A classe baixa está comendo no cartão de crédito!
Por fim, Jesus está fora do orçamento dos palácios, dos presépios, das festas de natal
247 - Os evangelhos propriamente ditos são narrativas as quais se contrapõem a um panfleto oficial da época sobre O nascimento do rico Imperador Augusto, cujo propagandístico do Império inundava as regiões pobres para enaltecer o mandatário.
Prodigiosos nas letras, os evangelistas esculacham o texto oficial em paródia crítica, transmitindo às comunidades primitivas a ironia frente à realidade: o nascimento de pobre é rejeitado por este mundo hostil, José correu o trecho todo e teve que se aquietar num estábulo fétido. A manjedoura, um cocho de os animais comerem, foi forrado para a personificação divina de uma criança, onde se via em volta uma armação rústica para refúgio de alimárias.
A família de Nazaré completamente fora do orçamento, mal apresentada e invasora, numa viagem forçada pelo édito do Imperador, de um José que poderia ser um meliante àquelas horas da noite, mesmo assim, nasceu-lhe o menino, sobrevivente de muitas batidas policiais de Herodes até a crucifixão.
Para simplificar, pobre nunca esteve no orçamento! José fica por conta e risco das quebradas, donde o podem lançar de uma ponte e socorrido por anjos de rua. É usual a expressão “caçá um di cumê”, ou seja, enquanto os ricos se refestelam o pobre tem de acudir da fome visceral com um calango que pula no capim, restos no lixão, uma serralha ou fruta de beira e matar a sede no açude. Os pobres fazem curso de pedreiro, treinam para gari ou entram na polícia, mas ai se lhes derem acesso a um diploma de doutor. Os ricos torcem o nariz! O proUni e o bolsa família é um escândalo, alardeiam. O pobre ganha o bolsa família e ainda faz bico! Ou vão na faculdade para fumar um “baseado” e estudar de graça! – criminalizando-os. Contudo, pobre faz bico e vai ao mercadinho, rico faz “serviços por fora” para investir em offshore, para fugir dos impostos. No Brasil, os ricos, deputados com seus orçamentos crescentes, altos escalões e generais têm seus ganhos enormes de benefícios que furam o teto. Dizem esses aquinhoados que é por “meritocracia”. Aos pobres não, forçam o corte de gastos. O orçamento suporta muita coisa aos ricos e bem pouco ou nada aos pobres.
Dizem ao povão que não se pode gastar mais do que se arrecada, como lei de economia. Bem sabemos que o país rico em que vivemos avaliza educação, saúde, aposentadoria e direitos de um país de primeiro mundo. Os ricos, e não o povaréu, estão no orçamento, essa gente graúda estoura a economia do país com refinanciamento ad aeterno de suas dívidas – sempre estão devendo, até o IPTU, ainda que donos de uma fortuna em imóveis, subsídios para gastança, com isenções de impostos aos seus jatinhos, jet-skis, iates e vidas de luxo. Entretanto, a classe baixa está comendo no cartão de crédito!
De que lado estão esses ricos? Do deles, tonto. Ricos são intocáveis, veja se foi aprovado o imposto de suas grandes fortunas, se diminuíram alguns centavos de suas regalias, ou passaram a pagar impostos. Quando pagam com uma mão, recebem com a outra.
Por fim, Jesus está fora do orçamento dos palácios, dos presépios, das festas de natal e das igrejas. Quando acordar, o presépio ainda estará no mesmo lugar, inerte, desumanizado e benzido com espanador.
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