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'Cuidar da visão é também cuidar da sociedade que queremos ter'

No mês de conscientização sobre os diversos tipos de cegueira, o oftalmologista Claudio Lottenberg chama a atenção para o impacto social da perda de visão

(Foto: Free-Photos por Pixabay)

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Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 2,2 bilhões de pessoas sofrem com algum grau de perda de visão no mundo. Dessas, 1 bilhão poderia ser prevenido ou tratado. Isso porque entre as principais causas estão a catarata e os chamados erros de refração (miopia, hipermetropia, presbiopia e astigmatismo), além de glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética - todos problemas que podem ser identificados precocemente e tratados. Mas, para se ter uma ideia, entre as pessoas que precisam óculos, menos da metade (43%) faz uso deles, estima artigo publicado no Lancet. 

No mês dedicado à conscientização sobre os diversos tipos de cegueira, o chamado Abril Marrom, a Agência Einstein conversou com Claudio Lottenberg, oftalmologista, Presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e Presidente Institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) sobre os impactos da perda da visão e a importância do tratamento precoce. 

Agência Einstein - Qual seria a principal forma de prevenir os problemas de visão e a cegueira?

Claudio Lottenberg - Há inúmeras causas reversíveis, mas uma das principais é a falta de óculos. Então é estarrecedor que algo tão básico leve à perda de visão e que uma medida muito simples possa reverter esse quadro. A gente deveria ter mais ações para prescrição de óculos a quem precisa. E a falta de óculos traz um impacto enorme. Nas crianças, o sistema visual amadurece desde o nascimento até a primeira infância, lá pelos 6 ou 7 anos - alguns autores consideram até os 12. Se há um problema de visão e os olhos não recebem o estímulo correto, o sistema não vai se desenvolver de forma adequada e essa criança não vai chegar a ter visão 100%. Além disso, pode haver repercussões na visão de profundidade.

Quais outros problemas reversíveis podem levar à cegueira?

Com o aumento da expectativa de vida, aparecem doenças que não eram tão presentes, como a catarata, que atinge cerca de 60% da população acima dos 60 anos. Hoje, com a cirurgia, além de retirar a catarata conseguimos devolver ao paciente a capacidade de enxergar sem óculos.  Já o glaucoma está muito associado à alta pressão intraocular, mas nem sempre isso ocorre. É uma doença do nervo ótico e temos diagnosticado muitos casos de glaucoma de baixa pressão. A degeneração macular relacionada à idade, por sua vez, afeta 20% das pessoas com mais de 70 anos. Hoje há tratamento com medicamentos que impedem a evolução da doença. Todos esses problemas podem ser diagnosticados precocemente e tratados antes de levar à perda irreversível da visão. Daí a importância de consultas de rotina desde a primeira infância, mesmo que a pessoa não apresente sintomas. 

De que forma a simples falta de óculos afeta o desenvolvimento da pessoa? 

O impacto cognitivo de não enxergar bem é muito grande. Às vezes o jovem tem baixo rendimento escolar porque tem um problema de visão que não foi detectado e tratado. Quem sofre de hipermetropia, por exemplo, sente muito cansaço ao ler de perto. E tudo isso aparece como problemas no rendimento escolar e de integração social. 

Os problemas de refração podem até afetar a personalidade. Por não enxergar bem de longe, os míopes muitas vezes são tímidos, o que acaba prejudicando até a socialização. 

Para um adulto é mais fácil identificar quando sente dificuldade de enxergar, mas a criança pode não entender sua dificuldade e até os motivos do seu isolamento.

E qual o impacto na sociedade como um todo?

Os problemas de visão refletem o perfil de sociedade que temos hoje. Por todos os motivos acima, acho que o Brasil perde muito por não tratar os vícios de refração. Cuidar da visão é também cuidar da sociedade que queremos ter.

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