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    Arnóbio Rocha

    Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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    A conspiração consumista

    "Empresas entopem as pessoas de opções, das mais caras às mais simples, sofisticadas ou bugigangas, o que importa é ter lançamentos e vender", diz Arnóbio Rocha

    (Foto: Reuters/Eduardo Munoz)

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    O perturbador documentário da Netflix, A Conspiração Consumista é uma porrada, um alerta contra o consumismo desenfreado e suas consequências catastróficas para o planeta, meio ambiente e futuro da humanidade. Revela a perversão das empresas, principalmente das grandes marcas, seu poder ilimitado, nenhum respeito pela urgência climática, nem com a verdade sobre suas práticas danosas, fiz apenas anotações gerais, para roteiro e é fundamental que seja visto e debatido, a verdade por trás do poder tirano das big techs, da submissão das pessoas à elas, e a omissão/conivência do Estado.

    O Documentário é estruturado em 5 tópicos e tem como fio condutor as falas de Maren Costa (Amazon – Design do Site) uma ex-trabalhadora da Amazon, que criou visualmente o site de vendas, um dos mais poderosos do mundo, mais lucrativo e como desenvolveu a tática do ultra consumo comum “um clique”, a indução e a adrenalina para comprar e mesmo que não se precise, compra-se mais e mais. Sigamos o fluxo do documentário:

    1. Compre Mais - As empresas entopem as pessoas de opções, das mais caras às mais simples, sofisticadas ou bugigangas, o que importa é ter lançamentos e vender, alguns números:

    a) GAP 12 mil lançamentos por ano;

    b) H&M 25 mil lançamentos por ano;

    c) Zara 36 mil lançamentos por ano;

    d) Shein 1.3 milhões lançamentos por ano.

    São 100 bilhões de peças de roupas por ano que estão nas prateleiras, principalmente online, a Shein mudou a forma de vender e de seduzir com preços baixíssimos e produtos descartáveis, que pesam pouco no bolso e aplacam a ansiedade por compras. Os números de consumos espantam, a Unilever tem 3 bilhões de consumidores de seus produtos:

    60 milhões de sapatos por dia

    1.65 milhões de celulares dia

    190 mil peças de roupas por minuto

    12 mil kg por segundo de plástico

    2. Desperdice Mais - Para se manter essa lógica absurda de comprar mais é preciso que seja combinada com o descarte irresponsável, o desperdício, pois um alimenta o outro de forma infinita, são 13 milhões de celulares descartados todos os dias, as empresas têm práticas abusivas para que seus produtos durem pouco, Apple tenta proibir consertos de Iphone, como se fosse patente, mudou o modelo de parafusos, para impedir que ferramentas comuns pudessem desparafusar. Os Air Pods não permitem trocar bateria do carregador nem do fones, 18 meses a 2 anos de uso. os males se revelam trágicos quando se sabe que 2 bilhões de kg de produtos (não usados/vendidos) ano viram lixo da Amazon nos EUA.

    3. Minta Mais - As pessoas confiam mais nas empresas e seus produtos do que nas instituições, a conquista se deu por um marketing extremamente sutil, mas, ao mesmo, agressivo, onde a mentira é a regra, por exemplo na questão da reciclagem, a imensa maioria dos produtos não são recicláveis e não há uma cadeia de reciclagem, ou seja, viram lixo tóxico, especialmente os de plásticos. As pessoas pensam que as empresas efetivamente estão fazendo coisas boas pelo planeta, pela natureza.

    Poucas empresas realmente fazem produtos com responsabilidade fim a fim, gastam mais em propaganda sobre a ficção de proteção do meio ambiente, do que na proteção efetiva. A reciclagem de plásticos quase não existe, pois a maioria das embalagens e de produtos menos de 10% efetivamente são recicladas, além de descartáveis com pouco uso. Quase toda embalagem ostenta símbolos de reciclagem, uma mentira torpe: são 450 milhões de toneladas de lixo anual, 50 milhões de toneladas em produtos eletrônicos.

    4. Esconda mais - As marcas, principalmente as mais famosas, mandam seus lixos para países pobres, a “reciclagem” é o descarte para que sumam da vista dos ricos, o que não se vê, não existe, elas ficam bem com seus elegantes consumidores, parecem que têm responsabilidade sócio-ambiental, o que é uma evidente fraude, o que importa é esconder, não seja rastreável o caminho para burlar, usam contêiner em portos para envio com notas frias como se fosse produtos para doações aos pobres.

    Esses produtos (muitos não usados) causam problemas graves nos países pobres,  produtos eletrônicos principalmente, com componentes tóxicos, metais pesados que podem causar câncer e uma variada gama de doenças, quase tudo acaba em lixões e ou no mar, os oceanos, fonte de produção de vida, estão sendo mortos pela descarga de lixos, matam o ecossistema, aquele o planeta, mas as marcas fingem não saber.

    Amazon reprimiu funcionários que se organizaram por melhorias internas na defesa do meio ambiente. Centenas de trabalhadores e trabalhadoras se demitiram coletivamente, quando fariam o anúncio, Jeff Bezos fez uma coletiva de imprensa anunciando que a Amazon cumpriria o acordo de Paris sobre o Clima, o que foi apenas para esvaziar a repercussão.

    5. Controle Mais - As grandes corporações convencem as pessoas que  estão comprometidas em resolver os problemas ambientais e sociais para isso o Controle começa dentro da organização uma imposição mental de controle sobre a vontade de cada funcionário e nos níveis mais altos da hierarquia, na Amazon quando firmou o compromisso com a agenda climática, ela cortou 1% da agressão ao meio ambiente, 5 anos depois ela estava poluindo 40% a mais, pelo seu crescimento.

    A Amazon passou a perseguir mais diretamente os líderes, demitindo e tentando destruir suas reputações.

    Vale demais assistir e repensar hábitos e práticas.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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