6x1 põe em xeque modelo neoliberal destruidor de direitos sociais
"O trabalhador, sob canga neoliberal, está se vendo claramente superexplorado", escreve César Fonseca
6x1(seis dias de trabalho, um de descanso) põe em causa a superexploração do trabalho no regime ultra neoliberal que tem por objetivo acumular renda e destruir direitos sociais.
O mundo real não estava nas cogitações do discurso neoliberal que a própria esquerda consumia com sua política de conciliação de classes.
De repente, terremoto.
A luta social está nas ruas fazendo renascer a luta de classe na batalha principal do confronto histórico permanente entre capital x trabalho: a redução da jornada de trabalho com preservação do poder de compra dos salários.
O assunto é velho na luta social brasileira, desde 1943, na Era Vargas, que criou a CLT.
Nos sindicatos, no Congresso e nas federações patronais e laborais o assunto redução da jornada de trabalho não morre.
Ao contrário, no domínio econômico da financeirização, que piora a qualidade de vida dos trabalhadores, diminuindo salários, quanto mais a tecnologia avança, cada vez mais a luta de classe se acirra por conta dos estragos do modelo econômico neoliberal produzidos na classe laboral.
A destruição da produtividade está relacionada não à maior ou melhor qualificação do trabalho, mas à insuficiência dos salários.
O poder de compra cadente dos salários reduz a taxa de lucro dos empresários na economia de mercado graças à redução do consumo.
Sem consumo não há economia competitiva no cenário do subconsumismo.
Os empresários correm atrás dos subsídios do Estado para compensar a queda da taxa de lucro produzida pelos baixos salários.
A realidade maior não é discutida na grande mídia corporativa: crescimento exponencial da exploração do trabalho por meio da redução dos salários.
A uberização é sinônimo de precarização.
A REALIDADE NA RUA - O projeto 6x1 coloca em discussão essa realidade que diz tudo para os trabalhadores, porque eleva o poder de conscientização política.
A exploração explodiu na consciência política do trabalhador: ele está esgotado de trabalhar seis dias por semana por baixo salário e descansar apenas um dia a critério do empregador.
A controvertida palavra de ordem VAP – Vida Além do Trabalho – que elegeu o vereador do PSOL carioca, Rick Azevedo, inspirou a PEC da Deputada Erika Hilton(PSOL-RJ), responsável por mudar a qualidade do debate político,
Virou atrativo tanto para a esquerda quanto para a direita, centro e ultraradicais anti-trabalhadores, fascistas.
A classe empresarial brasileira, dominada pela direita conservadora, entrou em transe.
Do ponto de vista empresarial, a proposta representa mais custo e menos lucros, mas para os trabalhadores significa renda que vai se reverter para a economia capitalista brasileira, dominada pela insuficiência histórica crônica de consumo.
A polaridade política e ideológica tende a aumentar quanto mais avança a desigualdade social.
A desigualdade expõe o esgotamento do modelo neoliberal, que passou a predominar de forma absoluta depois do golpe do impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016.
Ele produziu, com Temer e Bolsonaro, a reforma trabalhista anti Vargas, contestada agora nas ruas pelo movimento contra o 6X1.
O trabalhador, sob canga neoliberal, está se vendo claramente superexplorado pelo excesso de trabalho somado com salário baixo.
A LUTA PELO DESCANSO - A qualidade de vida piorada pela exploração neoliberal, a nova escravidão financeira, jurista, especulativa, esgota o bolso e a cabeça dos trabalhadores.
Por isso, o movimento para mudar a jornada de trabalho ganha cores políticas, porque, afinal, representa ameaça aos poderes mancomunados com o neoliberalismo cuja consequência é a pressão grevista, que pode crescer.
A disputa da renda no cenário da luta de classe brasileira, no momento, está totalmente aberta, sem controle efetivo do Estado.
A razão desse acirramento o próprio presidente Lula acaba de expor de forma clara e contundente.
A estrutura produtiva brasileira, dominada pela elite econômica neoliberal, afirmou, é subsidiada pelo Estado sem correspondência no desenvolvimento econômico sustentável.
São mais de R$ 500 bilhões em isenções fiscais, subsídios e históricas doações do Estado ao capital para evitar sua bancarrota produzida pelos baixos salários vigentes no mercado.
Isso sem falar nos R$ 800 bilhões correspondentes aos juros sobre a dívida pública bombeada pelos juros mais altos do mundo.
O capitalismo brasileiro não produz consumidores, mas sub consumidores, subconsumo, que não garantem a taxa de lucro esperada pelo capitalista.
Por isso, o capitalista, atacado pelo vírus do subconsumismo nacional, toma do Estado R$ 500 bilhões em subsídios para compensar a queda da taxa de lucro devido à insuficiência do poder de compra da população afetada pela superexploração do trabalho.
REFORMA TRABALHISTA VIRA EMPECILHO - A reforma trabalhista reduz os custos do trabalho, mas do ponto de vista da economia como um todo, diminuiu o poder de compra da população.
A demanda global cai porque a renda cai com a reforma neoliberal Temer/Bolsonaro.
Quem ganha é o capital porque reduz custo de contratação e manutenção de mão de obra, elevando a mais valia – trabalho não pago – sobre o trabalhador, raiz do subconsumismo.
O poder de compra subjugado na exploração do trabalhador cobra agora reparação no protesto contra a escala 6x1.
O movimento 6x1 é um grito agudo contra a superexploração do trabalho e o privilégio dos ricos subsidiados pelo Estado para garantir a sobrevivência deles no rastro da miséria dos trabalhadores.
MOBILIZAÇÃO PARLAMENTAR - De repente, todos os partidos aceleram o debate do assunto no Congresso para que não seja engolido pela pressão popular nas ruas e redes sociais.
A mobilização popular contra o 6X1 no feriado de Proclamação da República foi um alerta que tende a crescer.
O trabalhador despertou para a urgência de interromper a superexploração salarial denunciada na PEC da deputada Erika Hilton.
E os capitalistas diante da disposição dos trabalhadores já querem confinar o assunto no âmbito parlamentar, onde a coisa não andaria para esvaziar o movimento no trâmite legislativo, dominado pela direita e ultradireita reacionárias.
O fato, no entanto, é que se as ruas enchem de manifestantes fazendo barulho crescente, muda radicalmente o cenário da disputa eleitoral em 2026.
Nasce outra dinâmica política impulsionada pelo protesto contra a desigualdade social, ampliando o movimento 6x1 em todo o país, a se expressar em escalada cibernética.
Os trabalhadores entram na era cibernética para alcançar suas reivindicações, copiando as aulas da direita na disseminação de fake News.
O projeto é uma obra política aberta pela qual vai se movimentar nas ruas e nas redes entidades civis, militares e religiosas, de agora em diante, ganhando corpo.
Como se trata de uma causa mobilizadora, como demonstra a excitação partidária no Congresso e o atrativo da mídia eletrônica em geral, direita, esquerda, centro etc., ninguém quer ficar de fora.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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