Celso Amorim teme conflito entre Venezuela e Guiana e tropas dos EUA na América do Sul
"Acredito que não é a intenção do presidente Maduro tomar uma medida militar, agressiva, de ataque mesmo. Mas às vezes essas questões saem do controle", avaliou
247 - Ex-chanceler do Brasil e conselheiro do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim demonstrou preocupação em relação à tentativa da Venezuela de anexar a seu território a região de Essequibo, rica em petróleo e localizada na Guiana. A Venezuela realizou um referendo neste domingo (3) e constatou o apoio massivo dos eleitores à incorporação da região disputada.
Ao Valor Econômico, Amorim avaliou que não há intenção da Venezuela de transformar a disputa pela região em um conflito militar. No entanto, ponderou: "essas coisas às vezes saem do controle". Ele também disse não entender o motivo de esta reivindicação voltar à pauta venezuelana neste momento e afirmou que um conflito poderia abrir as portas da América do Sul para exércitos estrangeiros. "Olha, eu acho que não há intenção de escalar, mas o perigo é que essas coisas às vezes saem do controle. Eu acho muito perigoso você misturar uma política eleitoral, ou mesmo que não só eleitoral. Não estou entrando no mérito nem na justiça do pedido, mas é uma pretensão de natureza jurídica, histórica, com a mobilização da opinião popular. Acredito que não é a intenção do presidente Maduro tomar uma medida militar, agressiva, de ataque mesmo. Mas às vezes essas questões saem do controle. Às vezes, até alguém que hoje está na oposição pode usar isso. A oposição apoia e pode tornar essa reivindicação irreversível. Isso é uma reivindicação histórica da Venezuela. Não vou entrar no mérito, mas está lá dormente. Até no período do Chávez ficou dormente. O Chávez fez até a Petrocaribe. A Guiana participava da Petrocaribe. Por que isso está sendo ressuscitado dessa forma agora é uma matéria de interpretação, mas eu acho perigoso". >>> "Essequibo é da Venezuela", diz Maduro, após vitória em referendo
Em um encontro com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, contou Amorim, "ele deu as explicações históricas que eu já conheço, inclusive já conhecia, que tem o acordo de 1966. Mas por que isso foi ressuscitado agora eu não sei. O fato real é que havia outras coisas que estavam predominando na agenda da Venezuela, questões ligadas ao processo eleitoral etc. E isso passou a dominar. Então, isso talvez para ele tenha sido um ganho. O problema é que o ganho interno pode se tornar um problema externo sério. Por exemplo: para nós, no projeto de integração da América do Sul, complica. Nós queremos ter boas relações com ambos, com a Venezuela e com a Guiana. E a Guiana também pode vir a tomar medidas que não nos interessam. Por exemplo, chamar tropas de outros países para ajudá-la na eventualidade de uma invasão. Isso também não é positivo".
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