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    Sua menstruação é normal?

    Pouco conhecido, o Sangramento Uterino Anormal (SUA) atinge uma a cada três mulheres no mundo, segundo a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO)

    Coletor menstrual e diferentes tipos de absorvente (Foto: Reprodução)

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    Por Brienny Bueno, da Agência Einstein - A pesquisa para saber “quando a menstruação é normal” cresceu, entre os meses de janeiro a outubro, 58% em comparação ao mesmo período de 2019, de acordo com o Google Trends (ferramenta do Google que analisa a quantidade de vezes em que uma palavra ou frase foi pesquisada na plataforma). Em julho deste ano, a busca atingiu seu pico: 100 pontos, enquanto no mesmo mês do ano anterior foram 40. Já uma pesquisa online realizada pela farmacêutica Bayer com mil mulheres de perfis e faixas etárias diferentes do Canadá, Estados Unidos, França, Rússia e Brasil apontou que 66% delas gostariam de entender se o seu fluxo menstrual é normal. Isso mostra que as dúvidas sobre o tema são muitas. Mas por que o assunto ainda não é tratado de forma aberta?

    Segundo o médico Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, tudo o que envolve a mulher é cercado de tabu, medo e desinformação. Ainda hoje, há quem fale para as mulheres que sangrar em excesso é normal e que elas precisam se acostumar, já que seria algo natural. Mas, é importante lembrar que não é comum sentir-se mal ou deixar de realizar atividades do dia a dia por conta do fluxo ou dores causadas pela menstruação. Além disso, as características podem estar relacionadas ao Sangramento Uterino Anormal (SUA), condição que atinge uma a cada três mulheres em algum momento da vida, de acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO).

    O SUA é caracterizado pelo fluxo menstrual intenso e apresenta sinais como: duração da menstruação por mais de oito dias, necessidade de troca de absorventes a cada duas horas no máximo ou do uso de absorvente interno ao mesmo tempo que o comum, além da preocupação constante com vazamentos. 

    A depender da causa, a condição pode vir acompanhada de outros sintomas como perda sanguínea fora do período menstrual, dor ou cólica intensa durante a menstruação, dor pélvica, cansaço e fraqueza. “Isso pode afetar negativamente a qualidade de vida das mulheres, trazendo mudanças na vida sexual, profissional, física e emocional”, afirma o ginecologista. A pesquisa realizada pela Bayer mostrou que 80% das mulheres se preocupam com possíveis acidentes relacionados à menstruação e 70% evitam atividades, entre elas exercícios físicos, devido ao fluxo intenso - duas em cada três mulheres relataram ter passado por experiências embaraçantes. 

    Porém, apesar dos indícios de que o fluxo não é normal, muitas delas, especialmente as jovens, acreditam que não precisam de ajuda para lidar com isso. Como é o caso da Bruna Andrade, de 20 anos, que teve sangramento uterino anormal intenso, seguido por cólicas, por mais de vinte dias e achava que era comum, já que fazia 8 meses que não menstruava por conta do uso de anticoncepcional. “Nos primeiros dias o fluxo foi baixo, mas ao longo do tempo foi ficando mais forte. Com isso, deixei de realizar atividades do dia a dia por medo de situações constrangedoras.”, conta Bruna. A jovem conviveu com a situação até o dia em que sua pressão arterial caiu tanto em virtude do sangramento contínuo que teve de ser socorrida em um hospital. Além da condição, exames constataram anemia decorrente da hemorragia.

    Não à toa, o levantamento feito pela indústria farmacêutica mostrou que há uma demora de cerca de três anos desde os primeiros sintomas até que a mulher discuta o assunto com um médico. Isso se dá pela falta de informação de que a condição não é comum ou uma característica particular e que pode estar relacionado com outras doenças e, em alguns casos, provocando até a perda de ferro e minerais importantes para a saúde.

    A ginecologista Lilian Fiorelli, também do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o diagnóstico é realizado a partir de exames clínicos que ajudam identificar se a causa é física, que pode ser alguma lesão ou diferença na anatomia, ou funcional, caracterizado por uma disfunção fisiológica. As mais comuns são:

    Físicas: 

    Pólipo uterino:são nódulos no útero, quase sempre benignos (não cancerosos). Eles podem ser causados por inflamação ou infecção crônica e são mais comuns em mulheres na pós-menopausa. Ocasionalmente, podem acometer mulheres mais jovens também.

    Leiomioma:popularmente conhecido como mioma, é um tumor geralmente benigno que se forma no útero durante a idade fértil. Entre os principais fatores de risco estão o histórico familiar e fatores que aumentam a exposição ao estrogênio como obesidade ou início precoce da puberdade. 

    Funcionais:

    Disfunção Ovulatória:são alterações da função do ovário, alterando assim os hormônios produzidos por ele, como o estrógeno e a progesterona, os quais estão relacionados com a reprodução. Isso é muito comum nos primeiros anos de menstruação pela imaturidade do ovário e nos anos antes da menopausa pela dificuldade progressiva na transformação dos folículos em óvulos. Outra disfunção ovulatória comum é conhecida como Síndrome dos Ovários Policísticos, que causa irregularidades na menstruação. Os fatores de risco incluem a obesidade, diabetes tipo 2, alteração nas taxas de gorduras, a hipertensão e doenças cardiovasculares.

    Iatrogênica: são os sangramentos anormais que ocorrem por conta de medicamentos, como os anticoagulantes ou ácido acetilsalicílico (mais conhecimento como AAS), além de medicamentos que contêm hormônios, anticoncepcionais entre eles. Outra possível causa é a interferência da ação do anticoncepcional com antibióticos.

    Além da importância de conhecer a condição e não se acostumar a viver com o problema, vale destacar que já existem diferentes tipos de tratamento para o SUA, que variam de acordo com a causa. Entre eles, anti-inflamatórios, pílulas anticoncepcionais, sistema intrauterino – SIU (mais conhecimento como o DIU Hormonal) e cirúrgicas.

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