A crítica construtiva de Pedro Dallari ao Brics
É inquestionável a pertinência das observações do professor.
Ouvir Carlos Alberto Sardenberg na rádio CBN é quase sempre uma experiência soporífera. Nesta quinta-feira (24), ele derramou lamúrias por causa do crescimento do Brics. Na visão do neoliberal, a ampliação do bloco irá tão somente atender aos objetivos expansionistas da China contra o predomínio global dos Estados Unidos.
Deixando Sardenberg de lado, ninguém em sã consciência pode contestar o ganho de força do Brics e o potencial de colaboração econômica mútua com o ingresso de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. Porém, cabem críticas às discussões que o grupo tem levado a cabo, especialmente na cúpula de Joanesburgo.
Quando construtivas, críticas podem, pleonasticamente, ajudar a construir. Análises como a do professor Pedro Dallari, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, vêm em boa hora. Dallari as fez no programa Globalização e Cidadania, da Rádio USP, e depois conversou com este colunista.
Para Dallari, a ausência de Vladimir Putin em Joanesburgo, impedido pela ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional, é emblemática do calcanhar de Aquiles do Brics: a não-discussão dos direitos humanos.
Eis o professor Dallari: “Vários fatores contribuem para que a pauta dos direitos humanos esteja excluída dos debates na reunião dos Brics: a falta de interesse dos países participantes, inclusive o Brasil, em condenar a Rússia e Putin pelo terrível flagelo imposto à população ucraniana, o fato de que a China tem se pautado por ações sistemáticas de violação de direitos humanos e a ampliação dessa aliança política através da incorporação de países que também desrespeitam os direitos humanos de forma contumaz - como a Arábia Saudita”.
De fato, em Joanesburgo enfatizou-se apenas o fortalecimento da parceria entre os membros para a aceleração do crescimento, o multilateralismo inclusivo e, de modo vago, o desenvolvimento sustentável. Nada de direitos humanos.
“À medida que a universalidade dos direitos humanos é o fundamento da urgência no equacionamento das grandes crises da atualidade - como o aquecimento global, a ameaça nuclear, o surgimento de novas pandemias e os riscos decorrentes da inteligência artificial -, essa postura dos Brics parece completamente desvinculada do quadro de emergência global. E deve ser motivo de muita preocupação”, ressaltou Pedro Dallari.
É inquestionável a pertinência das observações do professor.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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