridades envolvidas no combate à violência mas não foi recebido pelo governador, que alegou estar ausente por motivos de saúde. “O Governador não quis receber o Ministro a vice-Governadora quem foi no ato de entrega das viaturas e dos equipamentos.O governador estava em um evento do Sistema S”. 

Em virtude do crescimento de manifestações extremistas naquele estado foi criado o movimento Humaniza Santa Catarina, que tenta atuar no combate às diversas formas de violência e preconceito mobilizando a sociedade catarinense na defesa da paz e diversidade. “Já tivemos oportunidade de abrir processo judicial contra o governador e estamos com um processo de coleta de assinatura para cassação da deputada Júlia Zanatta”, afirmou Ideli. A ex-senadora se refere respectivamente ao governador Jorginho Melo (PL), que fez defesas públicas aos envolvidos no ataque de 8 de Janeiro em Brasília e chegou a manifestar o desejo de acompanhar de perto através de advogados do estado; e ao caso de apologia à violência direcionada ao presidente Lula, da deputada do mesmo partido.

Ideli entregou nas mãos de Flávio Dino um relatório elaborado pelo movimento Humaniza que pede que o Governo Federal observe o Estado de Santa Catarina de forma especial e entenda que ele necessita de ações específicas de combate ao crescimento do nazi-fascismo. “Tem que olhar diferenciado. Santa Catarina tem que ser olhada com um pouco mais de atenção e ele concordou conosco”, afirmou. A ex-ministra considera que a fala do ministro sobre o discurso de apologia ao nazismo foi uma resposta positiva aos apelos que o movimento fez. 

Operação Escola Segura 

Ideli esteve à frente do Ministério dos Direitos Humanos durante o governo de Dilma Rousseff e encontrou semelhanças de ações do seu período com as ações interministeriais estabelecidas neste ano. A começar pela semelhança Logística entre os canais de denúncia que em 2015 já operava em colaboração com a Safernet, sob o nome de Operação Humaniza Redes. 

A coincidência entre as ações, segundo Salvatti, demonstra a continuidade de políticas progressistas de segurança pública e direitos humanos. Além de comparar com a gestão anterior do PT no governo federal, a ex-ministra faz um contraste entre a Operação Escola Segura com as iniciativas do governo estadual de Santa Catarina, que focam no armamento e segurança ostensivos na escola a fim de beneficiar produtores e vendedores de armas. “Maravilhosa a pressão que Flávio Dino está fazendo para cima das plataformas. É fantástica! Ele está aproveitando o momento, a comoção que se colocou em todo o país. Isso é muito mais eficiente do que o que nosso Governador quer fazer para dar lucro para a indústria de arma que é comprar armamento e contratar policial”.

Ideli alerta que as ações não devem ser executadas exclusivamente por pastas ministeriais, haja vista que se trata de um problema global de grande complexidade: “Obrigatoriamente tem que ser de Governo, tem que ser ação articulada entre vários ministérios com o presidente dando o tom, dando a ordem.” Para a ex-ministra as ações independentes podem acabar gerando um choque de responsabilidade e travando juridicamente as ações, sobretudo no que se refere à nebulosidade das plataformas digitais.  

Onde há armas, não há educação

Outra problemática que a educadora observa na aplicação de programas que tentam reduzir a violência nas escolas é a estabilidade oferecida aos educadores da rede pública.Ideli considera que o excessivo número de professores contratados em caráter temporário dificulta a criação de elos com a comunidade escolar, sobretudo com os alunos  que são os mais afetados por estes fenômenos.”Você ter um corpo de profissionais da educação permanentes, concursados, que façam parte que e que conheçam aquela comunidade e aquele conjunto de alunos faz toda a diferença. É o aspecto social da escola, de integração, de monitoramento, de observação. Isso vai muito para além da mera transmissão de conhecimento.”

Sobre o papel do professor no na observação do comportamento dos alunos, Salvatti lembra que os educadores são os principais captadores de problemas dos alunos em seu ambiente familiar, identificando situações de abuso. “A educação pressupõe um clima de interação, um clima de confiança, um clima de troca entre as pessoas que estão ali”.  Desse modo, ela considera absolutamente contraproducente um ambiente policiado e armado como propõe o governador Mello. “a hora em que a arma entra dentro da escola oficialmente, institucionalmente, a educação sai. Uma entra por uma porta, a outra sai por outra. Não tem clima você fazer educação no ambiente onde tem arma. A educação pressupõe clima de paz.”

Outro apontamento que Ideli faz para desmontar argumentação de que policiamento ostensivo pode reduzir a violência nas escolas é a subjetividade dos conflitos que são praticadas dentro do ambiente escolar. “A gente se apega muito à arma, mas qual é a arma do bullying, da discriminação, do preconceito? Isso tudo é violência e tem que ser encarado pedagogicamente para ser superado.”

 Assista à entrevista:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: