A ciência não pode sair do ministério da saúde
O presidente Lula está sofrendo pressão para entregar o ministério da saúde e seus cargos para ter maioria na Câmara dos Deputados
Durante quatro anos, vivemos um verdadeiro pesadelo anticientífico. Na Presidência da República e na maior parte do tempo no ministério da saúde, tivemos propagadores da morte. Infelizmente, isso ocorreu justamente durante o maior desafio de nossas vidas, o que nos custou a perda de milhares de irmãs e irmãos brasileiros. As decisões políticas têm consequências e este é o alerta do momento.
Para nós, trabalhadores da saúde e defensores do Sistema Único de Saúde (SUS), a ministra Nísia Trindade representa reconquista, esperança e, sobretudo, ciência. É uma chance histórica de fortalecimento do SUS. A ministra cercou-se nos principais cargos de alguns dos melhores quadros atuais que o movimento sanitarista brasileiro conseguiu produzir.
O presidente Lula está sofrendo pressão para entregar o ministério da saúde e seus cargos para ter maioria na Câmara dos Deputados. Se perguntarmos ao povo brasileiro se quer ter no MS uma profissional respeitada pelos colegas e pela academia ou uma aposta qualquer, é cristalino que não há dúvidas sobre a escolha.
Na pandemia, dirigi o centro de operações de emergência em saúde do meu estado, o Amapá. O ministro de então, suposto especialista em logística, confundiu AP com AM e trocou as remessas de vacinas. São coisas mínimas que, na prática, são máximas.
O retorno do Zé Gotinha com a campanha nacional de imunização, do programa “Mais Médicos” que ousa democratizar o acesso a uma consulta médica para os lugares mais remotos do país, a ocupação de postos estratégicos por profissionais qualificados, não podem dar lugar para a pequena política.
Compor governos de coalizão para garantir estabilidade na condução política é parte da democracia. Mas aceitar de forma omissa que interesses pouco nobres se sobreponham ao interesse da maioria da população, não é razoável.
Gostaria de conclamar, pedir e apelar às entidades dos movimentos sociais, da saúde, instituições, partidos políticos, colegas parlamentares e ao conjunto da sociedade, que sejamos a pressão contrária pela permanência da ministra Nísia e da ciência no comando do Ministério da Saúde.
O Presidente Lula não pode ceder.
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