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    Jean Goldenbaum

    Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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    51 milhões de bolsonaristas são realidade

    Compreendamos sem ingenuidade o cenário no qual nos encontramos, e recomecemos a lutar

    Presidente Jair Bolsonaro durante motociata em São Paulo na véspera do 1º turno das eleições 01/10/2022 (Foto: REUTERS/Carla Carniel)

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    Tenho visto desde ontem inúmeras opiniões sobre o que ocorreu ontem. Segue minha concepção sobre nosso atual status.

    É wishful thinking (pensamento ilusório, pensamento desejoso) acreditar que não há 51 milhões de apoiadores do Nazifascismo no Brasil. Há sim. Esta é a segunda eleição de Jair Bolsonaro, um dos principais – possivelmente o principal – representante mundial da ideologia levada ao seu apogeu por Hitler no século XX. Não há desculpas. Todo mundo já sabia e sabe os "valores" do atual presidente. Até mesmo aqui na Alemanha, após quatro anos de luta de minha parte para mostrar quem é de fato Bolsonaro, hoje já não é novidade. Quem votou – desta vez – votou sim conscientemente.

    Precisamos aceitar a realidade: o Brasil é hoje um país com 51 milhões de pessoas que amam o Nazifascismo ou – no mínimo – o aceitam e o preferem a Lula e ao Partido dos Trabalhadores. São ricos que odeiam pobres, são pobres que se odeiam por serem pobres, são brancos que odeiam negros, são negros que se odeiam por ser negros, são homens que odeiam mulheres, são mulheres que se odeiam por serem mulheres. São evangélicos neopentecostais que odeiam não- evangélicos neopentecostais. São homens, mulheres, ricos e pobres que odeiam a comunidade LGBT, os índios e qualquer pessoa que queira ser algo diferente do que eles aceitam. São pessoas que têm nojo dos Direitos Humanos e por isso abraçam há quatro anos com todo seu "amor" o pai da disrupção dos Direitos Humanos. Os números não mentem. São 50 milhões votando pela segunda vez neste tal ser humano.

    O que nos cabe agora é:

    1. Vencer a eleição em 30/10.
    2. Estar pronto para a guerra (de proporção ainda a descobrirmos) que será iniciada pela não-aceitação dos resultados, já prometida por atual presidente.
    3. Garantir que Lula consiga assumir a presidência em 01.01.2023.
    4. Começar no país todo o processo de desbolsonarização, e esperar que a próxima geração (daqui uns bons 25 anos) seja anti-bolsonarista. Foi exatamente isso o que ocorreu na Alemanha, que começou a se ver livre mesmo do Nazismo só a partir de 1968 (23 anos após a morte de Hitler, e quando a geração dos criminosos nazistas já estava começando a envelhecer e seus filhos, já desnazificados, passavam a substituí-los na sociedade).

    Um adendo ainda cabe sobre a temática das pesquisas: por que as pesquisas acertaram quase perfeitamente sobre Lula e erraram grosseiramente sobre Bolsonaro? Resposta: Porque ninguém tem vergonha de assumir que vota em Lula. E entre os fascistas, há de tudo: há o orgulhoso e há o envergonhado, que mente na pesquisa, mas quando se encontra a sós com a urna e quando ninguém o vê, opta com todo prazer pelo ódio. Faz parte do Nazifascismo. Aqui na Alemanha também é assim. Tem muito "nazista enrustido", que não fala nada, sai pela tangente. E na hora H, o AfD recebe mais votos do que pessoas visíveis. Mais uma vez o bolsonarismo faz a cartilha do nazifascismo.

    Enfim, segue o jogo. Há tempos já estamos dentro da esfera da redução de danos. É ingenuidade pensar em Primavera. Primavera foi 2003. E houve jardins lindos. Mas as flores foram violentamente pisoteadas e substituídas por ervas daninhas. Agora é hora de recomeçarmos, e o trabalho é infinitamente mais árduo do que foi em 2003. Então compreendamos sem ingenuidade o cenário no qual nos encontramos, e recomecemos a lutar.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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