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    Alberto Cantalice

    Diretor da Fundação Perseu Abramo e membro da Direção do PT

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    1º de abril de 1964

    “‘A história repete-se sempre pelo menos duas vezes’, disse Hegel. Marx acrescentou: ‘a primeira como tragédia, a segunda como farsa’”, lembra Cantalice

    (Foto: Divulgação)

    O Golpe de 1964, desencadeado pelas forças armadas e por políticos conservadores, por obra do acaso, ocorreu no Dia da Mentira. Parecia de início para alguns que seria uma farsa passageira. Ledo engano, durou 21 anos. Erguendo o “espantalho” da ameaça comunista as vivandeiras de quartéis naquele período sombrio, também encasteladas nas principais redações de jornais, rádios e TVs, bradavam aos quatro ventos que era preciso pôr abaixo o governo legítimo de João Goulart. 

    A tragédia que se seguiu com cassações, aposentadorias compulsórias, prisões, exílios e mortes já está por demais escrita e documentada. Como rescaldo tenebroso do processo, restam a aparição dos corpos de dezenas de ativistas que sequestrados e mortos pelo porão, não tiveram suas famílias a devida elucidação. 

    O golpe, que começou com a participação do conservadorismo brasileiro e da quinta-coluna subordinada aos interesses estrangeiros, transmudou-se em ditadura eminentemente militar com a edição do famigerado Ato Institucional Nº 5. Nada mais do que o golpe dentro do golpe, em 13 de dezembro de1968. 

    Vindo de um círculo virtuoso no governo JK e da consagração de um plebiscito cujo resultado largamente majoritário dava ao governo João Goulart o apoio popular para as chamadas Reformas de Base, a interrupção do governo em 1964 legou ao país o atraso institucional, econômico e financeiro que até o presente não se conseguiu superar. 

    O retorno dos golpistas à frente dos quartéis, quase 60 anos depois, é o reflexo mais cristalino do caráter autoritário e anti-povo produzido pelo golpe militar de triste memória. 

     A reconstrução do tecido social brasileiro pós golpe midiático-parlamentar de 2016 e da experiência trágica que foi o governo de ocupação do capitão Jair Bolsonaro exigirá das forças democráticas e progressistas um radical compromisso com a democracia. 

     Só a plena democratização da sociedade permitirá que os setores populares se organizem e exijam os direitos básicos de cidadania. A dolorosa experiência do autoritarismo deve sempre servir de espelho para que não se esqueça. 

    Ditadura Nunca Mais! 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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