2418: Fakenews, uma contribuição ao debate
Sem a retomada política e afirmativa de um modelo de sociedade plural, não se vencerá esse embate, que, em parte, está nas redes sociais
A recente queda dos artigos sobre criminalização das Fake news, dentro da lei sobre o Estado de Direito, segue essa pequena contribuição ao debate, muito longe da preciosidade do artigo do querido amigo e mestre, Juarez Tavares Fake news e a responsabilidade na omissão
Este recorte é sobre Política e uma tentativa de compreender por que a extrema-direita e o centrão amam o paraíso terreno das Fake news, uma espécie de verdade invertida que lhes conforta e são o principal método de fazer política da ultradireita.
Há um livro por aí fazendo sucesso, se propõe a analisar a realidade da distopia atual, Engenheiros do Caos (Giuliano de Empoli), na Amazon di: “Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições”
Segundo essa leitura, a base de sustentação bolsonarismo e da extrema direita mundial é a mentira e as teorias da conspiração. Combinada com os algoritmos:
“…O bolsonarismo – extra direita , não tem forma fixa por que não tem escrúpulos nem caráter e por isso cabe em qualquer discurso…”
Esses recortes foram feitas por um amigo, Antônio Machado, num grupo de WhatsApp, que participamos de ex-alunos da Escola Técnica Federal do Ceará e membros do Grêmio.
A resposta que fiz segue..
Desculpe, mas não são as mentiras ou as teorias de conspiração. Isso é a superfície, o método de ação política visível. E os algoritmos são o veículo de disseminação.
A base real é a compreensão de que a forma (continuam na superfície) do capitalismo não responde mais aos anseios da sociedade, a crise geral, sempre descrita como moral, nunca do modo de produção que produz crises cíclicas, não terminais, sob uma leitura marxista.
A extrema-direita, seus ideólogos, líderes e seus acólitos, localizam no Estado/Governo, na forma de representação, a raiz dos problemas, destes extraem como inimigos:
1. Políticos2. Minorias organizadas (identitarismo)3. A corrupção e a decadência moral da sociedade4. Fim dos valores (cristãos)
Compreendo, por essa leitura, de que as fake news não existem para eles (a ultradireita), pois acreditam nelas, mentiras são os nossos discursos e a forma de vida da civilização, a grande teoria da conspiração é o Sistema, seja lá o que isso possa significar.
Penso que não vamos vencê-los politicamente, negando as fakes (elas existem para nós, não para eles), nem tentando esclarecer as tais teorias malucas de conspirações. A ruptura é mais embaixo, a democracia burguesa teve seu auge no chamado de Estado de Bem-estar Social, que surgiu após a crise de 29, e teve seu apogeu na grande reconstrução da Europa e na expansão do capitalismo pela América Latina e Ásia, mas esgotou nos fim dos anos 70. O que coincide com o fim das economias do leste europeu, a forma própria de desenvolvimento, sem que tenha progredido ao socialismo.
A nova roupagem, primeiro neoliberal, que ajudou a derrotar completamente o leste europeu, trouxe, em seu bojo, a enorme crise de 2005-2008, que nos levou ao ultraliberalismo, e todas essas formas de representação da extrema-direita.
Sem a retomada política e afirmativa de um modelo de sociedade plural, democrática, inclusiva, não se vencerá esse embate, que, em parte, está nas redes sociais, mas que parece-me que transcendeu e fato do mundo real.
É, em apertada síntese, como vejo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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