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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    6x1 põe em xeque modelo neoliberal destruidor de direitos sociais

    "O trabalhador, sob canga neoliberal, está se vendo claramente superexplorado", escreve César Fonseca

    Brasília (DF), 15/11/2024 - Ato em defesa do fim da jornada 6x1, na Rodoviária do Plano Piloto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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    6x1(seis dias de trabalho, um de descanso) põe em causa a superexploração do trabalho no regime ultra neoliberal que tem por objetivo acumular renda e destruir direitos sociais.

    O mundo real não estava nas cogitações do discurso neoliberal que a própria esquerda consumia com sua política de conciliação de classes.

    De repente, terremoto.

    A luta social está nas ruas fazendo renascer a luta de classe na batalha principal do confronto histórico permanente entre capital x trabalho: a redução da jornada de trabalho com preservação do poder de compra dos salários.

    O assunto é velho na luta social brasileira, desde 1943, na Era Vargas, que criou a CLT.

    Nos sindicatos, no Congresso e nas federações patronais e laborais o assunto redução da jornada de trabalho não morre.

    Ao contrário, no domínio econômico da financeirização, que piora a qualidade de vida dos trabalhadores, diminuindo salários, quanto mais a tecnologia avança, cada vez mais a luta de classe se acirra por conta dos estragos do modelo econômico neoliberal produzidos na classe laboral.

    A destruição da produtividade está relacionada não à maior ou melhor qualificação do trabalho, mas à insuficiência dos salários.

    O poder de compra cadente dos salários reduz a taxa de lucro dos empresários na economia de mercado graças à redução do consumo.

    Sem consumo não há economia competitiva no cenário do subconsumismo.

    Os empresários correm atrás dos subsídios do Estado para compensar a queda da taxa de lucro produzida pelos baixos salários.

    A realidade maior não é discutida na grande mídia corporativa: crescimento exponencial da exploração do trabalho por meio da redução dos salários.

    A uberização é sinônimo de precarização.

    A REALIDADE NA RUA - O projeto 6x1 coloca em discussão essa realidade que diz tudo para os trabalhadores, porque eleva o poder de conscientização política.

    A exploração explodiu na consciência política do trabalhador: ele está esgotado de trabalhar seis dias por semana por baixo salário e descansar apenas um dia a critério do empregador.

    A controvertida palavra de ordem VAP – Vida Além do Trabalho – que elegeu o vereador do PSOL carioca, Rick Azevedo, inspirou a PEC da Deputada Erika Hilton(PSOL-RJ), responsável por mudar a qualidade do debate político,

    Virou atrativo tanto para a esquerda quanto para a direita, centro e ultraradicais anti-trabalhadores, fascistas.

    A classe empresarial brasileira, dominada pela direita conservadora, entrou em transe.

    Do ponto de vista empresarial, a proposta representa mais custo e menos lucros, mas para os trabalhadores significa renda que vai se reverter para a economia capitalista brasileira, dominada pela insuficiência histórica crônica de consumo.

    A polaridade política e ideológica tende a aumentar quanto mais avança a desigualdade social.

    A desigualdade expõe o esgotamento do modelo neoliberal, que passou a predominar de forma absoluta depois do golpe do impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016.

    Ele produziu, com Temer e Bolsonaro, a reforma trabalhista anti Vargas, contestada agora nas ruas pelo movimento contra o 6X1.

    O trabalhador, sob canga neoliberal, está se vendo claramente superexplorado pelo excesso de trabalho somado com salário baixo.

    A LUTA PELO DESCANSO - A qualidade de vida piorada pela exploração neoliberal, a nova escravidão financeira, jurista, especulativa, esgota o bolso e a cabeça dos trabalhadores.

    Por isso, o movimento para mudar a jornada de trabalho ganha cores políticas, porque, afinal, representa ameaça aos poderes mancomunados com o neoliberalismo cuja consequência é a pressão grevista, que pode crescer.

    A disputa da renda no cenário da luta de classe brasileira, no momento, está totalmente aberta, sem controle efetivo do Estado.

    A razão desse acirramento o próprio presidente Lula acaba de expor de forma clara e contundente.

    A estrutura produtiva brasileira, dominada pela elite econômica neoliberal, afirmou, é subsidiada pelo Estado sem correspondência no desenvolvimento econômico sustentável.

    São mais de R$ 500 bilhões em isenções fiscais, subsídios e históricas doações do Estado ao capital para evitar sua bancarrota produzida pelos baixos salários vigentes no mercado.

    Isso sem falar nos R$ 800 bilhões correspondentes aos juros sobre a dívida pública bombeada pelos juros mais altos do mundo.

    O capitalismo brasileiro não produz consumidores, mas sub consumidores, subconsumo, que não garantem a taxa de lucro esperada pelo capitalista.

    Por isso, o capitalista, atacado pelo vírus do subconsumismo nacional, toma do Estado R$ 500 bilhões em subsídios para compensar a queda da taxa de lucro devido à insuficiência do poder de compra da população afetada pela superexploração do trabalho.

    REFORMA TRABALHISTA VIRA EMPECILHO - A reforma trabalhista reduz os custos do trabalho, mas do ponto de vista da economia como um todo, diminuiu o poder de compra da população.

    A demanda global cai porque a renda cai com a reforma neoliberal Temer/Bolsonaro.

    Quem ganha é o capital porque reduz custo de contratação e manutenção de mão de obra, elevando a mais valia – trabalho não pago – sobre o trabalhador, raiz do subconsumismo.

    O poder de compra subjugado na exploração do trabalhador cobra agora reparação no protesto contra a escala 6x1.

    O movimento 6x1 é um grito agudo contra a superexploração do trabalho e o privilégio dos ricos subsidiados pelo Estado para garantir a sobrevivência deles no rastro da miséria dos trabalhadores. 

    MOBILIZAÇÃO PARLAMENTAR - De repente, todos os partidos aceleram o debate do assunto no Congresso para que não seja engolido pela pressão popular nas ruas e redes sociais.

    A mobilização popular contra o 6X1 no feriado de Proclamação da República foi um alerta que tende a crescer.

    O trabalhador despertou para a urgência de interromper a superexploração salarial denunciada na PEC da deputada Erika Hilton.

    E os capitalistas diante da disposição dos trabalhadores já querem confinar o assunto no âmbito parlamentar, onde a coisa não andaria para esvaziar o movimento no trâmite legislativo, dominado pela direita e ultradireita reacionárias.

    O fato, no entanto, é que se as ruas enchem de manifestantes fazendo barulho crescente, muda radicalmente o cenário da disputa eleitoral em 2026.

    Nasce outra dinâmica política impulsionada pelo protesto contra a desigualdade social, ampliando o movimento 6x1 em todo o país, a se expressar em escalada cibernética.

    Os trabalhadores entram na era cibernética para alcançar suas reivindicações, copiando as aulas da direita na disseminação de fake News.

    O projeto é uma obra política aberta pela qual vai se movimentar nas ruas e nas redes entidades civis, militares e religiosas, de agora em diante, ganhando corpo.

    Como se trata de uma causa mobilizadora, como demonstra a excitação partidária no Congresso e o atrativo da mídia eletrônica em geral, direita, esquerda, centro etc., ninguém quer ficar de fora.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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