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    Luis Felipe Miguel

    Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). Os textos reproduzidos nesta coluna são postados originalmente no Facebook do autor

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    A aposentadoria para o capital e para o trabalho

    "O que a nova campanha do Jornal Nacional, restaurado em sua velha condição de Jornal Oficial, revela é a disputa sobre o significado da aposentadoria para o capital e para o trabalho. Para o capital, a aposentadoria é o descarte de uma mão de obra inservível", escreve o cientista político Luis Felipe Miguel, em texto publicado em seu Facebook; "Temos a possibilidade de nos encaminhar para a uma 'sociedade do tempo liberado': jornadas menores, aposentadorias mais precoces. Para isso, precisamos de mais igualdade e menos consumismo. É uma utopia, um horizonte para o futuro, não está ao alcance da mão. Mas as 'reformas' do governo Temer - jornada maior, aposentadoria mais longínqua e mais precária - vão na contramão e nos recolocam no mundo do trabalho do início do século XIX", afirma

    Idosos, Temer, reforma da previdência, aposentadoria (Foto: Luis Felipe Miguel)

    O que a nova campanha do Jornal Nacional, restaurado em sua velha condição de Jornal Oficial, revela é a disputa sobre o significado da aposentadoria para o capital e para o trabalho.

    Para o capital, a aposentadoria é o descarte de uma mão de obra inservível. Se ainda tem condições de produzir, quanto mais de se divertir, deve estar a serviço do capital, seja trabalhando, seja no exército de reserva. Só quando perde essas condições tem direito ao "descanso".

    Para o trabalhador, a aposentadoria é uma espécie de alforria. Por isso, é precioso obtê-la quando ainda há saúde e energia - e com condições materiais dignas. Significa a possibilidade de usufruir de alguns anos de autonomia, em que é possível investir em projetos próprios (e uso "investir", aqui, no sentido existencial, não financeiro). Muitas vezes, não é possível aproveitar tal oportunidade, seja pela ausência das condições materiais citadas, seja porque nossa sociedade não dá estímulo ou apoio. Mas essa esperança está presente em cada trabalhador. Mesmo quem tem o privilégio de ser assalariado em funções mais criativas sonha com essa autonomia; ainda mais a maioria de empregados em trabalhos monótonos e desprovidos de desafio.

    O trabalhador que envelhece quer se divertir, sim, mas livremente, não por imposição de um patrão.

    Lembro das obras de André Gorz, que assinalava que a produtividade do trabalho é cada vez maior, logo menos horas de trabalho humano produzem tudo o que é necessário para nossa vida. Temos a possibilidade de nos encaminhar para a uma "sociedade do tempo liberado": jornadas menores, aposentadorias mais precoces. Para isso, precisamos de mais igualdade e menos consumismo. É uma utopia, um horizonte para o futuro, não está ao alcance da mão. Mas as "reformas" do governo Temer - jornada maior, aposentadoria mais longínqua e mais precária - vão na contramão e nos recolocam no mundo do trabalho do início do século XIX.

    Publicado originalmente em seu Facebook

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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