8 de janeiro: uma lição para nunca mais
Investigações processadas pelo judiciário dão conta do recado. Mostram que um povo determinado a ser digno não deve transigir
Como uma nação lida com seus traumas? Pode esquecê-los, jogá-los para baixo dos tapetes, fingir que não aconteceram. E corre o risco de se repetir, evitando implementar dispositivos que lhes cerceiem os efeitos e reprimam consequências. Um desses traumas (arrasadores, violentos), a Europa os viveu por ocasião da II Grande Guerra, quando a humanidade tomou conhecimento dos horrores e misérias do III Reich. Inclinou-se então no sentido de ativar a memória e não deixar que se apagasse. Sabia-se que os comportamentos humanos apresentam desejos de reincidência, com perigos para inocentes e descendentes. Dois registros se efetivaram na ocasião. Os filmes de Alain Resnais incluem Toda a memória do mundo (Toute la mémoire du monde) e Noite e bruma (Nuit et brouillard). Fazia-se o balanço do que ocorrera nos campos de concentração e do morticínio “científico” lá implementado.
Para não se reduzir a isso, sucessivas administrações na Prefeitura de Paris consignaram lugares para assinalá-los na paisagem urbana, com a citação dos que tombaram na luta contra o nazismo e seus algozes.
No país historicamente novo em que habitamos, traumas igualmente nos cercam, sem que saibamos exatamente como proceder. No entanto, dispomos de universidades e instituições de pesquisa com densidade bastante para impedir que escorram pelos ralos. Além disso, não nos falta maturidade para discernir entre as vontades de prevenir e de perdoar, dependendo da gravidade do que se passou. O 8 de janeiro, com suas cenas de vandalismo e apelos por golpes de Estado, persiste em nosso imaginário com a certeza de que não podemos nos colocar com leviandade diante deles. Imagens de destruição, conjugadas a pequenas multidões (com Lula e autoridades à frente) rumando para as sedes dos três poderes, num balanço e numa comemoração pelos que se determinavam a resistir, abriram espaço em nosso psiquismo para não sair.
Investigações processadas pelo judiciário dão conta do recado. Mostram que um povo determinado a ser digno não deve transigir. Culpados pelo vandalismo e lideranças irresponsáveis que escorreguem nas brumas de seus segredos pessoais. À luz do dia e na contramão da História, não. É, portanto, prudente que os responsáveis percebam a importância do papel a desempenhar, quando o que permanece em jogo gira em torno da ideia de felicidade e bem-estar.
Claro que os efeitos mais devastadores do dia fatídico, reverberando crimes contra a democracia, ficaram para trás. Não devem ser revividos. Contudo, a defesa dos nossos parâmetros de cidadania se revela presente. Nem o choro dos culpados, nem a tolerância dos moderados de plantão podem superar os grandes mestres quando o que salta aos olhos é a necessidade de não se repetir. Por isso, existem os braços da justiça. Que o 8 de janeiro grave a sua data na História não é pedir apenas o suficiente. Chega de barbárie! Fraternidade, sim. Fascismo, não! São lições para não esquecer.
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