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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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    A conspiração rendida

    Só lhes resta doravante abaixar a crista e aceitar o peso da justiça, como deu a entender o Braga Netto na incômoda cena de sua detenção

    Braga Netto e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)

    Que conspirem contra a estrutura do Estado, depois de uma eleição, não surpreende. Afinal escrevemos uma história recheada de episódios semelhantes, com desfechos lamentáveis. Surpreende, talvez que, desta feita, a façanha girasse em torno de um personagem que não se destacava nem pelo brilho, nem pela esperteza, nem pela linguagem, cujos discursos só se caracterizavam pelas palavras de baixo calão. É verdade que o mesmo desde o início se apresentou como um outsider, provido de uma carreira militar tumultuada e premiada com a pena de reserva para não sofrer outras consequências. Isso para não mencionar a atuação na Câmara dos Deputados, com sucessivos mandatos transcorridos em brancas nuvens. Não colocaremos os fatos do 8 de janeiro (e seus desdobramentos) em nenhum panteão de histórias para contar, nem para os contemporâneos, nem para os netos dos bisnetos. 

    Mesmo assim, apesar do conteúdo raso que ronda a carreira do capitão renegado, é certo que mobilizou um conjunto de pessoas, incluindo fardados de alta patente, no seu aventureirismo. Custando ou não a crer, a Polícia Federal realizou investigações inquestionáveis, tornando viável um bom número de prisões preventivas. Alguns se espantam diante de um general de quatro estrelas ter se envolvido na trama. Que fazer?... O cérebro humano possui um cadastro povoado por tais anomalias e as exibe, não sem frequência, cada vez que um grupo se reúne para se propor aos absurdos. Agora entram os advogados para nos submeter a arranjos de argumentação e se possível convencer juízes do Supremo de que o certo estava errado e vice-versa. Não lhes cabe uma tarefa simples. Rendida, a conspiração perderá o encanto e terminará se reduzindo ao que verdadeiramente é e sempre foi: manobra em torno do poder para usá-lo à sua vontade. 

    Aos estudiosos da  política, incluindo Machiavel, não escapa a excruciante máxima segundo a qual uma parcela da população não deve, a não ser por delegação da maioria, impor nomes e costumes à revelia da Constituição. Bolsonaro e seus asseclas não passavam de um grupo de inconformados, sem lastro para façanhas de maior destaque. Só lhes resta doravante abaixar a crista e aceitar o peso da justiça, como deu a entender o Braga Netto na incômoda cena de sua detenção.  

    Revendo os desatinos do 8 de janeiro e semanas posteriores, não há como negar que as multidões na porta dos quarteis jamais se traduziram realmente em manifestação de massa. Pareciam setores de classe média, primos e parentes, aguardando que lhes viessem em socorro. Esperaram em vão. No fim, com o rabo entre as pernas, se recolheram, orientados pelo comando. Ficou-nos a triste memória. E a convicção de que ditadura nunca mais. Do início ao fim, lhes faltou coragem. Quanto ao líder? Reza todos os dias, de joelhos, torcendo para que o perdoem Lula e Alexandre de Moraes. Melhor se sentar. Desta vez, NÃO. Será sem anistia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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