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Avós da Praça de Maio confirmam identidade de criança sequestrada: neto 133 é filho de Cristina Navajas e Julio Santucho (vídeo)

O homem, nascido em 1977, é o neto de número 133 a ser revelado, após o fim da ditadura militar na Argentina

Julio Santucho registra o 133º neto encontrado pelas Avós da Praça de Maio (Foto: Arquivo pessoal)

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Por Rodrigo Vianna, especial para o 247 - A Associação 'Avós da Praça de Maio' anunciou nesta sexta-feira (28), em Buenos Aires, a recuperação da identidade do "neto 133", revelando que ele é filho de Cristina Navajas e Julio Santucho, e neto de Nélida Navajas. O homem não teve sua identidade revelada. Poucas horas antes do anúncio, ocorreu um emocionante encontro com sua verdadeira família, relata o correspondente Rodrigo Vianna.

Em uma coletiva de imprensa realizada no auditório da Casa por la Identidad do Espacio Memoria y Derechos Humanos, a presidente das Avós, Estela Barnes de Carlotto, declarou: "Hoje honramos Nélida e todas as Abuelas que nunca perderam a esperança de encontrar seus entes queridos. Encontramos o filho de Cristina Navajas e Julio Santucho, o neto da avó Nélida Navajas".

O edifício, que estava lotado de apoiadores do grupo de defesa dos direitos humanos, serviu na ditadura militar argentina como o maior centro de tortura e extermínio do país (1976-1983). Era a sede da “Escuela de Mecánica de La Armada” (ESMA), convertida em 2004 em um museu.

O homem, nascido em 1977, é o neto de número 133 a ser revelado, após o fim da ditadura. A mãe dele, Cristina Navajas, estava grávida de 2 meses quando foi sequestrada pelos militares e mantida por seis meses em varios centros de tortura: o último deles foi o Pozo de Banfield, na Província de Buenos Aires. Nesse local, Cristina deu à luz e logo depois foi assassinada. O corpo dela jamais foi encontrado.

A criança foi forçada a ser educada por outra família. Depois de mais de 40 anos, o homem finalmente descobriu sua verdadeira identidade. O pai dele, Julio Santucho, contou que a família jamais desistiu de procurar o bebê. Julio participou do evento hoje na ESMA e disse, com exclusividade ao Brasil247, que além da enorme alegria pessoal e familiar, o caso representa "uma vitória da verdade e uma derrota da ditadura,  que tentou tirar nossos filhos. Não adiantou, nós os estamos recuperando".

Julio é o irmão mais novo de Mario Roberto Santucho, líder do PRT-ERP nos anos 1970, uma das organizações de esquerda que lutaram contra a ditadura. Mario Roberto foi morto e o corpo também nunca foi encontrado. Dos dez irmãos de Júlio, cinco foram sequestrados e mortos pelos militares.

As Avós da Praça de Maio comunicaram que "o neto 133" já se encontrou com seu irmão, sua irmã, seu pai e parte da enorme família. Além disso, informaram que Nélida teve papel central nas buscas: através de depoimentos de sobreviventes, pôde confirmar que a gravidez de sua filha seguiu seu curso, mesmo sob condições absurdas nos centros de tortura. "Nélida nunca perdeu as esperanças", afirmou Estela Barnes de Carlotto.

Também foi destacada a batalha de Nélida, que "percorreu o mundo buscando um método para identificar os netos e netas" dos milhares de detidos desaparecidos durante a última ditadura civil-militar. A avó Nélida passou quatro décadas em busca do neto e de respostas sobre a morte da filha Cristina. Mas faleceu em 2012, sem ver o resultado final de sua luta.

Miguel "Tano" Santucho, um dos irmãos do neto agora "recuperado",  expressou: "Bem-vindo querido neto, você é um triunfo de nossa democracia. É um dos momentos mais luminosos da minha vida. Me custa acreditar no que estou vivendo". E acrescentou: "Minha mãe e minha avó continuam vivendo em mim e em todas essas buscas. Isso me enche de um orgulho incomensurável."

Além disso, Miguel expressou que pôde continuar a busca graças à sua avó, mas advertiu que "não poderia ter sustentado a luta sem o apoio de todos, da família, das Avós e da sociedade".

O pai do novo neto restituído afirmou: "Penso que, apesar do quão difícil é, o melhor que pude fazer estes anos todos foi dizer às crianças a verdade: que sua mãe não estava mais por aqui por culpa dos militares". Julio também destacou que o "neto 133" foi quem mais lutou para descobrir a verdade, tão logo desconfiou que não era filho biológico da família que o criara: "ele fez tudo o que pôde para recuperar sua identidade", disse Julio Santucho.

A entidade defensora dos direitos humanos havia indicado, ao anunciar a coletiva, que "quase 40 anos após o início do período democrático mais longo de nossa história, continuamos buscando nossos netos e netas todos os dias. Cada restituição reafirma que o povo argentino nos acompanha e decide não esquecer", destacou a entidade das Abuelas.

O secretário de Direitos Humanos da Nação, Horacio Pietragalla Corti, também neto recuperado, celebrou esse fato em sua conta oficial do Twitter com a mensagem que se tornou tendência: "Bem-vindo neto 133!".

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