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    Argentinos cortam carne e até papel higiênico do orçamento sob Milei

    Uma mulher grávida conta que come macarrão em quase todas as refeições e às vezes deixa de se alimentar para que seus filhos comam: "no último mês piorou muito"

    Javier Milei e protestos na Argentina (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian | Reprodução)

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    247 - Desde a posse do ultradireitista Javier Milei como presidente da Argentina, em dezembro, o país enfrenta uma crise econômica acentuada, com preços em disparada e uma inflação mensal que dobrou para 26% em apenas um mês. As medidas adotadas pelo novo governo, como a desvalorização da moeda local e o fim dos congelamentos impostos pelo governo anterior de Alberto Fernández, têm gerado impactos significativos no consumo e no turismo.

    Segundo a Folha de S. Paulo, a Confederação Argentina da Média Empresa (Came) realizou um levantamento que evidenciou uma queda de 14% nas compras durante as festas de fim de ano, com alimentos e bebidas liderando os cortes. Comerciantes, como Fernando Savore, vice-presidente da Confederação Geral de Armazéns da Argentina, relatam um declínio de 20% nas vendas em dezembro, prevendo quedas de até 50% em janeiro e fevereiro.

    O aumento da inflação - que passou de 13% em novembro para 26% em dezembro - levou a mudanças no comportamento do consumidor, que passou a realizar compras diárias em vez de mensais ou semanais. A necessidade de ajustar o orçamento tem sido uma realidade para muitas famílias, com cenas de clientes trocando de marca ou deixando produtos no caixa devido aos preços elevados.

    A população, já enfrentando dificuldades financeiras, relata cortes drásticos no padrão de vida. Famílias têm deixado de comprar itens básicos, como papel higiênico, e recorrem a alternativas mais econômicas. A falta de recursos também tem levado algumas pessoas a cortar refeições, evidenciando a gravidade da crise econômica. Um exemplo é Florencia Rocha que, grávida, foi recomendada pela nutricionista a evitar comer macarrão em quase todas as refeições. "Eu falei: olha, não é porque eu quero. Eu tenho que comer o almoço e a janta, e se compro verdura não vai sobrar para mais nada. Às vezes eu não como para que as crianças comam, no último mês piorou muito. Antes já estávamos mal, mas se conseguia de um jeito ou de outro. Agora já não".

    A crise inflacionária na Argentina começou durante o processo eleitoral em agosto passado, intensificando-se após a posse de Milei. A busca por dólares diante das promessas de dolarização da economia e a impressão acelerada de dinheiro para cobrir programas sociais contribuíram para a situação atual.

    O impacto não se limita ao consumo interno; as classes média e média alta também sentem os efeitos. Destinos turísticos tradicionais, como Bariloche e as praias de Mar del Plata e Pinamar, registraram uma redução na ocupação de hotéis, refletindo a queda na demanda. O aumento do preço dos combustíveis também influenciou negativamente as viagens de carro.

    Apesar da crise, a reportagem ressalta que “mesmo com a significativa perda do valor dos salários dos argentinos, o presidente ultraliberal atravessou seu primeiro mês com saldo positivo: 55% ainda aprovam seu governo total ou parcialmente, enquanto 37% o reprovam, segundo pesquisa da consultora de opinião pública CB do início de janeiro. Metade da população acredita que a responsabilidade pela situação econômica atual é do seu antecessor Fernández e 30%, de seu governo. Outros 13% acham que a culpa é dos dois”.

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