171: O homem que falava xavequês!
"Vivia fugido do dono dos quartos em que morava de aluguel no fundo da casa. Estava matando cachorro a grito e jacaré a beliscão"
Desempregado e falido. Andava pela rua largado e fodido. Assim,encontrava-se Ribeiro Prata. Sem dinheiro para tomar café até na pior espelunca caída do centro velho.
Estava tão fodido que seu único terno sabia de cor o caminho do bairro Bonfim, no centro de Belo Horizonte. A magreza também espantava os espelhos dos shoppings.
Vivia fugido do dono dos quartos em que morava de aluguel no fundo da casa. Estava matando cachorro a grito e jacaré a beliscão.
Numa tarde em que a fome era amiga das mais íntimas e seu sapato parecia ter vindo de uma 3° guerra mundial, seus olhos estavam embargados de tão tristes e sem esperanca no futuro, eis que a fada madrinha lhe dá o ar da graca. Avistou um garoto com um panfleto que dizia: precisa-se de um professor de xavequês.Caramba! Taí minha sorte! Isso é minha praia!
Não deve haver um professor melhor que eu nessa matéria. Foi atéa biblioteca pública pesquisar sobre o país do xaveco e a sua língua.Descobriu que esse país foi invadido pelos portugueses no século XV e teve dizimada toda a sua populacão nativa.Comprou um cartão telefônico e ligou para a residência da pessoa que pedia pelo tal professor de xavequês.-Alô,alô...aqui é Ribeiro Prata, o professor de xavequês. Pois,não!
- O senhor pode vir na sexta?
-Qual é o endereco?
-Fica na Pampulha. Você conhece? Aquela lagoa grande.
-Sim. Conheco.
Ele pensou: vou ter que andar a pé toda a Avenida Antônio Carlos.
Serão uns 15 quilômetros de viação canelinha. Como diz a
molecada:Vou de Coluna Prestes. Mas tá de boa!
Chegou no dia marcado suadíssimo,ofegante e com uma fome de Leão. Logo, admirou o tamanho da casa. Em toda sua vida, nunca havia entrado numa casa tão grande, rica e cafona.Era uma casa bem grande, com 15 carros na garagem, segurancas,cachorros enormes e um jardim que parecia do Éden.
Os segurancas deram uma geral daquelas nele. Tá armado aí,vagabundo? Ou, sou professor, meu chapa! Ele ficou puto e ainda esperou por quase duas horas. Tem algo para comer aí, Zé? Aqui não boteco,porra! Ribeiro Prata ficou azul de raiva!
Veio um velho daqueles parecidos com Dom Pedro 2°. A roupa fedia naftalina misturada com phebo.
Perguntou o velho:
- Tu és bom em xavequês?
-Sim. Sou o melhor.
-Onde aprendeu?
-Na televisão. Nas novelas. Nas revistas.
- Certo. Com os parcas da faculdade de direito.
O velho calou-se e chamou seu filho. Um juiz recém-formado.
-Esse será seu aluno. Ele precisa aprender o xavequês para a gente dar um golpe aí no país do xaveco. Lá tem bastante ouro e prata.Beleza.Comeca quando?
-Amanhã.
O velho ficou animado. O curso foi um sucesso. O garoto aprendeu rápido. Deram o golpe. Ribeiro Prata ficou bem na fita. Todo dia almoca no centro o prato do dia. Tomava todas também.
Mas observou um amigo:
- Ribeiro, fala uma coisa aqui pra nós?
-O quê?
Tens certeza que ensinou tudo certo a esse jovem juiz?
Deu uma risada, e disse:
-Claro que não!
-Tô vendo!
- Está dando tudo errado.
- Você é fantástico-disse o amigo!
- Você ainda não viu foi nada,meu amigo!
Ainda o povo não há de passar fome mais no país do xaveco.Vai haver uma rebelião.
Vc ensina tudo,menos o pulo do gato!
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