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    Walmir Damasceno

    Coordenador geral do Ilabantu (Instituto Latino Americano de Tradições Bantu), dirigente tradicional do terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, representante na América Latina do Centro Internacional das Civilizações Bantu (Ciciba).

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    A ascensão da direita e o dilema da esquerda

    Em 2026, a esquerda poderá ter uma chance de reverter o quadro, mas para isso precisará abandonar velhas práticas

    Urna eleitoral (Foto: Cristiano Lima)

    As recentes eleições municipais no Brasil trouxeram à tona um quadro preocupante para a esquerda política. Enquanto a direita avança, consolidando sua presença nos principais municípios do país, a esquerda, por sua vez, parece cada vez mais distante das suas bases, perdendo terreno em diversos cantos do Brasil.

    O resultado das eleições revelou uma forte ascensão das candidaturas de direita, que obtiveram vitórias expressivas em diversas capitais e cidades estratégicas. Esse crescimento da direita é impulsionado não apenas por um contexto de insatisfação popular, mas também pela crescente habilidade do campo conservador de ocupar e dominar os espaços virtuais e as redes sociais, um terreno que tem sido historicamente negligenciado pela esquerda.

    Por outro lado, a esquerda se vê em um momento de crise. O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT, segue sendo o maior representante da esquerda, mas a dependência do ex-presidente para liderar as discussões políticas tem se mostrado um fardo. A falta de novas lideranças dentro da esquerda, além da ausência de um projeto coeso que dialogue com as novas demandas da sociedade, contribui para o isolamento do campo progressista.

    Além disso, o distanciamento das bases, que antes eram seu pilar de sustentação, é cada vez mais notável. Muitos dos problemas urbanos que afetam as populações mais pobres, como o desemprego, a violência e a falta de moradia, não têm encontrado respostas eficazes por parte dos governos de esquerda. A crescente alienação das camadas populares e a dificuldade de apresentar propostas concretas contribuem para o desgaste da imagem da esquerda.

    No campo digital, a direita tem se mostrado muito mais ágil e eficiente, utilizando as redes sociais para construir narrativas, engajar eleitores e se comunicar diretamente com a população. Enquanto isso, a esquerda ainda patina em suas tentativas de se adaptar a esse novo cenário, com campanhas muitas vezes desconectadas da realidade dos cidadãos.

    O Caminho para 2026: Uma Reflexão Necessária

    O cenário político traçado pelas eleições municipais oferece lições valiosas para as eleições gerais de 2026. A esquerda precisa urgentemente repensar sua estratégia, caso queira recuperar o terreno perdido. A reconstrução da relação com as suas bases, especialmente os jovens e as classes populares, deve ser prioridade. 

    Uma das principais soluções passa pela renovação da liderança. A esquerda precisa urgentemente formar novas figuras políticas, capazes de articular um projeto que dialogue com a realidade atual do país, sem abrir mão dos princípios que a fundamentam. Há uma necessidade urgente de uma nova narrativa, que não se baseie apenas em críticas à direita, mas que apresente alternativas concretas e eficazes.

    A esquerda também deve investir mais na ocupação do espaço digital, utilizando as redes sociais para se conectar diretamente com o povo. Isso implica em maior investimento em comunicação e em criar uma presença autêntica, que não seja apenas reativa, mas proativa na construção de discussões políticas.

    Outro ponto fundamental é a reaproximação com os movimentos sociais e populares, muitas vezes esquecidos nos últimos anos. A esquerda precisa voltar a ser a voz dos trabalhadores, das periferias e das minorias, e não apenas se limitar ao debate elitizado das grandes cidades.

    Em 2026, a esquerda poderá ter uma chance de reverter o quadro, mas para isso precisará abandonar velhas práticas e se adaptar ao novo contexto político e social. O desafio é grande, mas as possibilidades também são imensas. Para isso, é preciso coragem e inovação, além de uma escuta atenta às reais necessidades da população.

    * Walmir Damasceno (Tata Nkisi Katuvanjesi), coordenador nacional do ILABANTU, representante para América Latina e Caribe do Centro Internacional de Civilizações Bantu (CICIBA), autoridade tradicional da Comunidade de Matriz Centro Africana Terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de São Paulo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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