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    Paulo Kliass

    Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal

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    2020: o ano que nunca termina

    O pensamento único viceja ainda, amplamente, na mídia. Qualquer problema – chove muito ou chove pouco - falta fazer as reformas neoliberais ainda pendentes.

    O nome que a atualidade do pensamento único tem hoje é o tal “custo Brasil”. A Ford não alegou, em nada, as tributações no Brasil. Até foi para a Argentina, onde foi aprovado o imposto às grandes fortunas. A direita de lá, como a de cá, sempre reclama do excesso de impostos. Mas o imposto às grandes fortunas, apoiado por ampla maioria no Congresso, da mesma forma que na Bolívia, tem um amplo apoio na sociedade argentina.

    Aqui, qualquer tema econômico em discussão, ocupam a mídia os comentaristas dos canais ou técnicos do mercado financeiro, diagnosticar de que a Ford vai embora ou a economia não cresce, é devido ao custo Brasil. O que querem dizer com isso? Que ainda não foram aprovados todos projetos propostos por eles, na linha do Estado mínimo, do ajuste fiscal, das desregulamentações.

    No entanto, as reformas da previdência e laboral foram aprovadas. Elas deveriam ir justamente na direção do barateamento dos cursos dos investimentos. A maior parte dos trabalhadores já não tem carteira de trabalho, está relegado à situação de precariedade. O custo da força de trabalho diminuiu drasticamente, às custas da perda de poder aquisitivo dos trabalhadores, incluída a perda de tudo o que está incluído no contrato de trabalho: férias, licença remunerada por gestão ou por acidentes, aposentadoria.

    Em que essa diminuição do custo Brasil ajudou a fazer com que a economia crescesse? Para onde foram os recursos extraídos dos trabalhadores? Certamente não foram para os fundos de investimento, porque não houve aumento dos investimentos, nem retomada do crescimento da economia. Provavelmente foram para a especulação financeira, com acumulação de riqueza, sem geração de empregos.

    Neste caso, quem pagou o custo Brasil foram os trabalhadores, sem que isto tenha revertido para eles, nem para o país.

    Mas talvez o custo Brasil seja outro, esteja em outro lugar. A intermediação financeira é o custo mais alto que o país tem. No total, são 15% do PIB que são canalizados para o capital financeiro, que encarece tudo o que se faz no Brasil.

    A especulação financeira tornou-se a espinha dorsal da economia brasileira na era neoliberal. A atração da Bolsa de Valores é muito maior do que os investimentos produtivos, porque a taxa de juros é mais alta que a taxa de lucros, que vem dos investimentos produtivos. A tributação na Bolsa é muito menor que em outros investimentos, além da liquidez absoluta dos capitais na Bolsa.

    Dessa forma, os custos financeiros são o verdadeiro custo Brasil. Ao invés dos bancos serem um setor de apoio aos investimentos produtivos, à pesquisa, ao consumo, eles funcionam a favor da acumulação financeira, que não gera nem bens, nem empregos.

    O país todo, mas essencialmente os trabalhadores pagam o custo Brasil. Os custos bancários recaem sobre o poder aquisitivo dos salários, sobre o endividamento com os bancos, sobre os empréstimos. No neoliberalismo se dá assim uma financeirização de toda a economia. Quem deve pagará mais; quem necessita não toma dinheiro emprestado, pelo nível alto dos juros a pagar.

    O custo Brasil só deixará de existir, quando uma política econômica antineoliberal termine com o capital financeiro como eixo da economia, para favorecer os investimentos produtivos, a geração de empregos e a expansão do mercado interno de consumo de massas. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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